Monsanto obtém acesso à mais poderosa ferramenta de edição genética no mundo
A empresa de agricultura Monsanto adquiriu um licenciamento mundial não-exclusivo do Broad Institute, do MIT, e de Harvard envolvendo o sistema de edição genética CRISPR/Cas9. A empresa vai usá-lo para projetar e desenvolver novas sementes e plantas, mas há restrições importantes para evitar que a Monsanto abuse desta tecnologia revolucionária.
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A tecnologia CRISPR/Cas9 de edição de genoma está revolucionando diversas áreas, tornando mais fácil para os geneticistas suprimir ou adicionar características a um organismo, quer se trate de um peixe-zebra, um retrovírus, couve, ou até mesmo um ser humano.
A CRISPR é rápida e poderosa, e vai aumentar a capacidade da Monsanto em criar sementes e culturas com resistência à seca e a doenças, com teores mais saudáveis de gordura, e com mais sabor. Esta pode não ser a primeira ferramenta de edição genética usada pela empresa, mas é a mais potente.
Os termos financeiros do acordo não foram divulgados, mas pode apostar que isso não saiu barato. A Monsanto foi recentemente adquirida pela farmacêutica alemã e fabricante de produtos químicos Bayer por US$ 66 bilhões. Ainda assim, a empresa não poderá usar esta tecnologia de qualquer forma que achar conveniente.
De acordo com os termos do acordo, a empresa não pode realizar “genética dirigida” – uma técnica que “empurra” uma característica genética em uma população selvagem de animais, tais como mosquitos, rãs e ervas daninhas. Um gene falho e mal pensado poderia resultar em consequências ecológicas imprevistas, razão pela qual a prática é tão controversa.
O acordo também estipula que a Monsanto não pode usar a CRISPR para criar as chamadas sementes “Terminator” ou GURT (Tecnologia de Restrição no Uso do Gene). Esta é a prática de criar sementes estéreis, e muitos temem que a Monsanto – que detém a patente para essa tecnologia – um dia vai optar por usá-la.
Ao criar culturas que não podem autorreplicar naturalmente, os agricultores ficariam dependentes destas sementes, fazendo empresas como a Monsanto obter enormes lucros. O acordo da CRISPR proíbe isso expressamente.
Por fim, a Monsanto não pode usar a CRISPR para fazer qualquer trabalho com tabaco que seja destinado a fumantes. Isso inclui pesquisa e desenvolvimento para criar plantas de tabaco que sejam mais tolerantes a temperaturas extremas e a insetos, ou para aumentar o rendimento das culturas.
É bom ver que os detentores de patentes da CRISPR estejam considerando os possíveis abusos que poderiam ser praticados com sua poderosa nova tecnologia. E há um grande potencial nessa tecnologia para criar algumas culturas verdadeiramente inovadoras, seja nas mãos da Monsanto ou de outras empresas de agricultura.
Em abril, a DuPont Pioneer anunciou que vai usar a CRISPR para comercializar uma nova versão de híbridos de milho ceroso. A Calyxt, uma subsidiária da Cellectis, está usando uma ferramenta diferente para edição de gene (chamada TALENS) para reduzir o glúten em culturas de trigo, e para criar soja que produz um óleo muito parecido com o azeite.
Devido ao agravamento da mudança climática, nossas culturas terão que aguentar condições cada vez mais inóspitas de pragas, calor e seca. E à medida que a população mundial aumenta, teremos que encontrar novas formas de alimentá-la.
No entanto, devido a uma brecha do Departamento de Agricultura americano, muitos alimentos produzidos por CRISPR não exigirão aprovação regulatória como organismos geneticamente modificados. Isto acontece porque a técnica não envolve a inserção de um gene estranho, e sim a eliminação ou modificação de um gene já existente. Estes alimentos personalizados poderiam aparecer nas lojas muito em breve.
[STAT, Genetic Engineering & Biotechnology News]
Foto por Associated Press