Os oceanos estão esquentando mais rápido do que imaginávamos
Estamos melhorando a maneira como medimos as mudanças de temperatura do oceano. Mas, infelizmente, os dados mostram que eles estão ficando quentes mais rápido do que os pesquisadores imaginavam.
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Um estudo publicado na Scientific Advances reuniu os dados que temos sobre o aquecimento do oceano de 1960 a 2015. Eles oferecem o que se pensa ser o relatório mais preciso sobre as mudanças que as águas experimentaram durante esses 45 anos. Entre as descobertas dos autores: os oceanos estão esquentando 13% mais rápido do que se acreditava.
Um dos motivos pelos quais as estimativas prévias estavam erradas era a dificuldade de reconciliar os dados pré e pós 2005 – data em que os cientistas começaram a utilizar o sistema de boias Argo para fazer as medições. Capaz de alcançar 600 metros de profundidade, o sistema Argo é superior ao batitermógrafo, que era utilizado amplamente antes. Em vez de ter grandes sensores dispostos em companhias marítimas e principalmente no hemisfério norte, agora temos cerca de 3500 boias espalhadas pelo mundo. Essas boias conseguem mergulhar e subir por conta própria e nos dão dados mais completos e precisos.
John Abraham, professor de ciências termais e fluidos na Escola de Engenharia da University of St. Thomas e co-autor do estudo, explica ao Guardian:
Primeiro, nós corrigimos dados passados pelos vieses conhecidos nas medições. Depois, relacionamos as medições de temperaturas aos resultados calculados a partir de modelos climáticos computacionais. Então, aplicamos os conhecimentos de temperatura a áreas maiores para que uma única medição representasse um espaço maior ao redor do local da medição. Por último, utilizamos nosso conhecimento de observações recentes e bem feitas para mostrar que o método produziu excelentes resultados.
Conseguiremos estender nossas técnicas até o final dos anos 1950 e mostrar que a taxa de aquecimento global mudou significativamente nos últimos 60 anos. Uma das principais conclusões do estudo foi a demonstração de que o aquecimento está acontecendo cerca de 13% mais rápido do que pensávamos. Não apenas isso, mas o aquecimento acelerou. A taxa de aquecimento de 1992 é quase duas vezes maior do que a taxa de 1960. Além disso, somente desde aproximadamente 1990 que o aquecimento penetrou às profundidades abaixo de 700 metros.
Isso é muito importante dentro do campo da mudança climática. Mais de 90% do calor extra gerado pelo dióxido de carbono vai para o oceano no final das contas. O que faz as águas serem um ótimo lugar para analisar o crescimento da temperatura. É algo extremamente preocupante também, porque se as temperaturas continuarem a crescer, e o gelo, a derreter, algumas áreas do mundo podem ter um aumento no nível do oceano de 60 metros.
Algo que também é interessante nesse estudo (e meio que poético) é que a equipe indica que os oceanos contêm “a memória da mudança climática”. Basicamente, o que eles querem dizer é que o aumento da temperatura está se espalhando para locais mais profundos nos mares. Apesar da mudança dos padrões climáticos, que mostra detalhes que poderiam indicar resfriamento em certas áreas, a atmosfera em geral está mais quente e mais úmida nos últimos anos. Há um entendimento de que é por isso que estão acontecendo chuvas e tempestades mais intensas no mundo. Sem mencionar as ondas de calor, estiagens, incêndios florestais e outras consequências que chegam com a mudança climática.
Conforme os dados se tornam mais precisos e são reconciliados com informações mais antigas, eles parecem indicar que as coisas estão piores do que achávamos. Parece que estamos chegando cada vez mais perto de um ponto em que não poderemos fazer mais nada para evitar tudo isso.
Imagem do topo: Getty