Governo japonês quer despejar águas residuais de Fukushima no Oceano Pacífico

Mesmo tratada, água ainda contém trítio, um isótopo radioativo do hidrogênio. Ou seja, ela ainda segue sendo tecnicamente radioativa.
Ativistas ambientais usando uma máscara do primeiro-ministro japonês Yoshihide Suga e roupas protetoras protestam contra a decisão do governo em Seul, na Coreia do Sul. Foto: Lee Jin-man (AP)

O governo japonês disse nesta terça-feira (13) que começaria a liberar no Oceano Pacífico a água contaminada do desastre nuclear ocorrido em 2011 na província de Fukushima. Este plano já era há muito esperado e está, compreensivelmente, incomodando muitas pessoas.

Cerca de 1,25 milhão de toneladas de água se acumularam em um local nuclear após o tsunami e terremoto de 2011. Esse desastre matou mais de 19 mil pessoas e causou o desligamento de três dos seis reatores da usina, desencadeando o pior acidente nuclear desde Chernobyl. Desde então, o governo mantém a água do local desativado em centenas de tanques de armazenamento enormes. Cerca de 170 toneladas de água são adicionadas a cada dia, e, nessa velocidade, o espaço para construir mais tanques para manter toda a água deve acabar no próximo ano, segundo o proprietário da usina.

A discussão sobre o que fazer com a água vem ocorrendo nos últimos sete anos. O governo frisou que a água foi tratada de forma a filtrar o pior do material radioativo. A Agência Internacional de Energia Atômica disse que a decisão de liberar água tratada no oceano está embasada em avaliações de impacto ambiental e é “usada rotineiramente por usinas nucleares em operação em todo o mundo”. Mas ela ainda contém trítio, um isótopo radioativo do hidrogênio. Pesquisas publicadas no ano passado também encontraram outros isótopos. Isso significa que a água é tecnicamente radioativa, o que complica ainda mais a situação.

Esse é um dos principais pontos de discórdia da comunidade pesqueira de Fukushima, que está vivenciando cotidianamente os resultados da tragédia há mais de 10 anos. Eles estão preocupados com qual será o prejuízo do despejo desta água radioativa para seus meios de subsistência. Após o desastre, mais de 20 países proibiram a compra de peixes da região.

“Este processo de tomada de decisão é bastante antidemocrático”, disse Ayumi Fukakusa, ativista da Friends of the Earth Japan, à NPR. “O governo e [o dono da usina] disseram que sem o consentimento das comunidades pesqueiras, eles não vão descarregar a água contaminada. Essa promessa foi completamente quebrada.”

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A Organização das Nações Unidas (ONU) disse ao governo japonês no mês passado que lançar a água contaminada no oceano violaria os direitos humanos dos cidadãos japoneses e de seus vizinhos coreanos, e autoridades da China e da Coreia do Sul criticaram o anúncio. Os críticos dizem que adquirir mais terras para construir mais tanques de armazenamento seria uma solução mais simples e segura, e que despejar água no oceano é simplesmente a opção mais barata. Por sua vez, o governo japonês disse que estava preocupado com a possibilidade de mais terremotos ou tsunamis causarem a ruptura e vazamento dos tanques, e que a criação de mais armazenamento interferiria nos esforços para tornar a área mais segura.

Apesar dessas preocupações, o governo japonês disse que começaria a liberar água em dois anos. Alguns sugeriram que os Jogos Olímpicos de Tóquio — o revezamento da tocha começará a menos de 32 km do local nuclear — estão acelerando a discussão sobre como descartar a água radioativa. Inclusive, “hotspots” de radiação já foram encontrados nas proximidades em 2019. Nos últimos anos, o governo japonês tem feito um esforço máximo para dar início à vida em áreas ao redor de Fukushima que foram afetadas pelo derretimento da usina, mesmo que as preocupações com a radioatividade permaneçam.

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