A NSA não faz ideia do que seja “transparência”

Em junho, quando os primeiros relatos baseados nos documentos vazados de Edward Snowden foram publicados, o presidente dos Estados Unidos Barack Obama defendeu os programas de espionagem da NSA. Ele falou até que eles eram “transparentes”. Mas o pessoal da NSA não age exatamente assim. Antes de falar sobre o mais recente sobre a agência, […]

Em junho, quando os primeiros relatos baseados nos documentos vazados de Edward Snowden foram publicados, o presidente dos Estados Unidos Barack Obama defendeu os programas de espionagem da NSA. Ele falou até que eles eram “transparentes”. Mas o pessoal da NSA não age exatamente assim.

Antes de falar sobre o mais recente sobre a agência, é importante lembrar o papel da NSA. É uma agência de espionagem. O trabalho deles é coletar informações relacionadas a ameaças à segurança nacional sem que essas ameaças saibam que as informações estão sendo coletadas. Então, reclamar que não sabemos o suficiente sobre o que a NSA está fazendo é algo contraproducente. Mas podemos responsabilizá-los. Se o presidente diz que a NSA é uma organização transparente, então ela tem que ilustrar isso. Se a agência de esforça para ser transparente, então devemo perceber este esforço. O que estamos vendo ultimamente, porém, não é nada disso.

Recentemente ficamos sabendo, por exemplo, que a NSA não é muito boa com números. Na noite de terça-feira, um artigo do Wall Street Journal mostrou detalhes preocupantes sobre quanto da internet a NSA tem acesso. Graças às suas relações questionáveis com grandes empresas de telecomunicações, a agência de espionagem pode monitorar até 75% do tráfego de internet nos Estados Unidos, através de programas com nomes como Blarney, Fairview e Lithium. Isso é bem mais do que a estimativa anterior de 1,6% da internet global, especialmente considerando que os Estados Unidos representam grande parte do tráfego mundial.

Matemática ruim é uma coisa, mas você prestou atenção em como a NSA trata as palavras? Ela trata como se elas simplesmente não existissem quando não se encaixam às suas necessidades. O The Washington Post divulgou na semana passada um artigo que falava em milhares de violações de privacidade cometidas pela NSA a cada ano. Isso sacudiu não apenas os leitores do Post como também a própria NSA, que fez uma conference call para responder algumas perguntas e disse que as violações “não eram maliciosas”. Mas você não vai ficar sabendo sobre essas violações em relatórios semestrais enviados pela NSA ao Congresso. O mais recente é redigido de maneira tão complicada que é quase impossível encontrar uma frase completa.

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Por um lado, é bom ver que a NSA tenta ser um pouco mais transparente ao liberar alguns números e não esconder totalmente seus relatórios. Por outro, é preocupante ver autoridades que prometeram mais abertura no governo dizendo que a NSA é uma organização “transparente”. É uma agência de espionagem, que cuida de segredos, e devemos criar expectativas pensando nisso. No entanto, se a NSA está realmente tentando ser mais transparente, está fazendo um péssimo trabalho.

Fazer uma NSA mais transparente é um trabalho complicado. É razoável assumir que um trabalho sigiloso vai ocorrer, e também é razoável que a agência mantenha os norte-americanos mais bem informados sobre atividades que afetem a vida deles. A NSA pode melhorar a comunicações com parlamentares como o Senador Patrick Leahy que recentemente disse que continua “preocupado que ainda não conseguimos respostas diretas da NSA.” Relatos cobertos em linhas pretas não são respostas diretas.

Há algum sentimento de esperança, no entanto. Apesar das declarações anteriores defendendo a NSA, Obama recentemente pediu uma série de reformas nas operações de espionagem do país, incluindo mais transparência da comunidade de inteligência e até do Departamento de Justiça. “Não é o suficiente para mim, como presidente, confiar nestes programas,” disse Obama em uma conferência. “O povo Americano precisa confiar neles também.” Bem, é um começo. [ProPublica. Imagem via AP]

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