“A Mulher Rei” com Viola Davis é alvo de boicote por “romantizar” escravidão

Com direção de Gina Prince-Bythewood, a estreia de “A Mulher Rei” está marcada para o dia 22 de setembro nos cinemas brasileiros. Acompanhe todos os detalhes da discussão envolvendo esse filme
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Imagem: Divulgação/Sony

A atriz Viola Davis está visitando o Brasil para promover “A Mulher Rei”, seu próximo filme de ficção histórica. O longa estreia nos cinemas nesta quinta-feira (22), retratando a história de uma guerreira lendária.

A produção já chegou aclamada por público e crítica especializada, com 95% de aprovação no Rotten Tomatoes e US$ 19 milhões de arrecadação no fim de semana de estreia nos EUA.

No entanto, “A Mulher Rei” provocou um debate feroz na internet nos últimos dias sobre Hollywood romantizar duras verdades do passado – incluindo a escravidão – algo que resultou em alguns pedidos de boicote ao filme.

Com direção de Gina Prince-Bythewood, o filme acompanha Nanisca (Viola Davis) que foi uma comandante do exército do Reino de Daomé, um dos locais mais poderosos da África nos séculos 17 e 19.

Durante esse período, o grupo militar era composto apenas por mulheres, entre as guerreiras está a filha de Nanisca, Nawi (Lupita Nyong’o). Juntas, elas combateram os colonizadores franceses, tribos rivais e todos aqueles que tentaram escravizar seu povo e destruir suas terras.

Conhecidas como as Amazonas Dahomey, ou Agojie o grupo foi criado por conta de sua população masculina enfrentar altas baixas na violência e guerra cada vez mais frequentes com os estados vizinhos da África Ocidental.

O que forçou Dahomey a dar anualmente escravos do sexo masculino, particularmente ao Império Oyo. E usou isso para troca de mercadorias como parte do crescente fenômeno do comércio de escravos na África Ocidental durante a Era dos Descobrimentos. Assim, mulheres fosse alistadas para o combate.

Levando em consideração esse contexto, os críticos que pedem boicote não têm problemas com Davis interpretando uma forte líder negra em “A Mulher Rei”, mas afirmam que a história da tribo Dahomey, que vendeu outros africanos como escravos, tenha sido “branqueada”.

“Hora de boicotar o filme Woman King. O filme é sobre Daomé e Benin que traficaram escravos para o transatlântico… Este pode ser o filme mais ofensivo para os negros americanos em 40-50 anos”, escreveu o advogado e produtor de Los Angeles Antonio Moore, acompanhado da #BoycottWomanKing.

“Essa é uma história difícil de contar. Minha visão como historiadora da escravidão e do tráfico atlântico de escravos no filme”, escreveu Ana Lucia Araujo. Segundo a historiadora, as críticas à tribo africana mostrada na tela, a Daomé, bem como seu regimento militar feminino, o Agodjie, são apresentados como liberadores, justos e empoderadores em todo o marketing do filme até agora. Porém, na realidade, eles estavam totalmente envolvidos no tráfico atlântico de escravos.

“A Mulher Rei – um filme aparentemente idolatrando uma nação africana TRAFICANTE DE ESCRAVOS, IMPERIALISTA, COLONIAL – pode ser criticado por tomar liberdades grosseiras e diluir fatos desconfortáveis. Em vez disso, ganha elogios por seu amor à liberdade“, escreveu um outro usuário no Twitter.

Dahomey foi uma das poucas tribos nos séculos 17/18/19 que capturaram e venderam escravos negros para os europeus – um meio de comércio que eles continuaram por um bom tempo. Até os britânicos realmente os forçaram a parar em meados de 1800. Alguns usuários do Twitter destacaram que o filme não faz alusão a nada disso e apenas mostra Viola treinando uma nova onda de recrutas para o Agodjie e lutando contra o que parecem ser colonizadores brancos em um confronto. Muitos dizem que o longa tenta “reescrever a historia”.

Por outro lado, alguns veem a hashtag como um movimento racista e sexista para fazer um filme liderado por uma mulher negra fracassar nas bilheterias. “Não confio em nenhuma hashtag que tente fazer um filme liderado por mulheres negras falhar. Vou ver por mim mesmo e se for ruim ou girar a história de forma negativa, que assim seja. Mas Viola e John vão receber meus dólares de cinema. Chupa isso, bots e operações”, escreveu Christa Tomlinson.

Outra mulher twittou: “NÃO #BoycottWomanKing Em vez disso, aprenda mais. O filme investiga os horrores do tráfico de escravos e como isso afetou as mulheres negras, especialmente. Não glorifica a escravidão, condena-a.”

“Muito disso é apenas misógino velado”, escreveu a produtora Princella D. Smith. “Obrigada! Muito disso é apenas misógino velado. As pessoas realmente odeiam ver mulheres de pele escura tendo uma plataforma diferente de muitos papéis e lutam por papéis amorosos. Eu vi o filme. Não branqueia o que estava acontecendo entre essas tribos africanas. NÃO #BoycottWomanKing”.

Entrevista da protagonista

Em entrevista com a Variety, Viola Davis e seu co-estrela, parceiro de produção e marido Julius Tennon defenderam o filme, primeiro expressando a futilidade de discutir com as pessoas nas mídias sociais. “Eu concordo com a [diretora] Gina Prince-Bythewood dizendo que você não vai ganhar uma discussão no Twitter”, disse Davis.

“Entramos na história onde o reino estava em fluxo, em uma encruzilhada. Eles estavam procurando uma maneira de manter sua civilização e reino vivos. Não foi até o final de 1800 que eles foram dizimados. A maior parte da história é ficcional. Tem que ser”, afirmou a atriz.

Tennon continuou descrevendo o filme como “edu-entretenimento”, insistindo que a produção tem “para entreter as pessoas” porque, caso contrário, “isso seria um documentário”. Ele defendeu o longa afirmando que “infelizmente, as pessoas não estariam nos cinemas fazendo a mesma coisa que vimos neste fim de semana. Não queríamos fugir da verdade. A história é enorme e há verdades sobre isso que estão lá. Se as pessoas querem aprender mais, podem investigar mais”.

Em última análise, Davis insiste que o filme examina mulheres que foram forçadas a lutar ou enfrentaram a morte. “Parte da história que me atingiu como artista foi que essas mulheres eram indesejadas. Elas foram recrutadas entre as idades de oito e 14 anos. Eram as mulheres que não eram consideradas desejáveis. Ninguém queria casar com elas, eram indisciplinados”, explica.

“Elas foram recrutadas pelo rei para lutar pelo reino de Dahomey. Elas não tinham permissão para se casar ou ter filhos. Os que recusaram o chamado foram decapitados. Isso também faz parte da história. As pessoas realmente estão sendo emocionalmente alteradas. Eu vi um vídeo do TikTok hoje de mulheres em um banheiro de um cinema AMC, e acho que elas não se conheciam. Todos cantavam e ruminavam. Isso não pode ser quantificado por palavras”, completou a atriz.

O que nos resta é assistir “A Mulher Rei” nos cinemas e tirar as proprias conclusões. A direção é de Gina Prince-Bythewood e o roteiro de Dana Stevens e Maria Bello. O elenco do filme conta ainda com John Boyega, Lashana Lynch, Hero Fiennes Tiffin e Sheila Atim.

A estreia de “A Mulher Rei” está marcada para o dia 22 de setembro nos cinemas brasileiros. Veja o trailer da produção:

Rayane Moura

Rayane Moura

Rayane Moura, 26 anos, jornalista que escreve sobre cultura e temas relacionados. Fã da Marvel, já passou pela KondZilla, além de ter textos publicados em vários veículos, como Folha de São Paulo, UOL, Revista AzMina, Ponte Jornalismo, entre outros. Gosta também de falar sobre questões sociais, e dar voz para aqueles que não tem

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