Anéis de Saturno podem desaparecer em apenas 100 milhões de anos, sugere pesquisa
Com seu vasto sistema de anéis, Saturno está entre os mais belos planetas do Sistema Solar. Infelizmente, a sua beleza pode ser passageira, de acordo com novas pesquisas. Os anéis de Saturno estão se dissolvendo mais rápido do que os cientistas esperavam, segundo um estudo, e eles poderiam desaparecer em 100 milhões a 300 milhões de anos — um piscar de olhos no tempo cosmológico.
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Os anéis de Saturno são compostos principalmente de gelo de água, mas uma nova pesquisa publicada no periódico Icarus mostra que eles estão sendo atacados pela gravidade e pelo campo magnético do planeta, desencadeando um fenômeno conhecido como “chuva de anel”. Cientistas documentaram a primeira chuva de anel em 2013, mas novas pesquisas, lideradas por James O’Donoghue, do Centro de Voos Espaciais Goddard, da NASA, mostram que o efeito está acontecendo muito mais rápido do que o esperado, assim como a taxa na qual os anéis de Saturno estão se deteriorando, consequentemente.
Os cientistas não estão completamente certos se Saturno nasceu com seu belo halo ou se adquiriu seu sistema anelar mais tarde. Se for o primeiro caso, os anéis se formaram há cerca de 4,4 bilhões de anos, mas, caso seja o segundo, eles só se formaram há cerca de 100 milhões de anos, provavelmente como consequência de luas colidindo em órbita ao redor de Saturno, segundo pesquisa publicada em 2016.
Se o cenário de formação recente for verdadeiro, isso significa que Saturno não tinha anéis quando dinossauros saurópodes gigantes percorriam a Terra durante o Jurássico. Mas os dinossauros não tinham telescópios, então, não importava muito. Felizmente, os humanos têm telescópios em uma época em que Saturno tem seus gloriosos anéis. Dá para dizer que somos sortudos.
Versão de um artista de como Saturno pode parecer nos próximos cem milhões de anos. Os anéis mais internos desaparecem à medida que chovem no planeta, muito lentamente seguidos pelos anéis externos. GIF: NASA/Cassini/James O’Donoghue
“Temos sorte de estar aqui para ver o sistema anelar de Saturno, que parece estar no meio de sua vida”, disse O’Donoghue em um comunicado. “No entanto, se os anéis são temporários, talvez tenhamos perdido a oportunidade de ver os sistemas anelares gigantes de Júpiter, Urano e Netuno, que têm apenas anéis finos hoje.”
De qualquer forma, quando as sondas Voyager visitaram Saturno há várias décadas, elas detectaram a atmosfera superior eletricamente carregada do gigante gasoso, ou ionosfera, juntamente com variações de densidade em seus anéis e três faixas escuras e estreitas que circundam as latitudes do norte do planeta.
Em 1986, cientistas da NASA ligaram essas faixas estreitas e escuras à forma do campo magnético substancial de Saturno. Essas observações aparentemente não relacionadas levaram à teoria de que as partículas eletricamente carregadas dos anéis de Saturno estavam fluindo ao longo de linhas de campo magnético — um processo que resultou no despejo de água de seus anéis em sua ionosfera, criando as faixas estreitas vistas nas imagens da Voyager.
Da Terra, os anéis de Saturno parecem pacíficos, mas pedaços de gelo de água — que variam em tamanho, de grãos de poeira microscópicos a rochas gigantes — são pegos em um grande cabo de guerra neles. Os anéis estão em um delicado exercício de equilíbrio, presos entre a força gravitacional de Saturno e o puxão gravitacional e rebocadores orbitais que os arrastam para fora, em direção ao espaço. Esse equilíbrio fica perturbado quando partículas de gelo são carregadas pela luz ultravioleta do Sol, fazendo com que as partículas desçam em direção ao planeta ao longo de suas linhas de campo magnético, com a gravidade fornecendo um impulso adicional.
Esse processo, no qual a água interage com a ionosfera do planeta, pode, na verdade, ser detectado da Terra. Para o novo estudo, O’Donoghue usou o Telescópio Keck, em Mauna Kea, no Havaí, para detectar e medir essas interações químicas líquido-ionosfera. Sua equipe comparou a luz nas latitudes norte e sul do planeta para determinar a quantidade de chuva que cai dos anéis, entre outras observações.
Incrivelmente, os pesquisadores estimam que entre 432 a 2.870 quilos de água estão vazando dos anéis de Saturno a cada segundo. A essa taxa de perda, os anéis devem desaparecer em cerca de 292 milhões de anos.
O’Donoghue diz que essa quantidade de chuva nos anéis pode encher uma piscina olímpica em apenas meia hora. Outras evidências coletadas pela sonda Cassini, no entanto, sugerem uma data de validade ainda mais precoce. A Cassini mediu a queda de material do anel no equador de Saturno a uma taxa que sugere que “os anéis têm menos de 100 milhões de anos de vida”, disse O’Donoghue no comunicado, acrescentando: “Isso é relativamente curto, comparado com a idade de Saturno de mais de quatro bilhões de anos”.
Devo dizer que esse estudo está me deixando bem chateado. É triste pensar em Saturno sem seus anéis, mesmo que seja daqui a milhões de anos. Quando (e se) isso acontecer, nosso Sistema Solar será consideravelmente menos espetacular do que é hoje. Mas vai saber… Talvez outro planeta ganhe seu próprio sistema anelar até lá.
[Icarus]