Como a Sexta-Feira 13 ganhou a fama de dia do azar
A Sexta-Feira 13 não é um dia exatamente admirado. E isto é mais que uma superstição observada por poucos: só nos EUA, estima-se que entre 17 e 21 milhões de pessoas temem essa data a ponto de isso ser classificado oficialmente como fobia.
Por que a Sexta-Feira 13 é considerada um dia do “mal”?
As origens não são muito claras, mas sabemos que tanto a sexta-feira como, separadamente, o número 13 são considerados sinais de azar. Foi próximo ao final do século XIX que começaram a aparecer os primeiros casos documentados de pessoas unindo os dois para formar o dia mais azarado de todos.
O terror das sextas-feiras
Para começar, vamos entender a má-fama das sextas-feiras. Muitos acreditam que a teoria mais popular vem do cristianismo. Por tradição, sexta-feira é considerado o dia em que Eva deu a “maçã” a Adão, e quando eles foram expulsos do Jardim do Éden. No entanto, nessa “época” ainda não existiria o conceito de dias da semana.
Também por tradição, Adão e Eva teriam morrido em uma “sexta-feira”, conceito então inexistente. O Templo de Salomão aparentemente foi destruído numa sexta-feira. E acredita-se que Jesus foi crucificado em uma sexta-feira, o dia ao qual se referem agora como Sexta-feira Santa.
Outros teorizam que a má-fama da sexta-feira antecede o cristianismo. A palavra “Friday”, em inglês, foi escolhida em homenagem à deusa nórdica Frigga, também conhecida como Freyja, que era a deusa multitalentosa do amor, beleza, sabedoria, guerra, morte e magia. Acredita-se que povos teutônicos consideravam o dia extremamente azarado, especialmente para casamentos, em parte devido à bela deusa que dá nome ao dia da semana. Depois, a igreja cristã tentou demonizar a deusa; isto pode ou não ser um fator contribuinte também.
Seja qual for o caso, apesar destas teorias de origem bastante antigas, casos bem documentados com essa noção da sexta-feira azarada só parece ter aparecido em meados do século XVII. Durante os dois séculos seguintes, a ideia continuou a se espalhar. No século XIX, ela era quase onipresente em certas culturas. Há várias referências onde as sextas-feiras são consideradas dias de azar; a única exceção é a Sexta-Feira Santa. Como exemplo, temos esta referência de 1857:
Não obstante o preconceito contra velejar em uma sexta-feira… a maioria dos barcos de recreio… fazem a sua primeira viagem para a temporada na Sexta-Feira Santa.
O número 13
Quanto ao azar do número 13, assim como acontece com a sexta-feira, há diversas possibilidades para sua origem. A mais popular delas também decorre do cristianismo. É considerado de extrema má sorte ter 13 pessoas sentadas em uma mesa para o jantar, supostamente porque Judas Iscariotes é, por tradição, a 13ª pessoa na Última Ceia.
No entanto, os hindus também acreditavam que era má sorte 13 pessoas se reunirem ao mesmo tempo para qualquer finalidade.
Longe dali, no norte da Europa, os vikings dos tempos antigos contam uma história muito semelhante. De acordo com o velho mito nórdico, 12 deuses foram festejar no salão de banquetes no Valhalla quando Loki, o deus da Malícia, apareceu sem ser convidado. Isto, naturalmente, trouxe a contagem de deuses ao temido número 13. Loki então incentivou Hod, o deus cego do inverno e das trevas, a matar Balder o Bom com uma lança de visco, deixando todos no Valhalla em luto. Mais uma vez, temos um exemplo de uma história na história onde reunir 13 pessoas para jantar é má ideia.
Por que todas essas religiões distintas adotaram uma tradição tão semelhante de demonizar o número 13? Há aqueles que teorizam que o número 13 pode ter sido denegrido de propósito pelos fundadores de religiões patriarcais, tudo para erradicar a influência da Deusa-Mãe. Em culturas que adoravam deusas, o número 13 era muitas vezes reverenciado, pois representava o número de ciclos lunares e menstruais que ocorrem anualmente. Aqueles que aderem a esta teoria acreditam que, à medida que o calendário solar de 12 meses suplantou o calendário lunar de 13 meses, o número 13 em si tornou-se suspeito.
Deve-se notar, porém, que nem todas as culturas do mundo antigo temiam o número 13. Os antigos egípcios acreditavam que a vida era uma jornada espiritual que se desdobrava em etapas. Eles acreditavam que 12 desses estágios ocorrem nesta vida, enquanto o décimo terceiro é uma ascensão transformadora e feliz para uma eterna vida após a morte.
Portanto, o número 13 representava a morte para os egípcios, mas não a decadência e medo, e sim o reconhecimento de uma gloriosa vida eterna. Claro, é possível que a associação com a morte mais tarde tenha adquirido o sentido infeliz por culturas influenciadas pelo Egito.
Tal como acontece com a noção da sexta-feira ser azarada, o repúdio ao “13” parece realmente ganhar força por volta dos séculos XVII e XVIII, e por volta do século XIX esta ideia também era muito difundida no mundo ocidental, em várias culturas diferentes.
Sexta-feira 13
Quando a sexta-feira e o número 13 se uniram como um símbolo da má sorte para aterrorizar as massas? Você lerá em muitos lugares que o motivo é a prisão dos Cavaleiros Templários, que aconteceu numa sexta-feira, 13 de outubro de 1307. No entanto, essa história de origem é uma noção moderna, sem base em qualquer história documentada.
Outros apontam para o último dia do reinado do Rei Haroldo II da Inglaterra na sexta-feira, 13 outubro de 1066. O duque Guilherme da Normandia deu-lhe a oportunidade de renunciar à sua coroa, mas ele recusou. No dia seguinte, Guilherme tomou-a à força na Batalha de Hastings, causando a morte de Haroldo. Novamente, esta é uma ideia moderna para explicar a origem do mito.
A sexta-feira e o número “13” só ganharam uma verdadeira fama de azarados no séc. XIX. Então talvez não seja surpreendente que só em meados do século XIX os dois se uniram como o pior dia de azar.
Uma das primeiras referências disto vem de um clube formado por William Fowler. Ele quis provar que esses tipos de superstições são infundadas. Por isso, ele formou um “Clube dos Treze”, no qual os membros se reuniam em grupos de 13 para jantar. Sua primeira reunião ocorreu, é claro, no dia mais azarado da semana: sexta-feira, 13 de janeiro de 1881. E não só: os membros do clube passavam por baixo de uma escada antes de se sentar à mesa, na sala 13 do edifício. Eles também derrubavam bastante sal sobre a mesa antes de jantarem, para combater mais outra superstição de azar.
Uma referência documentada um pouco anterior vem de 1869, na biografia de Gioachino Rossini, onde o autor Henry Sutherland Edwards diz:
Ele [Rossini] foi cercado até o último momento por amigos que o admiravam; e se é verdade que, como tantos outros italianos, ele considerava a sexta-feira como um dia de azar e treze como um número de azar, é notável que, em uma sexta-feira 13 de novembro, ele morreu.
Curiosamente, na tradição da Itália, a sexta-feira 13 não é considerada um dia de azar. Na verdade, o 13 era muitas vezes visto como um número de sorte por lá até muito recentemente, quando a influência da Europa Ocidental e dos EUA começou a mudar isso.
Para os italianos, classicamente, 17 é o número de azar; portanto, sexta-feira 17 tornou-se a versão italiana da sexta-feira 13. Henry Sutherland Edwards era britânico; embora escrevesse sobre um compositor italiano, ele aplicou sua própria superstição em Gioachino Rossini.
A noção de sexta-feira 13 ser o mais azarado dos dias ganhou fôlego a partir dessa ideia de combinar dois símbolos de azar. No início do século XX, surgiram inúmeros casos documentados de pessoas referenciando-o desta forma. Por exemplo, há o romance de 1907 escrito pelo corretor de ações Thomas W. Lawson chamado Sexta-Feira 13, sobre os esforços de um corretor para destruir o mercado de ações naquela data sinistra.
Mas, além da popular franquia de filmes “Sexta-Feira 13”, o que faz com que essa superstição continue teimosamente em nossa consciência coletiva? Psicólogos apontam para o fato de que, se algo negativo acontece na sexta-feira 13, as pessoas fazem uma associação permanente entre o evento e a data em suas mentes. No entanto, se uma sexta-feira 13 passar sem problemas, as pessoas esquecem. Em suma, é um exemplo clássico de viés de confirmação.
Fatos bônus:
- Em 2008, o Centro Holandês de Estatísticas de Seguros tentou provar que a sexta-feira 13 não é diferente de qualquer outro dia. Eles acabaram demonstrando o contrário. Eles descobriram que a sexta-feira 13, na verdade, é um dia um pouco mais seguro para dirigir, pelo menos considerando os dados de 2006 a 2008 na Holanda. Nesse período, houve uma média de 7.500 acidentes de trânsito nas sextas-feiras 13. Nas sextas-feiras que caíam em outras datas, a média era de 7.800 acidentes por dia. Sua teoria é simplesmente que, devido à fobia, menos pessoas dirigem na sexta-feira 13; e quem dirige é mais cuidadoso. Eles também encontraram tendências semelhantes com incêndios e crimes relatados: eles acontecem menos nas sextas-feiras 13.
- Em muitos países onde a influência espanhola é predominante, ao invés de sexta-feira 13 ser azarada, é a terça-feira 13 que mantém essa honra.
Kathy Padden escreve para o site TodayIFoundOut.com, com muitos fatos interessantes. Clique aqui para assinar a newsletter “Conhecimento Diário”, ou curta a página no Facebook aqui.
Este post foi republicado com permissão do TodayIFoundOut.com.
Fotos por Dennis Skley e Darren Foreman/Flickr