Apple Music pode ultrapassar o Spotify nos Estados Unidos

Todo o mundo sabe que a Apple é rica e poderosa. Então, poucos ficarão surpresos de saber que, apesar de chegar tarde à festa, a empresa de Cupertino agora parece estar vencendo umas batalhas importantes na guerra do streaming de música. De acordo com o Wall Street Journal, o Apple Music está prestes a destronar o […]

Todo o mundo sabe que a Apple é rica e poderosa. Então, poucos ficarão surpresos de saber que, apesar de chegar tarde à festa, a empresa de Cupertino agora parece estar vencendo umas batalhas importantes na guerra do streaming de música. De acordo com o Wall Street Journal, o Apple Music está prestes a destronar o Spotify como serviço de streaming de música mais popular dos Estados Unidos. Aliás, ela pode já tê-lo feito.

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A reportagem do WSJ é necessariamente incompleta, embora suas conclusões pareçam inevitáveis. Pelo fato de Spotify e Apple não reportarem números precisos, o jornal peneira o que já sabemos sobre o crescimento de cada empresa, além de usar estimativas para prever quantas pessoas (que pagam ou não) estão usando os serviços. Pessoas não reveladas na indústria da música e que conhecem os valores disseram ao WSJ que o Apple Music está ganhando novos usuários nos EUA a uma taxa de crescimento mensal de 5%, enquanto o Spotify fica atrás, com 2%. Não são necessárias muitas contas para perceber que a Apple representa uma ameaça real ao Spotify em algo que o Spotify basicamente inventou dez anos atrás. O sucesso do Apple Music deve parecer quase insultante para o Spotify, também, já que a empresa sueca estaria, supostamente, preparando uma oferta pública inicial.

Esses números apenas fornecem parte do cenário, no entanto. Embora o Spotify tenha dito que alcançou 70 milhões de usuários globais no mês passado, parece que o Apple Music e seus 36 milhões de usuários globais estão agora dominando o mercado norte-americano, que calha de ser também o maior mercado de música do mundo. Em seu último relatório de ganhos, a Apple não especificou quantos assinantes eram dos EUA, embora tenha dito que sua categoria de serviços, da qual o Apple Music faz parte, viu um salto de 18% nas receitas. Mesmo sem os milhões e milhões de pessoas atualmente aproveitando seus testes gratuitos, o número de usuários norte-americanos do Apple Music agora é aproximadamente igual ao do Spotify, segundo o Wall Street Journal. Se você incluir esses testes gratuitos e presumir que vários deles vão se esquecer de cancelar a assinatura quando a conta chegar, o Apple Music pode já estar derrotando o Spotify nos Estados Unidos.

Essas são estatísticas vertiginosas, mas é aqui que entra em jogo a inevitabilidade. Pelo fato de todos os dispositivos Apple virem pré-carregados com a Apple Music, vários usuários do serviço começam a usá-lo por não conhecerem melhor as ofertas de outros. Ele se tornou o equivalente musical da Microsoft empurrando o Internet Explorer para as pessoas. A grande diferença é que as pessoas uma hora têm que pagar pelo Apple Music, que custa o mesmo que o Spotify (no Brasil, ambos saem por R$ 16,90). Como muitos suspeitaram quando ele foi lançado, o Apple Music esteve sempre fadado a fazer sucesso simplesmente porque a Apple é grande e rica o suficiente para conseguir isso.

Foto: Getty

Pense desta maneira: o Spotify ganhou traçou rapidamente depois de seu lançamento em 2011, em grande parte porque os entusiastas da música haviam visto seu modelo de streaming ter sucesso globalmente e queriam testar essa coisa nova maneira. Afinal de contas, não havia nada parecido na época, e os norte-americanos amam se sentir inovadores. Mas, uma hora, o Spotify deixou de parecer especial e novo.

Conforme os anos se passaram, praticamente toda grande empresa de tecnologia lançou seu próprio serviço de streaming de música. O Google Play Music foi lançado apenas alguns meses depois do lançamento do Spotify nos Estados Unidos, sendo seguido por Amazon Prime Music, YouTube Music e Tidal ao longo dos anos seguintes. Todos esses serviços ofereciam dezenas de milhões de músicas, assim como o Spotify, e todos custavam em torno do mesmo preço.

E então, em 2015, a Apple revelou o Apple Music, que era, na verdade, uma versão repaginada do Beats Music, parte da aquisição do Beats por parte da Apple por US$ 3 bilhões. Estava claro como o novo serviço faria sucesso. Pelo fato de a Apple poder pré-carregar o serviço em iPhones, Apple Watches e Macs, a empresa pôde efetivamente aproveitar um novo fluxo de receita sem de fato inventar nada. E uma vez que essas pessoas estivessem pagando as mensalidades, a Apple conseguia mantê-las presas adicionando conteúdo exclusivo, como o último álbum do Chance the Rapper. A Apple até convenceu (leia-se: pagou) Taylor Swift a tornar os direitos de streaming de suas músicas exclusivos no Apple Music por um ano e meio.

Também está cada vez mais claro que a Apple quer que as pessoas assinem o Apple Music por mais do que apenas a música. A empresa está prestes a começar a fazer programas de TV de alta qualidade e, um dia, filmes. Nos últimos meses, a Apple assinou, em silêncio, contratos com pesos-pesados como Steven Spielberg, Reese Witherspoon, Jennifer Aniston, Dr. Dre, Kristen Wiig e Ronald D. Moore, que fez fama em Battlestar Galactica.

Não está claro como a Apple vai distribuir todo esse conteúdo premium em vídeo, mas desde que os primeiros programas de TV da Apple, como Carpool Karaoke, estrearam no Apple Music, pode apostar que novos e melhores programas também vão. Dito isso, tentativas passadas da Apple em programação original foram fracassos de dar pena, vai saber o que vai acontecer.

O que sabemos é que a Apple vai vender vários HomePods nos próximos meses. O novo alto-falante inteligente com a Siri vai se juntar a Amazon Echo e Google Home na grande missão de colocar um assistente de voz em todos os lares dos EUA. Diferentemente de seus concorrentes, no entanto o HomePod vai favorecer os produtos da Apple. Isso significa que você pode pedir à Siri para tocar Daft Punk no Apple Music, mas você não pode pedir para a Siri tocar Daft Punk no Spotify. Você só conseguirá usar serviços que não o Apple Music conectando ao HomePod por meio do AirPlay. A Siri simplesmente não oferece suporte ao Spotify no HomePod.

Nada disso significa que o Apple Music seja melhor que o Spotify. Também seria inocente acreditar que o Spotify deixará de existir. Entretanto, se os números do Wall Street Journal estiverem corretos e a tendência continuar, o Spotify pode deixar de ser sinônimo de streaming de música — pelo menos nos EUA. Parece que a Apple vai vencer de novo — não porque o azarão não consiga hackeá-la, mas porque o dinheiro pode, sim, comprar o sucesso.

Imagem do topo: Getty

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