2010-2022: a história da internet contada pelos memes mais famosos

História dos memes está profundamente ligada com as diferentes plataformas de redes sociais e os formatos oferecidos por elas; entenda
Mais da metade da população mundial é usuária de redes sociais
Imagem: Robin Worrall/Unsplash/Reprodução

Só quem viveu sabe: a história da internet passa, sim, pelos memes – aquelas piadinhas ora hilárias ora inacreditavelmente ruins que circulam por aqui.

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Eles sempre existiram, mas se transformaram em um gênero textual cibernético por volta de 2010, quando o uso das redes sociais se tornou mais comum pelo mundo. 

De lá para cá pudemos dizer: os memes são símbolos que refletem os temas relevantes de um tempo. E, mais que isso, atuam como indicadores para os ecossistemas das redes sociais. Desde 2010, muitas redes sociais que bombaram logo caíram no ostracismo e deixaram de existir. 

Se antes o finado Orkut fazia sucesso com suas comunidades ingênuas, hoje fóruns de mensagens se transformaram em verdadeiros centros de transação de criptomoedas e ativos digitais – como as NFTs, que você já deve ter ouvido falar. 

Por isso, o site Know Your Meme criou um compilado com verdadeiros acontecimentos de memes dos últimos 12 anos. O levantamento vem de um banco de dados que mostram os principais memes e suas plataformas desde o começo da década de 2010. Bora viajar no tempo? 

2010 

Há 12 anos, a maior parte dos memes vinha do 4chan (28,2%) e YouTube (34,9%). A plataforma de vídeos do Google tinha sido criada há apenas cinco anos e já dava seus primeiros passos no que viriam a ser conteúdos virais. 

Imagem: Know Your Meme/Reprodução

Já o 4chan tinha um apelo mais limitado. Faz sentido que boa parte dos memes tenha surgido ali: a plataforma reunia um certo senso de humor e “ansiedade” que fomentaram a “indústria de memes” justamente por sua postura contracultural. 

Mas o que também chama a atenção é o surgimento de memes em fatias menores de sites, como Tumblr (6,3%), Facebook (6,1%), Reddit (4,3%) e Twitter (4%). 

Em 2010, o destaque fica com os quadrinhos Rage. Na prática, o formato de histórias em quadrinhos mostra desenhos com arquétipos bem simples, como uma pessoa raivosa, uma menina inocente e o famigerado corpo de palitinho, onde só a cabeça demonstrava emoções. 

Imagem: Know Your Meme/Reprodução

 

2011

Em 2011, o YouTube e 4chan continuam fortes no celeiro de memes, mas cresce a fatia de peças criadas nos Reddit (12,9%) e Tumblr (14%). 

Imagem: Know Your Meme/Reprodução

Neste ano, o meme Scumbag Steve fazia sucesso no Reddit. Começava, então, o remix e uso de personagens em situações diferentes, mantendo o formato original. As histórias em quadrinhos perdem a força em troca de uma imagem única, com texto mais curto. 

“Não se preocupe, brother, eu vou te pagar na semana que vem”, diz o meme Scumbag Steve, popular em 2011. Imagem: Know Your Meme/Reprodução

2012

No ano seguinte, a participação de memes criados no Tumblr, Reddit e Facebook cresce ainda mais. Sites menores perdem espaço e o YouTube continua na liderança, com 25% dos memes. 

O Tumblr ganha espaço com um algoritmo que inclui sugestões a partir da interação dos usuários. Isso culmina em um feed personalizado com base nos interesses e comunidades específicas – bem diferente do Reddit e 4chan, que passam a ser entendidos como agregadores. Algo parecido com o Tumblr começa a acontecer com o Twitter. 

Imagem: Know Your Meme/Reprodução

O meme de 2012 com certeza é Gangnam Style, a música coreana que bombou naquele ano. O cantor Psy lançou um clipe que se transformou em um fenômeno pelo movimento, seja na dança, cortes ou cores. 

Todos queriam contar como se sentiam em relação a isso – e deu certo. Em 2022, o vídeo soma mais de 4,5 bilhões de visualizações. 

2013

Estamos em 2013 e, surpresa!, o Tumblr ultrapassa o YouTube como a maior fonte de origens de meme do mundo. Nessa época começa o que hoje chamamos de “Era Tumblr”, que vai até 2015. Ali estava um conteúdo mais artístico e bem-humorado, mas permissões beeem abrasivas, como era no 4chan. 

Imagem: Know Your Meme/Reprodução

Em 2013, o meme mais usado era o Side-Eyeing Chloe, uma menina que respondia com certa impaciência ao entusiasmo da irmã com uma viagem à Disney. 

O BuzzFeed chegou a classificar Chloe como a “santa padroeira” do Tumblr, de tanto que sua imagem foi associada à rede. Nessa época, o apelo do 4chan começa a cair enquanto aumentam as mensagens de ódio na plataforma. Ao que parece, isso coincide com o segundo mandato de Barack Obama.

2014

Menos é mais! Em 2014 bombaram duas plataformas que privilegiavam textos e vídeos curtos: o Twitter e o Vine. É o momento em que o Twitter assume a liderança como a principal fonte de origem de memes – um lugar que ocupou por muitos anos. 

Imagem: Know Your Meme/Reprodução

Em 2014, o meme mais popular foi, sem dúvida, o Desafio do Balde de Gelo. A trend começou com atletas norte-americanos que doavam a instituições de caridade. Mas logo se popularizou mundo afora e ninguém mais precisava necessariamente doar algo para entrar na brincadeira. 

2015

Algo acontece em 2015: o humor dos memes começa a se distinguir daquele que vivenciamos na vida real. Eles passam a mirar o absurdo, com piadas sem sentido e bem mais ousadas. 

Imagem: Know Your Meme/Reprodução

Neste ano, o Twitter segue na liderança (24,4%), seguido pelo YouTube (19%) e o Tumblr (11,8%). Nos EUA, o que fez mais sucesso foi o boxeador John Cena, que bombava nas redes com sua música triunfal e expressões escandalosas. 

No Brasil, a cena foi mais divertida. Todo mundo engajou a polêmica do vestido: era branco e dourado ou azul e preto? O conceito de “manda nude” ficou mais popular e todo mundo cantou Dark Horse, da Katy Perry, com a querida Júlia. Amamos? Amamos. 

2016

Os gráficos de 2015 e 2016 são bem parecidos: Twitter e YouTube na frente, com uma leve diferença na presença do Facebook na fonte de origem dos memes, que acabava de ultrapassar o Tumblr.

Imagem: Know Your Meme/Reprodução

Em 2016, o Vine morreu – mas não sem antes deixar uma marca profunda na internet. A rede social criou o conceito de segurarmos o smartphone em frente ao rosto para gravar um vídeo e editá-lo de forma rápida e irregular. Eram os primórdios do que viria a ser o TikTok, criado sob o nome de Musica.ly em 2016. 

Nos EUA, o que bombou foram paródias com o vídeo “We Are Number One”, baseado no clipe do programa televisivo infantil “Lazy Town”. Por algum motivo, o Brasil sacudiu o mundo dos memes e começou a Primeira Guerra Memeal contra Portugal (é óbvio que ganhamos huehue).

Imagem: Twitter/Reprodução

Tivemos pérolas como o “Não sou capaz de opinar”, da Glória Pires, Nazaré Confusa e Glória Maria na Jamaica. E, claro, muitos outros – foi mal Portugal, mas não tem como competir com a gente. 

2017

Em 2017, o Twitter começa a pautar a mídia de notícias. A forte presença do ex-presidente norte-americano Donald Trump causou uma onda de memes e engajamento que alavancou ainda mais a centralização da rede no discurso político.

Era o início, também, da onda de desinformação que causaria prejuízos mais tarde, na pandemia da Covid-19. Pela primeira vez, o Instagram superou o Facebook enquanto o 4chan vai perdendo cada vez mais espaço. 

Imagem: Know Your Meme/Reprodução

Neste ano, o meme destaque fica com o Bob Esponja – mais precisamente, zombando do personagem. 

“Como eu encaro as crianças quando elas olham fixo para mim por muito tempo”, diz o tuíte | Imagem: Twitter/Reprodução

2018

Chegou a hora dele: o TikTok! Pela primeira vez, o então novato surge na cena dos memes. A plataforma, fortemente inspirada no Vine, trazia como diferencial um algoritmo mais viciante e com mais tempo que seis segundos.

Imagem: Know Your Meme/Reprodução

Nos EUA, o meme do ano foi o Big Chungus, que parece ter saído do 4chan e se popularizado no Twitter, Reddit e YouTube em seguida. 

Já no Brasil, o meme “É verdade esse bilete” ganhou as redes sociais e virou assunto por meses. Em uma folha de papel, um menino de seis anos tenta encontrar argumentos para não ir à escola. A gente entende. 

Imagem: Twitter/Reprodução

O ano de 2018 também criou memes inesquecíveis como os tuítes antigos de Neymar (“Cheguei com a coca rapaziada”) e o famigerado “Levanta a cabeça, princesa, senão a coroa cai” – o conselho mais sábio já dito até então na televisão pela ex-BBB Jéssica.

2019

O ano que antecedeu a pandemia – em que todos éramos felizes e não sabíamos – foi o pico do Twitter até agora. Neste ano, o 4chan e Tumblr, até então importantes celeiros de memes, caem na ruína. 

Veja a comparação: o Twitter tem mais de 40% da influência na criação de memes, enquanto o Reddit, no segundo lugar, só tem 14,2%. 

Imagem: Know Your Meme/Reprodução

Em 2019 o meme mais popular com certeza fica com a mulher gritando com um gato na mesa – que, na verdade, são imagens separadas. O recorte da mulher faz parte de um episódio do reality “The Real Housewives of Beverly Hills”, de 2011. Já o gato apareceu no Tumblr em 2018. 

Imagem: Twitter/Reprodução

2020

Uau, chegamos em 2020. Que ano, hein? Aqui o TikTok salta para o segundo lugar na lista do ranking de espaços que mais produziram memes, com 24,9% de participação ante 36,9% do Twitter. É o salto mais drástico e rápido que qualquer outra mudança ano a ano vista até então! 

Não foi por acaso. A Covid-19 forçou todos nós a ficarmos muito mais tempo em casa – e o TikTok se encaixou perfeitamente neste tempo. 

Imagem: Know Your Meme/Reprodução

Em 2020, o meme do ano – uma irônica coincidência – foi o Coffin Dance, ou “meme do caixão”. Trata-se da união de uma cerimônia tradicional fúnebre de Gana, postada no YouTube em 2019, e a música “Astronomy” de Tony Igy. 

2021

No ano passado, as tendências de 2020 ganharam ainda mais força. Twitter e TikTok dominaram: cada um ocupou um terço das origens de meme da internet – talvez porque os dois são construídos principalmente para dispositivos móveis.

Imagem: Know Your Meme/Reprodução

Nos EUA, o meme que mais fez sucesso foi o “Pondering my Orb” – o sábio que pondera sobre sua “bola de cristal” saiu de um livro de fantasia de RPG de 1988. 

Imagem: Twitter/Reprodução

Aqui no Brasil o apelo do Pondering My Orb não foi lá essas coisas. O que fez sucesso mesmo foi o BBB 21 – motivo para memes até hoje com a Karol Conká e Lumena –, a Dani senta com carinho e o ônibus da Anitta do clipe Girl from Rio. Fizemos um compilado bem legal aqui.

2022

Até agora, o TikTok ultrapassou o Twitter e se tornou o número um na origem de memes. No gráfico, é possível ver a evolução das plataformas na influência da web ao longo dos anos – especialmente nos EUA. 

Imagem: Know Your Meme/Reprodução

A quantidade impressionante de mudanças nas redes e memes é mais uma prova sobre como a internet está longe de ser estável. É muito improvável que a internet do futuro seja igual à de agora, seja com o surgimento de novas plataformas ou com o metaverso, que ganha cada vez mais força mundo afora

E não é por acaso que relacionamos memes com influência. Mais que engraçados, essas figuras dizem muito sobre a forma como vemos e nos relacionamos com o mundo. Dos memes saem questionamentos importantes, como o combate ao racismo, sexismo e luta de classes, por exemplo. E, claro, sem eles a internet não tem a mesma graça.

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Julia Possa

Julia Possa

Jornalista e mestre em Linguística. Antes trabalhei no Poder360, A Referência e em jornais e emissoras de TV no interior do RS. Curiosa, gosto de falar sobre o lado político das coisas - em especial da tecnologia e cultura. Me acompanhe no Twitter: @juliamzps

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