Com o próximo filme de Ridley Scott de sua clássica série Alien, agora é a hora perfeita para especular loucamente sobre extraterrestres. Em Alien: Covenant e muitos outros filmes como ele, nossos vizinhos cósmicos se revelam verdadeiros babacas. Eles sempre estão tentando conquistar a Terra, ou comer os humanos, ou fazer outras coisas esquisitas, como caçar Arnold Schwarzenegger na floresta. Se você não é o Arnold Schwarzenegger, isso costuma terminar bem mal.
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Alien: Covenant abertamente pega de onde Prometheus parou, exceto por focar em uma tripulação diferente tentando colonizar um planeta. Sem muitas surpresas, quando a tripulação encontra xenomorfos no estranho planeta, as coisas começam a dar errado. De acordo com Germain Lussier, do io9, não tem nada terrivelmente original ou assustador nisso, o que é um pouco decepcionante para os fãs do terror de suspense do primeiro filme da franquia. Isso também ajuda a levantar a questão: está finalmente na hora de sairmos desse cliché dos humanos serem trucidados por uma raça de alienígenas inteligentes porém sem piedade? Em uma escala de E.T. para Guerra dos Mundos, o quão diabólicos os aliens inteligentes realmente seriam?
Para obter respostas, falamos com Doug Vakoch, presidente do METI International, um grupo de cientistas que tentou se comunicar com vida extraterrestre ao mandar sinais de rádio no vazio. Sendo literalmente um caçador de alienígenas, Vakoch está familiarizado com o assunto e com os filmes de ficção científica que tão profundamente coloriram a nossa percepção do contato com alienígenas.
Gizmodo: Obviamente, ainda não achamos aliens. Mas se encontrássemos, você acha que eles seriam hostis? Indiferentes? Talvez um pouco simpáticos?
Doug Vakoch: É difícil adivinhar motivações alienígenas. Geralmente, os cientistas do SETI presumem que extraterrestres que sobreviveram tempo o bastante para fazer contato vão ter abandonado quaisquer traços de guerra que tiveram anteriormente em sua evolução. Se eles ainda não aprenderam a serem razoáveis uns com os outros, nosso raciocínio segue, eles não vão ter sobrevivido aos milhares ou milhões de anos necessários para ser uma civilização interestelar estável.
“Existe um lado positivo em transmitir: nós podemos intrigar os extraterrestres o bastante para fazê-los responder.”
Talvez ao invés de tentar antecipar com certeza como extraterrestres vão ser, nós podemos alcançar mais pensando em vários cenários. Por exemplo, Stephen Hawking nos avisou que não devemos transmitir mensagens para alienígenas, porque eles podem vir ao nosso planeta para minerá-lo. Mas isso é realmente realista? Eu acho que não. Antes de mais nada, no sentido econômico, de viajar pela galáxia para procurar algo que você encontra na sua própria vizinhança. Segundo, qualquer civilização que tem a habilidade de atravessar a distância entre as estrelas poderia já saber que nós estamos aqui, então nós não nos expomos em nenhum sentido tradicional ao transmitir sinais intencionalmente. Existe um lado positivo em transmitir: nós podemos intrigar os extraterrestres o bastante para fazê-los responder.
Gizmodo: Os aliens estariam sequer hipoteticamente interessados nos terráqueos?
DV: Minha resposta preferida para o Paradoxo de Fermi — se os alienígenas estão lá fora, por que não recebemos sinais deles? — é o fato de não estarmos tão interessados até agora. Talvez eles estejam monitorando nossos sinais de rádio e TV e não se impressionaram tanto. Na Hipótese do Zoológico, postulamos que os extraterrestres podem ser como cuidadores de zoológico galácticos, observando nossa espécie como se fôssemos animais no alojamento cósmico. E, até agora, tudo o que estão vendo é um monte de animais falando uns com os outros. Mas se você for ao zoológico alguma hora e de repente uma zebra se vira para você e começa a bater um monte de números primos com seus cascos, de repente você tem uma relação bem diferente com aquela criatura.
É isso que estamos tentando fazer com o METI — Messaging Extraterrestrial Intelligence (mandar mensagens para inteligências extraterrestres). Nós queremos que os aliens saibam que nós estamos interessados em uma conversa interestelar. Pode ser que termos a iniciativa seja um pré-requisito para descobrirmos que eles estão lá fora.
“Aliens pacíficos são meio chatos.”
Gizmodo: Que filme você acha que erra mais quando se trata de alienígenas? Por exemplo, eu acho que Sinais tinha o pior buraco na história de todos ao fazer os alienígenas serem alérgicos à água. O nosso planeta é cheio dela. Que bando de ETs burros!
DV: O filme sobre extraterrestre que eu mais odeio deve ser A Experiência, porque ele viola uma verdade fundamental: vai ser difícil, se não impossível, nos comunicarmos com alienígenas.
A premissa do filme é a seguinte: cientistas do SETI recebem uma resposta a uma mensagem transmitida por astrônomos em 1974 de um observatório de rádio Arecibo, em Porto Rico. Uma mensagem interestelar de três minutos que dá uma versão básica do nosso DNA, e eu quero dizer básica mesmo. Na verdade, qualquer extraterrestre recebendo essa mensagem teria dificuldade em entender que esse mapa de baixa resolução tem algo a ver com química, e se eles entendessem cada parte da mensagem como deveriam, teriam apenas a descrição mais básica dos elementos químicos do material genético em um humano, quantos átomos de hidrogênio, carbono, oxigênio, nitrogênio e fósforo existem nas diferentes seções do DNA. Esse tipo de coisa.
“Vai ser difícil, se não impossível nos comunicarmos com alienígenas.”
Em A Experiência, no entanto, os alienígenas conseguem usar a mensagem de Arecibo como um diagrama para reconstruir os humanos e ainda vão um passo além, mandando instruções para criarmos um humano, um híbrido de alien. Um híbrido supermodelo interpretado por Natasha Henstridge.
O outro grande erro científico do filme? O alien responde à mensagem de Arecibo que chegou apenas alguns anos depois da mensagem original ter sido mandada de Porto Rico. Na verdade, vai levar 50 mil anos para receber uma resposta, porque o destino é um conjunto de estrelas a 25 mil anos-luz de distância da Terra.
A Experiência tem uma coisa a seu favor. Ele antecipa os círculos na plantação de Cilbolton, encontrados ao lado do telescópio de rádio Chilbolton, no Reino Unido, onde uma versão modificada da mensagem de Arecibo apareceu de um dia para o outro. Infelizmente, a mensagem de Chilbolton é uma prova mais real de contato do que o filme A Experiência.
Gizmodo: Por que você acha que alienígenas são sempre agressivos em filmes de ficção científica?
DV: Na verdade, alienígenas pacíficos são meio chatos. Nós não vemos Game of Thrones porque todos são educados uns com os outros. Conflito em ficção chama atenção, e que melhor conflito do que a ameaça de aniquilação vinda de extraterrestres?
Mas nós pagamos um preço por essas visões terríveis de aniquilação. Elas podem ter um impacto sério na ciência. Quando Stephen Hawking diz “não devemos transmitir, porque quando uma civilização mais avançada encontra uma mais avançada, é um desastre para a menos avançada”, isso traz muitas dificuldades para o METI.
“Nós pagamos um preço por essas visões terríveis de aniquilação. Elas podem ter um impacto sério na ciência.”
É fácil enxergar filmes de invasão alienígena como ficção científica divertida. Mas seu impacto é muito maior. Nós não temos evidência concreta sobre como os extraterrestres vão se comportar. Então, para ter um guia, olhamos para Hollywood. Quando estamos tentando interpretar situações ambíguas, nós dependemos do que os psicólogos chamam de “heurística da disponibilidade”. Nós olhamos para as imagens mais vívidas e disponíveis ao nosso alcance e as usamos como guias da nossa razão.
O que poderia ser mais vívido conforme tentamos antecipar a natureza de extraterrestres em contato do que o último filme da franquia Alien? Mas isso torna essas imagens mais realistas? Nada poderia ser mais distante da realidade.
Gizmodo: Você acha realista encontrarmos vida alguma hora nas próximas décadas?
A chave para o sucesso do SETI, a busca por vida inteligente extraterrestre, é procurar em alvos suficientes. Nós sabemos agora que praticamente todas as estrelas têm planetas circulando ao redor delas, talvez tantos quanto cinco em cinco sistemas solares têm exoplanetas possivelmente habitáveis na distância certa para sua estrela suportar a vida. Ou talvez mais de um planeta, como no sistema estelar TRAPPIST-1. Então, existem vários lugares onde pode existir vida.
Em um assunto relacionado, através das últimas décadas nós descobrimos que a vida pode sobreviver aos ambientes mais hostis aqui na Terra, da tundra congelada do Ártico às aberturas termais no mar profundo, a fontes de ácido quentes, ao núcleo de reatores nucleares. Quando a vida começa, ela persiste. Então, estamos cada vez mais encorajados a acreditar que a vida pode sobreviver em planetas radicalmente diferentes da Terra.
“Como em A Chegada, nosso encontro com uma civilização extremamente diferente pode nos forçar a reexaminar algo tão fundamental quanto nossa noção de tempo, mas nunca vai nos deixar em contato com um novo melhor amigo. Para isso, nós precisamos nos aproximar dos outros aqui mesmo na Terra.”
Mas nós vamos encontrar exoplanetas o bastante para ter sucesso? Nas próximas décadas, com o lançamento do telescópio James Webb, nós podemos ser capazes de capturar a imagem da atmosfera de exoplanetas, dando dicas sobre a existência de vida microbiana indígena. A busca por vida extraterrestre inteligente também está aumentando. No observatório óptico SETI da METI no Panamá, nós já monitoramos milhares de estrelas por breves pulsos laser, que indicariam que civilizações avançadas estivessem mandando mensagens intencionais em nossa direção. Até agora, nós não encontramos prova direta de inteligência no cosmos. Mas, conforme o projeto se desenvolve, junto com outros, nossa chances aumentam dramaticamente a cada ano que passa.
Na próxima década, o projeto Listen planeja buscar sinais de civilizações ao longo de um milhão de estrelas, assim como em centenas de outras galáxias. Com esses números, nós temos uma chance razoável de encontrar ETs se eles estiverem por aí e tentar fazer contato.
Gizmodo: Qual o seu alienígena preferido de um filme de ficção científica ou programa de TV?
DV: Quando escolhemos nosso extraterrestre preferido, é natural pensarmos com quem gostaríamos de andar. Um ET carinhoso? Um Spock extremamente lógico? Quando vemos um filme, é natural nos projetarmos na ação. Eu gosto do recente filme A Chegada precisamente porque ele fez isso, ele trouxe os extraterrestres à Terra, e mesmo assim os cientistas incumbidos de entendê-los tiveram dificuldade em fazer sua linguagem fazer sentido. E isso parece realista para mim.
Os cientistas em A Chegada tentaram atribuir uma imagem positiva e não desafiadora a esses extraterrestres ao chamá-los de Abbott e Costello, mas esses aliens nunca viraram os melhores amigos de Amy Adams. E essa é a realidade de contatar extraterrestres. Como em A Chegada, nosso encontro com uma civilização extremamente diferente pode nos forçar a reexaminar algo tão fundamental quanto nossa noção de tempo, mas nunca vai nos deixar em contato com um novo melhor amigo. Para isso, nós precisamos nos aproximar dos outros aqui mesmo na Terra.
Imagem do topo: 20th Century Fox