Há exatos 20 anos, o Google lançou o Gmail, bem no Dia da Mentira. Muitas pessoas pensaram que o serviço se tratava de uma piada. Além de estrear em 1º de abril, o serviço foi divulgado para a imprensa com um comunicado em tom de galhofa, que prometia armazenamento gigantesco — para os padrões da época — de 1 GB para emails.
O Gmail ia de encontro a todos os padrões do mercado referentes à caixas de entrada de emails. Enquanto muitos serviços não só tinham armazenamento limitado a 15 MB, como também eram pagos, a plataforma do Google chegava como uma alternativa totalmente gratuita e com mais espaço.
Esses fatores, aliados ao Dia da Mentira, fizeram com que usuários acreditassem que o Gmail era uma farsa. Porém, tudo mudou quando o Google começou a realizar os primeiros convites oficiais para testar a versão beta do serviço de correio eletrônico.
Hoje, com mais de 1,8 bilhão de usuários ativos — mais que a população total da Índia, o atual país mais populoso do mundo —, o Gmail é parte do cotidiano dos usuários da web e deve continuar assim por mais alguns anos. Mas, afinal, como surgiu a ideia que transformou a troca de emails na Internet? O Giz Brasil conta a história.
A origem do Gmail, 20 anos atrás
Entre o final dos anos 1990 e início dos anos 2000, a atividade online mais importante era a troca de correios eletrônicos. Apesar de já fazer sucesso com o buscador, o Google não tinha um serviço de emails para competir com Yahoo e Microsoft.
O desenvolvimento do Gmail começou em agosto de 2001, sob responsabilidade do então programador Paul Buchheit. Como missão, Buchheit devia criar uma plataforma capaz não só de funcionar como as oferecidas pelos concorrentes, como também melhorar recursos que usuários apontavam como ruins em outros serviços.
No comunicado oficial do lançamento do serviço, em 1º de abril de 2004, Larry Page — cofundador e presidente do Google Products — disse que “a inspiração para o Gmail veio de uma usuária do Google reclamando da má qualidade dos serviços de email existentes”.
“Ela reclamava de passar muito tempo arquivando mensagens ou tentando encontrá-las. E quando ela não está fazendo isso, ela tem que deletar e-mails como uma louca para ficar abaixo do limite obrigatório de 4 MB. Então ela perguntou: ‘Vocês não podem consertar isso?`”
A partir daí, Buchheit assumiu o desafio de criar um serviço de email que resolvesse os três maiores problemas dos usuários: armazenamento, velocidade e pesquisa.
Os três pilares do Gmail: armazenamento, velocidade e pesquisa
O armazenamento do Gmail era o ponto que mais deixava as pessoas desconfiadas. Oferecer 1 GB de espaço era inacreditável, considerando que os concorrentes davam 15 MB para guardar tanto mensagens quanto anexos.
Enquanto os populares Yahoo e Hotmail armazenavam entre 30 e 60 emails na caixa de entrada, o Google garantia espaço para 13.500 mensagens. A quantidade era quase 300 vezes maior, sem necessidade de pagar a mais por isso.
No quesito velocidade, o Gmail brilhou, graças à linguagem de programação mais ágil. Responder a uma mensagem pelo serviço do Google demorava apenas alguns segundos, enquanto outras plataformas levavam mais tempo para entender os comandos dos usuários.
Dominante no mercado de buscadores, o Google implementou seu trunfo – o próprio mecanismo de pesquisa – no Gmail. Assim, além de não ser mais necessário excluir as mensagens, os usuários passaram a poder buscar por palavras-chave ou trechos para encontrar emails antigos.
No começo, a entrada era restrita
Apesar da estreia do Gmail ter 20 anos, o serviço ficou exclusivo para convidados por muitos anos. Em abril de 2004, o Google criou mil contas e as distribuiu entre pessoas importantes do mercado de tecnologia e membros da imprensa.
O limite era necessário para evitar a sobrecarga dos servidores. Afinal, oferecer 1 GB de armazenamento, na época, tinha um custo. Os portões do Gmail foram abertos aos poucos, permitido a entrada de mais usuários ao longo dos anos.
Somente três anos depois do lançamento, em fevereiro de 2007, o Google liberou a criação de contas no Gmail ao público. Entretanto, a plataforma só terminou os testes da versão beta em 2009.
Com o sucesso do Gmail, o Google deu início à expansão do império na Internet para além do mecanismo de busca. Após a plataforma de emails, vieram o Google Maps e o Google Docs, com aplicativos de edição de texto, planilhas e apresentações.
Em seguida, o Google adquiriu o site de vídeos YouTube. Mais para frente, a empresa lançou o navegador Chrome e o sistema operacional Android — presente na maioria dos smartphones do mundo, atualmente.
O futuro do Gmail é incerto. Com mais ferramentas de comunicação em tempo real, os emails tem ficado de lado. Aliás, surgiu um boato em fevereiro deste ano sobre um suposto “fim do Gmail”, que o Google precisou desmentir.
Apesar dos emails não serem mais tão populares quanto antigamente, eles ainda são necessários para empresas, profissionais e qualquer pessoa que queira manter uma conversa mais formal e com registros. Se um dia o Gmail realmente acabar, é certo esperar uma ferramenta que irá substituí-lo com pelo menos a mesma eficácia.