O venerado telescópio espacial Kepler, da NASA, que descobriu aproximadamente 2.700 exoplanetas em sistemas estelares distantes, foi oficialmente aposentado depois de, por fim, ficar sem combustível, conforme escreveu a agência espacial norte-americana em um comunicado nesta terça-feira (30). Quando foi lançado em 2009, o telescópio foi aparelhado com “a maior câmera digital equipada para observações no espaço sideral da época”, descreveu a NASA, e os cientistas na Terra tinham um conhecimento muito limitado dos planetas além do alcance do Sistema Solar.
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Apesar de um defeito no sistema de direção e dos baixos níveis de combustível, a espaçonave de US$ 600 milhões permaneceu em ação por nove anos, fazendo 19 campanhas de observação — muito mais tempo do que sua missão prevista inicialmente, que duraria quatro anos. De acordo com o Verge, o Kepler agora está esperando um comando nas próximas duas semanas para desativar seu transmissor e outros instrumentos. Depois disso, ele irá silenciosamente se deslocar em uma órbita segura em torno da Terra (a uma distância de 151 milhões de quilômetros, embora essa distância deva aumentar ao longo do tempo).
Os cientistas da missão chegaram a se preocupar que a espaçonave pudesse ter ficado irreparavelmente ineficaz depois de um problema no sistema de direção em 2012, embora eles tenham, por fim, encontrado uma solução engenhosa em 2013, usando a pressão gerada pelos raios do Sol para compensar uma roda de reação falha, mirando-a em alvos de observação. Essa solução não restaurou a funcionalidade completa — o Kepler acabava conseguindo se direcionar por cerca de 83 dias por vez —, mas possibilitou o começo de outra fase de operações.
O telescópio também passou por problemas com um de seus propulsores por volta da época em que começou sua 19ª campanha de observação no fim de agosto deste ano e entrou em modo de hibernação, embora a NASA tenha conseguido trazê-lo de volta a serviço em setembro.
“Um dos oito propulsores mostrou desempenho não confiável, mas a equipe estimou que simplesmente remover o propulsor de uso durante disparos de precisão poderia resultar em um desempenho aceitável do sistema”, disse Alison Hawkes, porta-voz do Centro de Pesquisas Ames, da NASA, ao SpaceNews no mês passado. “Como resultado, as mudanças foram feitas, e a Campanha 19 foi, por assim dizer, iniciada”.
A nave funcionou mais ou menos com pouquíssimo combustível nos últimos meses. De acordo com o Space.com, a equipe da missão confirmou que suas reservas foram gastas duas semanas atrás.
“Como primeira missão de caça de planetas da NASA, o Kepler excedeu todas as nossas expectativas e abriu caminho para nossa exploração e busca de vida no Sistema Solar e além”, disse Thomas Zurbuchen, administrador associado da Diretoria de Missão Científica da NASA em Washington D.C., em comunicado da NASA. “Não só ele nos mostrou quantos planetas poderiam estar por aí como também desencadeou um campo de pesquisa totalmente novo e robusto que tomou a comunidade científica. Suas descobertas lançaram uma nova luz sobre o nosso lugar no universo e iluminaram os mistérios e as possibilidades tentadoras entre as estrelas.”
“Agora, por causa do Kepler, o que pensamos sobre o universo mudou”, disse o diretor da divisão de astrofísica da NASA, Paul Hertz, em entrevista ao Verge. “O Kepler abriu o portão para a exploração do cosmos.”
O sucessor do telescópio, o muito mais potente Transiting Exoplanet Survey Satellite (TESS), foi lançado em abril deste ano a bordo de um foguete Falcon 9, da SpaceX, e foi projetado para descobrir mais de 20 mil novos exoplanetas. Em algum momento, o TESS ganhará a companhia do telescópio espacial James Webb, que, apesar de estar uma bagunça agora, deve ser lançado em 2021.
Adeus, Kepler. E, embora você possa estar se encaminhando para uma escuridão a milhões de quilômetros de seu mundo natal, você mostrou que o cosmos pode não ser tão solitário, e suas contribuições não serão esquecidas. E vai saber… Talvez, um dia, alguém vá te buscar.
[NASA]
Imagem do topo: NASA (AP)