15 anos de “WALL-E”: como o filme da Pixar previu as mudanças climáticas

“WALL-E”, uma das produções mais aclamadas da Pixar, estreou em 2008. Embora o robô que dá nome ao longa da Disney seja adorável, bem como o romance entre os protagonistas, o pano de fundo da história é sombrio: o filme pode ser considerado uma fábula sobre as consequências do desperdício, do consumo excessivo e do vício em tecnologia.

Não por coincidência, esses problemas são alguns dos maiores males que vivemos na atualidade. O filme completa 15 anos em 2023 com mensagens que permanecem muito precisas – com a diferença de ainda vivermos no planeta Terra, pelo menos por enquanto.

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Qual a trama de “Wall-E”

O filme retrata uma Terra que se tornou inabitável por conta das mudanças climáticas. O protagonista é um pequeno robô que foi deixado sozinho no planeta para limpar a bagunça, depois que os humanos destruíram o lugar e foram morar no espaço. De tempos em tempos, ele tem que procurar abrigo quando tempestades o atingem.

Em 2021, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) anunciou que eventos climáticos extremos que costumavam acontecer apenas uma vez por década agora acontecem a cada três anos.

Na narrativa de ficção científica, as pessoas que sobreviveram foram viver no espaço e se tornaram obesas. Eles se comunicam apenas por videochamada e dependem de smoothies que substituem as refeições para se sustentar. Mastigar, afinal, dá muito trabalho.

Há semelhanças assustadoras com grande parte da nossa realidade atual, como os eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes, os índices de obesidade aumentando, o sedentarismo e o surgimento de empresas que investem em compostos nutritivos para substituir a alimentação tradicional. Empresas como a Soylent e a Huel são exemplos atuais desse tipo de iniciativa.

Em WALL-E, o desperdício e o consumo sem limites matam. Os excessos da humanidade produziram uma quantidade absurda de resíduos, os aterros sanitários se tornaram inúteis e, para cada arranha-céu da cidade abandonada que aparece, há uma pilha de lixo compactado do mesmo tamanho.

Tendências como o fast fashion, apontado por especialistas como uma ameaça ao meio ambiente, já levaram à formação de um gigantesco lixão de roupas, no Chile. A enorme pilha de peças de roupa descartadas já é visível do espaço por satélite.

Responsabilidade das empresas

No filme distópico, a nave onde vivem os seres humanos é chamada Axiom – por sinal, o mesmo nome da empresa de serviços espaciais (Axiom Space). Na história, as mudanças climáticas são causadas pelo consumo desenfreado. Mas a culpa é colocada diretamente nas mãos de uma empresa gigante, batizada de Buy’N’Large.

Essa megacorporação ficou tão grande que, eventualmente, o lixo que produzia suplantava qualquer coisa que realmente fornecia ao povo. Em vez de consertar o mundo, a empresa decidiu partir dele com seus clientes em espaçonaves autossustentáveis.

A companhia retratada no filme tem semelhanças com a Amazon, que já registrou vendas de US$ 19 bilhões em 2008 e, em 2022, passou dos US$ 513,9 bilhões. O negócio tem o monopólio de cerca de 40% do mercado de comércio eletrônico dos Estados Unidos. O empreendimento de Jeff Bezos foi inspiração para o filme.

“Normalmente gosto de estar certo, mas não neste caso. Eu não queria estar certo em tantas coisas neste filme”, afirmou à Bloomberg Andrew Stanton, roteirista e diretor de WALL-E.

Existem mais paralelos com a Amazon e seu fundador e CEO. A Buy’N’Large também opera a espaçonave do filme — enquanto isso, Bezos é dono da Blue Origin, empresa espacial que também oferece viagens para turistas espaciais, bem como a SpaceX, de Elon Musk. No ritmo em que estamos, a opção por encontrar uma nova “Terra” habitável e deixar este planeta para trás nem parece mais uma ideia tão absurda.