Facebook Home está prestes a mostrar que o Facebook não é o melhor em (quase) nada
O Facebook Home, que transforma a tela inicial do seu Android em uma vitrine para a Rede Social, começou a ser distribuído na última sexta-feira. Mas se você tem um Galaxy S III, Galaxy Note II ou importou algum aparelho high-end da HTC – únicos aparelhos compatíveis por enquanto – o Facebook Brasil avisa que ele só chega por aqui “nas próximas semanas”.
Como dissemos em nosso review, vale a pena instalá-lo – se você curte o Facebook – mesmo que seja apenas para provar uma experiência diferente, mais simplificada, no seu smartphone. Há outro bom motivo para testá-lo, no entanto: sentir como o Facebook está prestes a mostrar que tem sérias dificuldades em fazer com que seus produtos funcionem direito.
Primeiro, eles não conseguem fazer um software leve e capaz de rodar em muitos aparelhos – algo em que Google+ e Twitter, por algum motivo, acertam. Inicialmente, o Facebook Home só estará disponível em poucos smartphones, todos high-end, e o Gizmodo US listou os principais motivos para tanto. O Feed de Capa, que carrega diversas fotos e precisa criar uma experiência bem fluida, pode consumir muitos recursos. Os ícones de bate-papo, que ficam por cima de qualquer app que você abra, também. E lembre que, na maioria dos smartphones, essa integração do Facebook rodará por cima de TouchWiz, Optimus UI, Sense e qualquer outra skin que sua fabricante tenha colocado – o hardware precisa aguentar tudo isso.
Só que mesmo o HTC First, feito para o Facebook Home e sem skin de fabricante, sofre com engasgos e lags ocasionais na interface. Talvez o Facebook resolva isto nas atualizações futuras que prometeu lançar todo mês. Mas, como dissemos em nosso review, “a cada vez que algo engasga, você vai brevemente odiar o Home”.
Ainda há outro problema no Home: ele não exibe as notificações de apps que não sejam do Facebook – elas ficam na barra superior do Android, oculta por padrão. As outras notificações só aparecem no Home se ele saiu pré-instalado de fábrica no aparelho (como no HTC First). Sua experiência precisa ficar bem centralizada no Facebook para isso valer a pena.
Pelo menos o Facebook criou o Home depois de aperfeiçoar a experiência em celulares, certo? Não muito. Após Mark Zuckerberg admitir que o maior erro do Facebook foi “apostar muito no HTML5”, a rede mudou de estratégia no ano passado e investiu em apps nativos, tanto no iOS como no Android.
O desempenho melhorou, mas o problema permanece: os apps ainda são muito inchados, e tentam fazer mais do que deveriam. No Android, ele requer tanta memória para abrir que o Facebook precisou dar um jeitinho e alterar uma parte do sistema em versões mais antigas, como o Gingerbread.
O app do Android não perdeu importância com o Facebook Home – ambos vão coexistir no seu aparelho, e na verdade você deve usá-lo ainda mais. Além disso, o Facebook corresponde a 23% do tempo que as pessoas passam em smartphones. Quando sua experiência se centraliza na rede social, as falhas do app começam a irritar ainda mais.
À medida que o Facebook Home evolui, espera-se que ele comece a substituir outras partes do seu celular. Só que, mais uma vez, ele não faz isso bem.
Como ele se sai lidando com mensagens? O Facebook Home tenta unir SMS e o Messenger usando seus contatos na rede social e no Google – mas por enquanto, isso não dá certo. Os contatos ficam fragmentados e duplicados. Como dissemos no review, “o Home ainda não descobriu como unir seus contatos do Facebook e do Google de uma forma que não seja bagunçada”. O Facebook promete melhorar, mas será que consegue?
Ao lidar com fotos, o Facebook também não é o melhor. O Home fornece uma experiência bastante visual, mas bizarramente a interface não tem acesso rápido à câmera. E os esforços anteriores do Facebook em recriar a experiência de tirar fotos não deram muito certo. Lembra do app Facebook Câmera que surgiu no Android há quase um ano? Depois de ser criticado por acrescentar um atalho muito semelhante à câmera do aparelho, e por não ter nenhuma função além de se integrar à rede social, o app foi removido. Poucas semanas depois, surgiu o app Câmera do Facebook para iOS, basicamente um clone do Instagram, que não é atualizado desde o ano passado.
E, claro, o Facebook Home terá propagandas. Sem cobrar pelo acesso, a rede social tem que arranjar outras formas de ganhar dinheiro – afinal, eles não são uma instituição de caridade. Mas parece que o Facebook está forçando a barra: posts promovidos estão ganhando tanto destaque que os outros posts aparecem para cada vez menos pessoas. No esforço de promover páginas que seus amigos curtiram, o Facebook mostra até páginas curtidas por defuntos. E assim vai. Mas anúncios têm um limite: eles não podem irritar os usuários, senão eles largam a rede e ela perde valor.
É fácil imaginar o Facebook Home substituindo, aos poucos, cada componente do Android, para redirecionar você à rede social sempre que possível. Mas este futuro é um pouco temeroso pois, como aponta Mat Honan na Wired, o Facebook é medíocre.
O Facebook em si é um triunfo da mediocridade. Ele não é a melhor plataforma de comunicação… Não é o melhor app para compartilhar fotos, que seria o Instagram ou Flickr ou até mesmo o Snapchat. Certamente não é a melhor plataforma de apps, o melhor app de contatos ou o melhor serviço de mensagens. Da mesma forma, é bem fácil odiar o Facebook por suas políticas de privacidade, ou pelos anúncios irritantes, ou pelas coisas constantemente reorganizadas, ou pelo que seu tio maluco posta lá – faça a sua escolha. Mas o Facebook é realmente, realmente bom em conectar pessoas. E isso significa que ele pode ser apenas OK em todo o resto.
Você já sabia, eu já sabia, mas o Facebook Home deixa isso ainda mais evidente: se o Facebook não é melhor em nada além de conectar pessoas, o estímulo de permanecer na rede social quando seus amigos (uma hora ou outra) perderem o interesse é quase nulo. Na verdade, talvez você até agradeça por não ter que usar os apps ruins – os apps do Twitter e Google+ funcionam muito melhor. E à medida que o Facebook tenta dominar seu smartphone, os defeitos do software feito pela rede social começarão a ficar ainda mais evidentes. Se eles são realmente uma empresa “mobile first”, talvez eles consigam resolver tudo isso. Mas eu não esperaria muito deles.