Pesquisadores da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) constataram que suplementar a alimentação de suínos de corte com bagaço de uva pode ser uma alternativa para uma produção mais sustentável, mantendo a qualidade da carne desses animais. A pesquisa, publicada na segunda (4) na revista “Anais da Academia Brasileira de Ciências”, também indica que essa suplementação gera uma carne mais saudável e macia para o consumidor.
O trabalho avaliou os efeitos da suplementação da dieta de suínos com bagaço de uva, resíduo comum da produção vinícola do Rio Grande do Sul. Para os experimento, foram utilizados resíduos de bagaço de uva da Cooperativa Agrária São José de Vinhos Jaguari, da cidade de Jaguari, na região central do estado. Os resíduos foram preservados como silagem, uma forma de armazenamento em silos com ausência de ar. Esse material foi misturado na ração dos animais na proporção de 200 gramas para cada quilo em base seca, que pode ser o milho, por exemplo.
Ao todo, 48 suínos que receberam e não receberam a dieta foram avaliados ao longo de 84 dias. Esses animais foram criados em ambientes confinados e ao ar livre, com e sem acesso à vegetação. Os pesquisadores analisaram aspectos como a qualidade, textura e coloração da carne dos animais após o abate e também fizeram uma análise mais abrangente dos efeitos da dieta na carne suína, avaliando o teor de colesterol e o perfil de ácidos graxos. Voluntários treinados também foram convocados para provar o produto.
Os resultados indicam que o perfil de ácidos graxos e colesterol não se modificaram com a suplementação, em comparação às taxas dos animais alimentados com dieta à base de soja e milho. Por outro lado, a inclusão de antioxidantes provenientes do bagaço de uva promoveu uma melhoria na qualidade da carne, tornando-a mais saudável. Houve, também, uma diminuição na oxidação lipídica das carnes armazenadas sob refrigeração, o que aumentou seu tempo de duração.
Outro destaque é que a carne dos animais suplementados com bagaço de uva foi considerada mais macia pelos provadores durante a análise sensorial do produto, o que foi confirmado pela análise de textura. Caroline Giuliani, da UFSM e autora do artigo, explica que “o consumidor final se beneficia com uma carne mais saudável devido aos antioxidantes presentes nos resíduos da uva. Além disso, o bagaço da uva torna a carne mais vermelha e mais macia.”
A pesquisadora destaca, ainda, que o uso do bagaço pode ser vantajoso para os produtores de suínos. O resíduo descartado pelas vinícolas não tem custos, ao contrário das rações para animais compostas por milho e soja, sujeitas a variações de preço destes cereais. “O bagaço de uva reduz os custos para o produtor com a alimentação animal, sem alterar a qualidade da carne, além de gerar um produto mais sustentável”, complementa.
Com seus vinhos e espumantes reconhecidos, o Rio Grande do Sul é líder vitivinícola do Brasil, englobando as duas principais regiões produtoras do setor: a Serra e a Campanha Gaúcha, respectivamente. Com uma produção anual média de mais de 876 toneladas de uva, seus resíduos somam cerca de 25% da quantidade processada.
Os resultados da pesquisa agora podem ser considerados para uma implementação do uso de resíduos de uva em larga escala nas indústrias vinícola e suína, segundo Giuliani, visto que oferecem uma alternativa para tornar essas produções mais sustentáveis. “As vinícolas brasileiras geram grandes volumes de resíduos, muitas vezes descartados sem tratamento, o que impacta o meio ambiente”, observa a pesquisadora. Por isso, “utilizar esses resíduos na alimentação animal proporciona um destino sustentável e um aproveitamento adequado para eles”.