Ciência

A lenda era real: cientistas fotografam rato gigante pela 1ª vez

Uromys vika é uma espécie de rato gigante que vive em florestas da Oceania; comunidade local foi essencial para o trabalho de pesquisadores
Imagem: Tyrone Lavery/ Reprodução

Ele tem o dobro do tamanho de um rato comum, é capaz de roer cocos com seus dentes e vive entre as árvores da floresta. Sim, o gigante Uromys vika existe e foi visto recentemente por pesquisadores da Universidade de Melbourne e da Universidade Nacional das Ilhas Salomão. 

Até então, nenhum exemplar vivo do rato havia sido encontrado e documentado. Por isso, ele é um dos roedores mais raros em todo o mundo. Agora, os registros do animal foram publicados na revista Ecology and Evolution.

Protagonismo da comunidade Zaira

O único habitat do rato gigante é a floresta de Vangunu, que fica nas Ilhas Salomão, na Oceania. Por lá, também vivem os povos da comunidade de Zaira, que sempre alertaram pesquisadores que o animal ainda existia no local.

Segundo o estudo, o animal faz parte das lendas e da tradição oral da comunidade. Contudo, diversos cientistas já haviam buscado ao menos registros dos roedores, sem sucesso.

Tyrone Lavery, autor do novo estudo, realizou pesquisas intensivas de 2010 a 2015, utilizando diversas estratégias: armadilhas fotográficas, armadilhas de caixa de alumínio, focagem e até buscas dentro de árvores ocas.

Mas encontrou apenas registros de ratos pretos, comuns. Quando passaram a trabalhar com a colaboração dos povos Zaira, no entanto, o cenário mudou. E dois aspectos foram cruciais: a mudança do tipo de isca e a maneira de posicionar as câmeras.

Antes, os pesquisadores utilizavam manteiga de amendoim como isca, mas o alimento estragava com o tempo e deixava de cumprir sua função. Então, passaram a usar óleo de gergelim, o que fez os ratos começarem a aparecer em questão de dias.

Além disso, as dicas dos Zaira também facilitou os registros em imagens. “O conhecimento está com as pessoas. Eles são os guardiões do conhecimento local. Se não fosse por eles, não saberíamos onde colocar as câmeras”, disse o Kevin Sese, outro autor do estudo.

Dessa forma, eles conseguiram 95 fotografias de quatro ratos gigantes diferentes. 

Risco de extinção

O animal foi descrito pela primeira vez em 2017 e se tornou a primeira nova espécie de roedor das Ilhas Salomão em mais de 80 anos. No entanto, só um representante havia sido encontrado – um rato já morto, que vivia em uma árvore derrubada por madeireiros.

Mas o fracasso em identificar outros representantes do roedor indicavam que a espécie talvez não existisse mais. Embora os novos registros descartem essa ideia, a Uromys vika ainda é uma espécie considerada em risco de extinção.

Isso porque a região em que vive sofre com o desmatamento intenso e, agora, legalizado. De modo geral, a exploração madeireira sempre foi importante para a economia das Ilhas Salomão, que fica 12º lugar como maior exportador de madeira bruta do mundo. Os dados são Observatório de Complexidade Econômica

“As imagens mostram que o rato gigante de Vangunu vive nas florestas primárias de Zaira, e essas terras representam o último habitat restante para a espécie. A autorização para o desmatamento foi concedida, e se prosseguir, certamente levará à extinção do rato gigante”, afirmou Lavery.

De acordo com os pesquisadores, os povos Zaira têm lutado há muito tempo para que a floresta em que vivem seja reconhecida como uma área protegida.

Por isso, os cientistas esperam que a nova descoberta contribua nesse processo, fortalecendo a posição da aldeia. Agora que as imagens mostram que o Vika ainda está lá fora, ele espera que isso fortaleça o caso da aldeia.

Bárbara Giovani

Bárbara Giovani

Jornalista de ciência que também ama música e cinema. Já publicou na Agência Bori e participa do podcast Prato de Ciência.

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