Apoiadores de Trump receberam mais de US$ 500 mil em bitcoins de um doador misterioso
Pelo menos 22 indivíduos e grupos, a maioria deles apoiadores do presidente dos EUA, Donald Trump, receberam cerca de US$ 520 mil em bitcoins um mês antes da invasão do Capitólio, de acordo com o Yahoo News. Não há evidências de que a movimentação tenha vínculo com o ataque ao Congresso americano, mas a sequência de fatos está levantando muitas questões.
Ao todo, 28,15 bitcoins foram distribuídos por uma entidade vinculada a uma corretora de criptomoedas francesa. Entre os que receberam, estão o site neonazista Daily Stormer, o site anti-imigração Vdare, a rede social de extrema direita Gab e o site de compartilhamento de vídeos Bitchute. As informações são da empresa de pesquisa de blockchain Chainalysis.
De acordo com os pesquisadores, a pessoa que supostamente teria enviado o dinheiro a esses grupos de extrema direita fez um post em um blog que parece uma carta de suicídio. A companhia, porém, não conseguiu confirmar o que realmente aconteceu. Ela não identifica o autor da carta, mas reproduziu grande parte do material em seu site. A Chainalysis não respondeu a um e-mail enviado nessa sexta-feira (15).
A companhia de pesquisa também postou um gráfico no Twitter identificando por onde passaram esses bitcoins do misterioso doador até chegarem nos destinos. Quase metade dos US$ 520 mil foram para Nicholas Fuentes. Ele é uma personalidade da extrema direita na Internet e foi expulso do YouTube em fevereiro de 2020 por negar o Holocausto e disseminar teorias da conspiração. Fuentes estava no comício de Trump perto do Capitólio em 6 de janeiro, mas nega ter entrado no prédio.
“Não devemos sair do Capitólio até Donald Trump ser empossado presidente”, disse Fuentes um dia antes, em 5 de janeiro, segundo informações da agência de notícias MLive, de Michigan. “Nós, o povo americano, não vamos deixar essa eleição fraudulenta dar mais um passo.”
Fuentes também fez comentários incendiários em sua transmissão ao vivo antes do ataque ao Capitólio, incluindo conversas sobre matar membros do legislativo que se opõem a Trump.
“Por que, porque não tínhamos influência, o que vamos fazer? O que você e eu podemos fazer com um legislador estadual, além de matá-lo?” disse Fuentes em 4 de janeiro, durante outra transmissão ao vivo. “Embora não devamos fazer isso. Não estou aconselhando isso, mas quero dizer, o que mais você pode fazer, certo?”
Fuentes não respondeu à mensagem enviada na manhã de sexta-feira.
Other far right figures who received Bitcoin in the donation include Patrick Casey, Vincent Reynouard, and Ethan Ralph, as well as platforms and websites like the Daily Stormer, VDARE, and Gab. https://t.co/LznOztFphH pic.twitter.com/tgTjbvVlnQ
— Chainalysis (@chainalysis) January 14, 2021
Outros destinatários do dinheiro, de acordo com a Chainalysis, incluem Patrick Casey, Ethan Ralph, a Unz Review, Vincent Reynourard, Lukesmith.xyz e ruqqus.com.
O site Vdare, comandado por um ex-redator do site de extrema direita Daily Caller, parece ter recebido cerca de 3,3% da doação total. Isso dá pouco mais de US$ 17 mil, com base na cotação do bitcoin na época.
O Daily Stormer é outro site famoso que está na lista. Fundado em 2013 por Andrew Anglin, ele é um dos sites neonazistas mais populares da internet. A publicação foi excluída de várias plataformas desde então e teve dificuldades para encontrar serviços dispostos a hospedá-la. O site, porém, parece estar funcionando neste momento.
O FBI não respondeu ao nosso pedido de comentário e provavelmente não falaria sobre qualquer investigação em andamento. Mas, se você der uma olhada nas entidades que fazem negócios com a Chainalysis, é bem provável que os investigadores já tenham sido avisados.
Em um comunicado, a Chainalysis diz:
A Chainalysis é um parceiro estratégico para agências governamentais e empresas do setor privado em todo o mundo, fornecendo dados, software e experiência em conformidade e crimes sofisticados de criptomoeda e táticas, técnicas e procedimentos de lavagem de dinheiro.
Parece que eles são meio espiões, né? De acordo com registros de contratação, a empresa já prestou serviços várias vezes para o FBI e outros órgãos de investigação e segurança pública dos EUA.