Nokia abortou aparelho touchscreen três anos antes do iPhone
Segundo Ari Hakkarainen, então gerente de marketing da linha Series 60, o alto escalão da Nokia achou a aposta arriscada, por conta do ainda nebuloso, mas crescente, mercado de smartphones com tela sensível ao toque. Além de não saber ao certo o futuro da tecnologia, o custo para criação do protótipo seria altíssima. O argumento, provavelmente, era de que o market share mundial não parava de crescer e que em time que está ganhando, não se mexe. Além do aparelho recusado, a Nokia também rejeitou em 2004 o design experimental de uma loja de aplicativos, para anos depois investir milhões de dólares na Ovi Store, perdendo anos preciosos de aprendizado do novo mercado de apps. E as consequências de ambas as escolhas começaram a surgir nos últimos anos.
O NYT quis mostrar o cenário que o canadense Stephen Elop, ex-Microsoft, novo CEO da Nokia e primeiro estrangeiro a assumir a empresa, terá que enfrentar para mudar os rumos da empresa. Apesar de continuar com números impressionantes – inclusive no Brasil – a Nokia perdeu drasticamente sua fatia do mercado americano, que em 2002 chegou a ser de 35%. Oito anos depois, a Nokia representa míseros 8,1% de market share nos EUA. E, nós bem sabemos, isso começou com o lançamento do iPhone e a reescrita do significado da palavra smartphone, que chegou ao mercado sem nenhum concorrente real.
A complacência da Nokia com os experimentos de seus trabalhadores em 2004 chega a ser irônica: os últimos smartphones da empresa tinham como maiores críticas a inabilidade da tela sensível ao toque resistiva, que a Nokia insistiu em usar, e a ausência de uma loja de aplicativos intuitiva e bem desenhada. O Symbian também foi execrado e taxado como um sistema longe do ideal para navegação e praticidade do usuário, ideias levantadas dentro da Nokia há muitos anos. Agora, o peso e a responsabilidade estão nos ombros do N8, novo aparelho topo de linha da empresa que, mesmo com a versão 3 do Symbian, pretende mudar o jogo novamente para a Nokia. Os finlandeses dizem que já entenderam o recado do mercado e que estão tentando mudar. Mas há quem diga que o esforço ainda é muito pequeno. [NYT]