20 anos após as cartas com pó branco: antraz e outras armas biológicas

Ataque bioterrorista nos EUA em 2001 deixou cinco mortos; relembre outros casos.

Mísseis, bombas, tanques. Tudo isso pode ser sinal de que uma guerra está em curso. Armamentos como esses têm alto poder de intimidação e podem dizimar populações inteiras. Apesar disso, nem toda arma de guerra é assim tão imponente. Às vezes todo desastre é feito apenas com um “pó branco”. 

Foi assim que em 2001, logo após os atentados de 11 de setembro, os Estados Unidos viveram o caos. Na época, cartas com um pó branco causaram a morte de cinco pessoas e a internação de outras 17. Todas elas continham a substância que transmite a doença conhecida como antraz.

A tal doença é causada pela bactéria Bacillus anthracis e, quando atinge animais, quase sempre é fatal. Nos humanos, é transmitida pelo contato com a pele, apesar de haver outras formas, menos comuns, de infecção — inalação ou ingestão.

O microorganismo que causa o antraz pode formar esporos — condição que ocorre quando essas bactérias são submetidas a condições ambientais desfavoráveis, como escassez de nutrientes ou de água — possibilitando que eles sobrevivam por muito tempo. Assim, os esporos são preparados na forma de um pó muito fino — ideal para ser utilizado como arma de bioterrorismo. 

20 anos do ataque com antraz nos EUA

As primeiras cinco correspondências foram enviadas apenas uma semana após o atentado do World Trade Center. As cartas com antraz tinham como endereço as redações da ABC News, CBS News, NBC News e o New York Post (todos veículos jornalísticos da cidade de Nova York), e por último o National Enquirer, na cidade de Boca Ratón, na Flórida. 

O segundo movimento aconteceu em outubro, quando duas cartas foram direcionadas a senadores do Partido Democrata — Tom Daschle, de Dakota do Sul, e Patrick Leahy, de Vermont.  

O serviço postal dos EUA até tentou reduzir os ataques com uma lista de regras para ajudar os funcionários a interceptar cartas suspeitas. Mas, como você pode imaginar, examinar mais de 600 milhões de correspondências que transitavam todos os dias pelo correio norte-americano não era uma tarefa muito simples

Fotografia de uma das cartas enviadas a um senador. Foto: Wikimedia Commons

Depois disso, uma série de investigações tentaram encontrar culpados. Houve especulações de que Osama Bin Laden, responsável pelo ataque de 11 de setembro, estava envolvido com o ataque bioterrorista. Apesar disso, o presidente da época, George Bush, pontuou que não havia evidências suficientes para essa conclusão. Anos e anos se passaram e a investigação foi encerrada em 2008, sem nenhuma condenação. Ainda assim a policia federal americana (FBI) considerou, Bruce Ivins, microbiologista que trabalhava para o governo dos EUA, como suspeito. 

A história explica 

A prática do bioterrorismo é muito mais antiga do que você possa imaginar. Existem indícios, por exemplo, de que o homem Neanderthal colocava fezes em suas flechas para aumentar seu poder letal. Há registros também do século 19, na Guerra do Paraguai, ocorrida entre 1864 e 1870. Nela, soldados mortos pela cólera eram jogados em rios e poços para contaminar o inimigo. Em 1979, um surto de antraz na Rússia causou a morte de 68 pessoas nas imediações do laboratório Biopreparat, depois de um acidente que liberou um grama da substância. Posteriormente, esse mesmo laboratório realizou experiências genéticas para aumento da virulência do Ebola e varíola.

A história também conta que possivelmente o Exército Vermelho pode ter usado a bactéria Francisella tularensis, causadora da doença tularemia — semelhante à peste bubônica — como forma deliberada de ataque contra as Forças alemãs na Europa do Leste, durante a Segunda Guerra Mundial. Os japoneses foram os primeiros a estudar seu potencial como um agente de arsenal de ataque entre os anos de 1932 e 1945.

Avanço da tecnologia e o bioterrorismo 

Ao mesmo tempo que os avanços tecnológicos oferecem inúmeras facilidades ao nosso dia a dia, eles podem ser um perigo. A engenharia genética tem sido capaz de estudar os mínimos detalhes da vida — algo que está ajudando o mundo a caminhar no combate de doenças, fabricação de medicamentos, melhora na alimentação e qualidade de vida.  

Em contrapartida, ela pode ser um instrumento de poder que possibilita a produção de organismos geneticamente modificados, para criar novas armas biológicas — mais resistentes e letais — aumentando os conflitos em cenários de guerra e terrorismo. Estamos falando aqui de vários micro-organismos diferentes: fungos, bactérias, protozoários, vírus e outros. 

Outra forma de ação possível é o bioterrorismo animal. Seria a contaminação de rebanhos de bovinos, suínos e aves com doenças epidêmicas, como a febre aftosa, a peste suína, ou a doença de New Castle em aves. 

Ali S. Khan, médico e reitor do College of Public Health do University of Nebraska Medical Center, que fez parte da equipe investigativa do CDC em Washington em 2001, disse à revista Wired que, 20 anos depois do ataque de antraz nos EUA, “estamos muito melhor preparados para um ataque bioterrorista agora”. 

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Apesar disso, ele defende, ao mesmo tempo, a dicotomia de que estamos ‘terrivelmente despreparados’, citando a pandemia da Covid-19 como prova. “Não temos os profissionais de saúde pública e os sistemas de informação de que precisamos”, disse. Seja como for, precisamos olhar para a saúde pública e estarmos preparados para QUALQUER coisa. Pelo menos para aquilo que já é conhecido há décadas.

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