Por dentro do novo centro de engenharia do Google em Belo Horizonte
O Google tem um escritório em São Paulo, o qual já visitamos um monte de vezes. Porém, nesta segunda (4), estivemos no novo centro de engenharia da empresa em Belo Horizonte (MG). Com 4.800 metros quadrados, a nova instalação conta com quatro andares e mais de 130 funcionários.
Diferente do escritório paulistano, onde ficam equipes de vendas e marketing, neste ficam engenheiros do Google que mexem diretamente no código-fonte mundial das buscas processadas pela empresa.
Boa parte do time que está neste novo escritório contribuiu para o aperfeiçoamento de buscas locais (como estabelecimentos próximos) e melhoria de semântica (quando você busca “estádio do São Paulo” e o sistema retorna “estádio Cícero Pompeu de Toledo”, por exemplo).
“Uma em cinco buscas feitas mundialmente passa pelo nosso algoritmo de contexto”, disse Bruno Pôssas, engenheiro responsável pelo mecanismo de busca do centro de engenharia.
Também é importante ressaltar que BH, junto à Índia, era o centro de desenvolvimento da melhor rede social que já existiu na face da Terra.
Área comum do Google com mesa de sinuca, tênis de mesa e pebolim. Crédito: Divulgação.
O escritório segue o padrão dos outros da companhia e de startups de tecnologia: tem banheiros para tomar banho, comida gratuita (refeições e lanches), biblioteca, videogame, fliperama, sala de música, sala de ioga, sinuca, pebolim e salas para cochilo. Os funcionários podem até ir de chinelo.
O Google diz que, desde 2005, já investiu mais de US$ 250 milhões apenas no centro de Belo Horizonte, e a ideia é dobrar o número de engenheiros neste novo escritório. O centro de engenharia de BH é seu único na América Latina.
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Confira as imagens em tamanho ampliado.
Por que Belo Horizonte?
Muitas empresas acabam escolhendo São Paulo ou Rio de Janeiro para se instalarem. O Google resolveu investir em Belo Horizonte, e a história por trás disso é bem interessante, pois tem relação com o desenvolvimento de mecanismos de buscas no Brasil.
Em 2000, o engenheiro Berthier Ribeiro-Neto criou a Akwan Information Technologies (Akwan significa ligeiro em tupi-guarani), uma empresa de buscas brasileira. A companhia foi se desenvolvendo até que chegou ao ponto de ter cerca de 25% dos resultados no mercado local, com participação de mercado superior à do Google na época.
Berthier Ribeiro-Neto, diretor de engenharia do Google. Crédito: Divulgação.
Paralelo a isso, Luis André Barroso, um dos primeiros funcionários brasileiros do Google, foi incumbido de procurar locais para instalar um centro de pesquisas fora dos Estados Unidos. “Houve um tempo que o pessoal de Mountain View [sede do Google] percebeu que nem todas as mentes brilhantes do mundo estavam lá”, explicou Barroso.
Após fazer um estudo, Barroso descobriu um polo tecnológico em Belo Horizonte com muitas faculdades de tecnologia com relevância em produção científica e que Berthier, fundador da Akwan e ligado a UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), era referência mundial em information retrieval (recuperação de informação).
Não deu outra: o Google comprou a empresa em 2005, fazendo com que Berthier se tornasse diretor de engenharia. O escritório brasileiro é um dos poucos com acesso ao algoritmo de buscas do Google — praticamente a “fórmula da Coca-Cola” da empresa.
Por mais que o caso de Berthier tenha sido um unicórnio na cena brasileira — aliás, a empresa dele contribuiu mundialmente para as buscas do Google — ele acredita que o envolvimento da comunidade acadêmica com o mercado pode ter grande impacto no país. “Podemos mover o Brasil de uma economia baseada em commodities para uma economia de tecnologia. Temos capital humano de grande qualidade para isso”, afirmou.
O jornalista viajou para Belo Horizonte (MG) a convite do Google.