A quantidade impressionante de plástico que produzimos e o que fizemos com ela
Cientistas calcularam a quantidade total de plástico já criada. Alerta de spoiler: é muito. Mas o que é ainda mais perturbador é onde todo esse plástico foi parar.
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Desde que a produção de plástico em grande escala começou na década de 1950, nossa civilização já produziu colossais 8,3 bilhões de toneladas dessa coisa. Dessas, 6,3 bilhões de toneladas, aproximadamente 76%, já foram desperdiçados. Essa é a conclusão a que chegou uma equipe de pesquisadores da Universidade da Geórgia, da Universidade da Califórnia em Santa Bárbara e da Sea Education Association. Publicada na Science Advances, essa é a primeira análise global de produção, uso e destino de todo o plástico que nossa espécie já produziu. E ela está mostrando o quanto vamos ter que repensar o plástico e por que estamos usando tanto ele.
Para o estudo, os pesquisadores compilaram estatísticas de produção global de resinas, fibras e aditivos de várias fontes da indústria, separando-as de acordo com o tipo e setor consumidor. Eles descobriram que a produção global anual de plástico disparou, indo de dois milhões de toneladas métricas em 1950 para incríveis 400 milhões de toneladas métricas em 2015. Esse nível de crescimento não é visto em qualquer outro material, salvo para a construção, onde o concreto e o aço reinam. Mas diferentemente de concreto e aço — materiais que mantêm nossa infraestrutura junta —, o plástico tende a ser descartado depois de apenas um uso. Isso porque uma grande porção dele é usada para embalagem.
“Aproximadamente metade de todo o aço que fazemos vai para a construção, então ele terá décadas de uso. O plástico é o oposto”, disse o autor principal do estudo Roland Geyer, professor associado da Bren School of Environmental Science and Management, da Universidade da Califórnia em Santa Bárbara, em um comunicado. “Metade de todo o plástico se torna resíduo depois de quatro ou menos anos de uso.”
A nova pesquisa também mostra que a produção de plástico está crescendo. Cerca de metade de todo o plástico que existe atualmente foi feito nos últimos 13 anos.
“Maioria dos plásticos não se biodegrada de maneira significativa, então o resíduo de plástico que os humanos geraram pode ficar conosco por centenas ou até milhares de anos.”
Conforme observado, 76% de todo o plástico já produzido é agora lixo. Com isso, apenas 9% foram reciclados e 12%, incinerados. Quase 80% de todos os resíduos de plástico foram acumulados em aterros sanitários ou no ambiente natural. Em 2015, a mesma equipe de pesquisadores estimou que cerca de oito milhões de toneladas de plástico foram jogadas no oceano em 2010. Os pesquisadores preveem que, se as coisas continuarem como estão, cerca de 12 bilhões de toneladas métricas de resíduos plásticos terão entrado em aterros sanitários ou no meio ambiente até 2050.
É isso mesmo: 12 bilhões de toneladas. Esse número é praticamente impossível de se visualizar. Isso é cerca de 35 mil vezes mais pesado do que o Empire State Building e cerca de um décimo do peso da biomassa na Terra. Nós, humanos, estamos constantemente acrescentando um novo material ao tecido do planeta — um composto sintético que pode durar entre 500 a 1.000 anos, dependendo do tipo de plástico. É ainda mais evidência de que entramos em uma nova era planetária, chamada de Antropoceno.
“Maioria dos plásticos não se biodegrada de maneira significativa, então o resíduo de plástico que os humanos geraram pode ficar conosco por centenas ou até milhares de anos”, apontou a coautora do estudo, Jenna Jambeck. “Nossas estimativas ressaltam a necessidade de pensar criticamente sobre materiais que usamos e nossas práticas de gerenciamento de lixo.”
Imagem: Wikimedia
Além de travar nossas vias fluviais, oceanos e estradas, os plásticos são um perigo para os animais e a saúde humana. As garrafas de plástico são particularmente problemáticas; cerca de 50 milhões delas são jogadas todos os dias só nos Estados Unidos. Do ponto de vista ambiental, cerca de 17 milhões de barris de petróleo são necessários a cada ano para produzir garrafas de água (energia suficiente para abastecer mais de um milhão de veículos nos EUA por um ano), sem mencionar o óleo queimado ao transportá-los.
Geyer e Jambeck não estão dizendo que precisamos parar de fazer plástico. Em vez disso, eles estão pedindo que os fabricantes reavaliem as razões para o uso de plásticos em primeiro lugar e que encontrem alternativas. Os cientistas também deveriam desenvolver novos métodos de alta tecnologia para degradar o plástico e, potencialmente, convertê-lo em combustível líquido ou energia útil. Ao mesmo tempo, precisamos ser mais inteligentes sobre a forma como descartamos o plástico, tanto a nível de gestão de resíduos (a Suécia, por exemplo, tem tem uma atividade de reciclagem organizada) quanto em nossas casas.
Lembre-se desse estudo na próxima vez que você pegar aquela conveniente garrafa d’água.
Imagem do topo: David Lofink/Flickr