A ararinha-azul, que estrela o filme Rio, foi considerada “provavelmente extinta na natureza” após um estudo do grupo BirdLife International. Embora o personagem Blu tenha conseguido salvar a sua espécie no filme depois de se apaixonar e ter filhinhos fofos, a realidade não é nada parecida com a ficção.
• Águia, coruja e alguns periquitos: as belas imagens de prêmio de melhores fotos de aves de 2018
• Cientistas descobriram o primeiro tubarão que se alimenta de carnes e vegetais
As ararinhas-azuis são apenas uma das oito espécies que estão extintas ou provavelmente extintas na natureza, de acordo com uma análise de oito anos realizada pelo grupo de conservação BirdLife International, que foi publicada nesta quarta-feira (5).
O estudo avaliou espécies consideradas “criticamente ameaçadas” na lista vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) usando um novo método estatístico.
A nova abordagem dos cientistas apontou correspondência de 80% com a atual classificação de espécies da lista vermelha da IUCN e, segundo os pesquisadores, as exceções refletem espécies cuja reclassificação estava pendente a partir do resultado dessa pesquisa. Como consequência, eles recomendaram que nove espécies fossem reclassificadas.
De oito prováveis extinções, cinco aconteceram na América do Sul. Os pesquisadores culpam o desmatamento.
“Noventa por cento das extinções de pássaros nos séculos recentes aconteceram em ilhas”, conta Stuart Butchart, cientista chefe da organização e líder do estudo que deve ser publicado na próxima edição da Biological Conservation, em um comunicado à imprensa. “No entanto, os nossos resultados confirmam que há uma onda crescente de extinção nos continentes, impulsionada principalmente pela perda de habitat e degradação a partir de agricultura não-sustentável e desmatamento”.
As florestas tropicais perderam 39 milhões de acres de cobertura de árvores em 2017. Isso é prejudicial para os animais que têm as árvores como suas casas. A ararinha-azul, que já cruzou a região próxima do rio São Francisco, não é a única a sofrer.
Há ainda a arara-azul-pequena, também nativa do Brasil. Outras aves que o novo estudo recomenda reclassificar como extintas ou possivelmente extintas na Lista Vermelha IUCN incluem o gritador-do-nordeste e o Limpa-folha-do-nordeste, também do Brasil.
A trepadeira-de-cara-preta, um pássaro impressionante com um rosto todo preto, já não é visto em seu país natal, o Havaí, desde 2004, e também entrou na lista.
Os autores pesquisaram 61 espécies de pássaros que não são vistos há mais de 10 anos ou que foram vistos nos últimos 10 anos mas sofreram grandes declínios. A partir daí, eles examinaram toda a literatura disponível sobre os animais – 819 registros e 356 pesquisas no total – além de consultas aos especialistas que estudaram essas aves.
Controlando a possibilidade de identificar incorretamente as espécies, o estudo avaliou a probabilidade de que algum tipo de ameaça tenha acometido a espécie. Além disso, avaliaram se essas ameaças foram suficientemente severas para causar impacto na espécie.
Com tudo isso em mente, os autores chegaram a uma triste conclusão.
Embora a ararinha-azul não seja vista na natureza há mais de 18 anos (sem contar o registro de uma ave solitária em 2016), cerca de 80 delas ainda estão vivas em cativeiros, segundo a BirdLife International.
Algumas delas devem vir da Europa para o Brasil no ano que vem e, segundo o governo brasileiro, os números são um pouco diferentes. O Ministério do Meio Ambiente diz que há 158 ararinhas-azuis no mundo e que, atualmente, 11 delas estão em território nacional.
O relatório dos pesquisadores não é feito sem base científica, mas sempre há esperança de que existam algumas ararinhas-azuis e outras aves citadas no estudo espalhadas pela natureza, escondidas profundamente nas florestas tropicais.
Imagem do topo: Ararinhas-azuis em cativeiro. Crédito: AP
Colaborou: Alessandro Feitosa Jr.