Por que os satélites demoraram tanto para encontrar o avião desaparecido da Malaysia Airlines
Hoje, o primeiro-ministro da Malásia, Najib Razik, anunciou que o voo 370 desaparecido da Malaysia Airlines caiu no Oceano Índico. A companhia aérea confirma a informação, dizendo que “o avião foi perdido e ninguém a bordo sobreviveu”.
No entanto, os destroços não foram recolhidos. Neste final de semana, ouvimos mais uma notícia de um satélite que teria visto “potenciais objetos”, que podem ou não ser destroços. Desta vez, as imagens vêm da França. Antes, vieram da China. Na semana passada, veio de um satélite da Austrália.
Não há como afirmar com certeza se o satélite francês realmente encontrou os destroços. Na verdade, o misterioso caso do MH370 ilustra as limitações de nossos satélites quando se trata de monitorar aviões – seja no ar, seja desaparecido em uma enorme área no oceano.
É absolutamente incompreensível que um avião possa decolar e desaparecer. Vivemos em um mundo hiperconectado. Como é que perdemos um Boeing 777? Claro, o mar é grande e aviões são relativamente pequenos, mas supostamente estamos num futuro conectado. É o que Christine Negroni, repórter veterana de aviação, chamou de “paradoxo Twitter” logo depois que o avião desapareceu.
Eu fiquei sabendo pela primeira vez que o voo 370 desapareceu enquanto eu estava no mar, a 15 km de distância de Ha Long Bay, no Vietnã. Isso ilustra como estamos todos conectados à informação instantânea, possibilitada pela tecnologia atual de comunicação. Mas três dias depois, pouco se sabe sobre o avião, para onde ele foi e por que não chegou a Pequim na manhã de domingo – isso é surpreendente, frustrante e confuso.
Negroni passa a explicar como a conectividade da caixa preta de aviões ficou para trás no incrível progresso em comunicações globais. Após o desastre do Air France 447 – que voava do Rio de Janeiro a Paris em 2009, mas desapareceu e caiu no Oceano Atlântico – autoridades francesas exigiram uma melhor tecnologia para a caixa preta. (Neste caso, a caixa preta só foi encontrada dois anos após o acidente.)
E, como apontou o New York Times há alguns dias, a tecnologia para rastrear aviões por satélite existe – só não está sendo usada.
“A tecnologia está aí, mas é só uma questão de vontade política para reconhecer que isso é importante”, disse Mark Rosenker, ex-presidente do National Transportation Safety Board e major-general aposentado da Força Aérea americana. “O que não melhorou é que ainda temos que esperar para recuperar as caixas e começar a investigação de acidentes. Dias preciosos são desperdiçados.”
São poucas as informação por satélite, na forma de pings e blips, que conseguimos recolher. E ela só permite aos investigadores reduzir a área de buscas para um trecho do Oceano Índico.
Esta é a área geral que as imagens recentes de satélite descobriram. E encontrar o avião usando imagens de satélite é incrível, considerando a dificuldade da tarefa. O Washington Post diz que os satélites geralmente não estão direcionados para a área de buscas, justamente porque nada nunca acontece por lá.
Estes limites são moldados pela física, dinheiro e praticidade. Satélites militares e comerciais não estão observando e acumulando dados sobre locais e mares onde poucos viajam – como áreas remotas do Oceano Índico, a milhares de quilômetros de onde o voo MH370 desapareceu do radar.
Há também um dilema ao se examinar a superfície da Terra a partir do espaço: ou você analisa uma área maior, ou analisa uma profundidade maior – mas não as duas coisas ao mesmo tempo. Até mesmo os satélites espiões mais sofisticados, que conseguem encontrar uma agulha no palheiro, possuem um campo de visão estreito.
Ou seja, há muitas dificuldades para encontrar um avião usando satélites. Então devemos ficar impressionados que as recentes descobertas dos franceses, chineses e australianos permitiram encontrar o avião – afinal, a tecnologia usada tem várias limitações.
Da mesma forma, devemos adotar ao máximo uma tecnologia mais moderna, para que nunca percamos um avião assim novamente.
Foto por Aero Icarus/Flickr