Como o blockchain, a tecnologia por trás do Bitcoin, pode transformar a indústria alimentícia
Há quem diga que as criptomoedas viram, com a queda recente do Bitcoin, um prenúncio de seu futuro. Outros ainda acreditam firmemente nas moedas virtuais como ferramentas de uma revolução financeira e tecnológica que vive ainda seus estágios iniciais. Outros, no entanto, veem no blockchain, a tecnologia por trás da principal moeda virtual, o verdadeiro tesouro. E, na França, o Carrefour acaba de fortalecer o ponto destes últimos.
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A rede de supermercados, que é a maior varejista da Europa, anunciou nesta terça-feira (6) a implementação do blockchain no rastreamento da origem dos frangos vendidos sob a marca Filière Qualité Carrefour (“Setor de Qualidade Carrefour”). O produto é o primeiro de uma série de nove alimentos da empresa que devem receber o recurso até o fim de 2018.
Escaneando um QR code na embalagem do frango, os consumidores terão acesso a um arquivo de rastreabilidade mostrando data de nascimento do frango, sua procriação, a data de abate e também tratamentos veterinários e informações que ajudem a delinear a vida do animal até chegar ao prato.
Imagem: Carrefour
Até o fim de 2018, mais outros oito produtos da marca Filière Qualité Carrefour receberão o tratamento, entre eles tomates, queijo, laranja, além de exemplos mais complexos de se rastrear, como leite e mel.
Mais do que uma forma de conferir transparência na mesa do consumidor, a novidade do Carrefour é um exemplo concreto de um dos usos potenciais transformadores que o blockchain tem a oferecer. O sistema de compartilhamento de registro de dados por uma rede de computadores, que serve como “livro contábil” do Bitcoin, prospera por seu caráter indelével e sua confiabilidade, sem a dependência de uma terceira parte em uma transação. Imagine um livro de registro que não pode ser alterado e que é distribuído para todas as partes envolvidas? É basicamente essa a função do blockchain.
Muita gente fora do mundo das criptomoedas trabalha minuciosamente para conferir novos usos à tecnologia. No Brasil, por exemplo, bancos têm testado a tecnologia para facilitar contratos de derivativos que, na prática, poderão facilitar a transferência internacional de dinheiro.
No caso da indústria alimentícia, a capacidade transformadora é enorme: mais do que trazer informações aos consumidores, a nível de saúde, a tecnologia possibilita, por exemplo, mais segurança na comida que ingerimos. Pensemos em uma situação em que uma safra de bois específica tenha apresentado produtos contaminados. Com todos o processo rastreado, seria possível apontar especificamente quais carnes deveriam ser retiradas do mercado, diminuindo as perdas e evitando desperdício de comida.
Escândalos nas cadeias de distribuição, como o que envolveu JBS e BRF, seriam mais facilmente desvendados, dada a impossibilidade de se mexer nos registros feitos no blockchain.
Ademais, as informações disponibilizadas publicamente no livro de registros online poderia guiar as partes envolvidas a receberem pagamentos mais justos na cadeia de produção, isso sem falar na possibilidade de barateamento dos produtos, com a possibilidade de se cortar intermediários entre produtores e varejistas.
Os cenários vislumbrados são diversos, e não é à toa que, no ano passado, o próprio Carrefour, junto com nomes como Nestlé e Unilever, se juntaram a um projeto da IBM com o objetivo de implementar esse serviço de rastreamento de alimentos em seus produtos.
Em breve, o bife que você come em sua casa poderá ter sua história facilmente revelada com alguns cliques e alguns segundos em seu smartphone.
Imagem do topo: AP