70 anos de sonhos despedaçados do futuro com relógios inteligentes

Bem vindo ao futuro! proclamou um representante da Samsung durante a apresentação dos novos produtos da empresa em Berlim. Sim, algo de ficção científica! ele continuou. O representante estava usando o novo relógio inteligente Samsung Galaxy Gear, mostrando-o orgulhosamente para jornalistas na sala e geeks de tecnologia que acompanhavam tudo dos seus lares. O futuro […]

Bem vindo ao futuro! proclamou um representante da Samsung durante a apresentação dos novos produtos da empresa em Berlim. Sim, algo de ficção científica! ele continuou. O representante estava usando o novo relógio inteligente Samsung Galaxy Gear, mostrando-o orgulhosamente para jornalistas na sala e geeks de tecnologia que acompanhavam tudo dos seus lares. O futuro chegou… novamente, acredito.

A Samsung não está sozinha. A próxima revolução dos smartwatches começou a sério, com diversas empresas apresentando ou dando pistas de que farão algo assim. A Sony e a Qualcomm anunciaram novos dispositivos vestíveis recentemente, e dizem que a Apple está fazendo o seu também (apesar de ninguém esperar que eles lancem logo o produto). Mas com esses novos computadores vestíveis sendo mostrados, parece que se produtos como o Galaxy Gear são o melhor que as empresas têm a oferecer, os relógios inteligentes continuarão sendo um futuro que nunca aconteceu.

Você talvez lembre-se que assim como jetpack e carros voadores, os relógios com múltiplas funções são esperados há décadas. Parecemos fascinados com a ideia de vestir coisas no nosso pulso com funções para facilitar a nossa vida. Mas apesar de incontáveis visões e tentativas reais, os smartwatches ainda não deram certo.

Listamos uma pequena amostra dos relógios inteligentes do futuro idealizados no passado. Com tantos designs fracassados e previsões, qualquer tentativa de contar a história inteira seria loucura – não uma loucura muito diferente do que a jornada para desenvolver um smartwatch usável.

Relógio de pulso transmissor da Brunetti, 1948

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A ascensão dos circuitos impressos em eletrônicos de consumo após a Segunda Guerra Mundial deu ao mundo muita esperança para a possibilidade de prender incontáveis gadgets nos nossos pulsos. O Dr. Cledo Brunetti trabalhou no Escritório Nacional de Padrões durante a guerra, e ganhou muito crédito por esta tentativa de miniaturização que abriria as portas para os relógios inteligentes do amanhã.

O design de Brunetti para um rádio em miniatura ganhou a capa da revista Radio-Craft de abril de 1948 (vista acima). Brunetti teve atê um prêmio IEEE com o seu nome, considerando suas contribuições para “nanotecnologia e miniaturização nas artes de eletrônicos”.

Da Radio-Craft:

Quando se tornou necessário, durante a Segunda Guerra mundial, o design extraordinariamente pequeno de rádios que, no entanto, precisavam ser extremamente eficientes ao mesmo tempo, foi o Dr. Brunetti que solucionou muitos problemas ao tornar pequenos rádios possíveis.

Talvez a maior falha do relógio de pulso com rádio de Brunetti? Ele não falava o tempo. Uma pequena supervisão que seria rapidamente solucionada quando visões de relógios inteligentes ganharam força no fim dos anos 1950 e começo dos 60.

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O relógio de pulso com TV da década de 1960

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Como muitas tecnologias de hoje, muito do desenvolvimento inicial dos relógios eletrônicos tem suas raízes na Guerra Fria. Avanços em circuitos miniaturizados e baterias menores nos anos 1950 e 60 acabaram transformando os relógios de pulso de dispositivos mecânicos em maravilhas eletrônicas. E esta mudança foi o principal condutor que deu ideias futuristas malucas para miniaturização de qualquer gadget, e a possibilidade de colocar tudo no nosso pulso, de TVs a telefones, calculadoras e mais.

A edição de 17 de abril de 1960 da tirinha Closer Than We Think!, de Arthur Radebaugh, contava com uma visão de um relógio de pulso com TV, e transmissões direto da Lua. A tirinha de Radebaugh começou a ser publicada pouco após a União Soviética lançar o satélite Sputnik, e suas ideias mostram o otimismo tecnológico dos tempos de Guerra Fria.

E talvez poucas coisas representem melhor o futurismo da Guerra Fria nos Estados Unidos e as visões do amanhã da época do que esta imagem – eletrônicos de consumo (algo que os americanos já estavam avançados) que você poderia prender no pulso e mostravam algo transmitido da Lua (algo que os soviéticos já tinham conseguido fazer).

Televisão “pessoal” não está tão longe, graças a circuitos impressos, transistores em miniatura e outros desenvolvimentos.

Um pequeno modelo que pode ser ligado ao seu telefone já foi inventado pelo Bell Laboratories. Mas o Exército quer algo melhor. De acordo com o major-general Robert J. Wood, vice-chefe de pesquisa e desenvolvimento, TVs com o tamanho de selos postais poderão em breve ser usadas no pulso, cada uma com um número pessoal de discagem. Um homem poderá se comunicar com outro – em qualquer parte do mundo. E não deve demorar muito até que esses dispositivos sejam adaptados para uso civil.

O Bell Labs continuou as promessas na edição de novembro de 1962 da revista Boys’ Life. Jovens rapazes do baby boom no começo dos anos 60 tiveram a certeza de que a empresa Bell Telephone estava trabalhando em um telefone de pulso do futuro, mesmo que fosse para um “futuro mais distante” do que o videofone e o telefone de carro.

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Diversos dispositivos foram adaptados do mundo militar para o civil na segunda metade do século 20 (pense na internet, por exemplo). Mas o smartwatch não chegou nem perto do campo de batalha, e menos ainda da sala de estar.

O relógio inteligente de George Jetson

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Uma rápida busca de patentes no Google e você encontrará muitas pessoas que trabalharam com afinco nos bastidores da ciência pop para fazer as visões de smartwatch se tornarem realidade. Mas, com todo respeito à ciência aplicada, é a cultura popular que impulsiona a demanda.

Muitas pessoas no século 21 parecem esquecer disso, mas Os Jetsons eram, em sua essência, um programa de paródia, juntando todas aquelas ideias utópicas tecnológicas dos anos 50 e 60 de como seria o futuro e tirando sarro delas. Claramente inspirados por designers como Radebaugh, os Jetsons perceberam que se smartwatches estavam a caminho, crianças usariam eles para besteiras na sala de aula. A imagem acima é do episódio final da série original dos Jetsons e mostra uma criança assistindo um episódio de Os Flinstones momentos antes do professor-robô descobrir o que ela fazia.

Conheci uma criança na escola, em meados dos anos 90, que tinha um smartwatch mas não usava para brincadeiras – ele usava para colar em provas de matemática.

Dick Tracy e seu comunicador de pulso

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Eu seria negligente se não mencionasse o comunicador estiloso que todo escritor de tecnologia mencionou nos últimos seis meses: o relógio de pulso de Dick Tracy.

Desde a década de 1940 fabricantes de brinquedos fazem versões do relógio de Dick Tracy. Muitas dessas versões não iam muito além de um receptor de rádio com uma pulseira, enquanto outros chegaram a funcionar como um walkie talkie. Mas ele deu às crianças da era pós-guerra o sentimento de que grandes coisas (grandes coisas tecnológicas e futuristas!) estavam vindo. Os baby boomers certamente ouviram muitas promessas que nunca foram cumpridas, não é mesmo?

No episódio piloto produzido em 1967 de uma série de TV com atores reais de Dick Tracy que nunca foi lançado, podemos ver como o comunicador seria na vida real – alguns botões, um microfone, uma câmera e… um velocímetro?

“Ristos” dos anos 1970

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Os relógios inteligentes do amanhã amadureceram na década de 1970, quando satélites cações de tornaram realidade. Agora eles podiam ser imaginados como algo independente de limites geográficos ou sinal de rádio ou TV. Perdido no mar? Aperte um botão no seu smartwatch para pedir ajuda.

O livro infantil britânico de 1979 Future Cities: Homes and Living into the 21st Century imaginava que os relógios do futuro poderiam ser um telefone, um transmissor de rádio para emergências e até mesmo uma forma de votar nas eleições.

Não apenas o livro imaginou o relógio inteligente do futuro como também inventou um apelido para ele: o “risto”. Como qualquer pessoa que já tentou inventar um apelido para si mesmo sabe, isso é algo que acontece organicamente. Não é uma boa ideia dar um apelido para um produto antes dele ter a chance de fracassar no mercado. E… risto? Sério?

Do livro:

Os moradores das cidades do futuro poderiam ter um pequeno gadget de enorme benefício – um relógio de pulso com rádio e telefone. Com ele, você poderia falar com qualquer um, onde que que esteja.

O secreto para o sistema está nos satélites super-poderosos mostrados na página oposta. Os satélites de hoje são simples, apenas repetidores, com estações terrestres caras. Um satélite do futuro projetado para os rádios de pulso (que pode ser apelidado de “risto”) seria a parte mais cara do sistema. O risto seria vendido mais ou menos pelo mesmo preço de uma calculadora de bolso e não pesaria mais do que alguns gramas.

Novamente, a miniaturização de gadgets era uma aposta tecnológica segura nos anos 1970. Mas a aposta no preço é o mais surpreendente. Uma calculadora de bolso não era exatamente barata em 1979, mas foram barateando com o passar do tempo. Infelizmente o mesmo não pode ser dito da atual safra de relógios inteligentes – o Gear custa uma bolada de US$ 300.

A tentativa da Seiko nos anos 1980

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Após a Seiko lançar sua TV de pulso nos Estados Unidos em 1983, muita gente teve certeza que relógios de pulso com múltiplas funções seria a onda do futuro. Novamente.

Mas Jane Clifford descreveu o relógio como um “brinquedo caro” e fez comparações com Dick Tracy (claro) e alertou que ele poderia se tornar uma distração: “Imediatamente em mente estão visões de fãs de esportes no trânsito na hora do rush, tentando ver o último lance crucial do jogo de baseball.”

O maior problema do relógio TV da Seiko é que ele não era exatamente uma peça única, como você pode ver na imagem abaixo da edição de 13 de dezembro da Pacific Stars and Stripes.

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A lixeira retrofuturista

Computação vestível – seja em relógios inteligentes ou algo para colocar no rosto – supostamente é o futuro. Mas até agora parece que tudo não se passa de uma queimada de largada.

Se a comunidade de jornalistas de tecnologia é algum termômetro para como os relógios inteligentes vão ser recebidos pelo grande público, o bocejo coletivo de ontem não é um bom sinal para empresas como a Samsung. Surpreendentemente, a Samsung ainda teve coragem de sugerir que seu smartwatch pode ser à prova do futuro: “Embalado com as tecnologias da próxima década.”

Mas quando a coisa mais generosa que alguém tem a dizer sobre o seu produto é “nada especialmente ofensivo sobre o Galaxy Gear em particular…”, então você tem um problema. Seja um risto permitindo a democracia direta, ou uma TV recebendo sinal da Lua, o futuro é feito de visões ousadas – sejam elas ofensivas ou não. E, infelizmente para nós, parece que o grande futuro dos smartwatches ainda não vai acontecer – pelo menos não pelos próximos anos.

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