A situação de Julian Assange, fundador do Wikileaks, como convidado indesejado na embaixada do Equador em Londres está ficando cada vez mais delicada. De acordo com informações da CNN e do Times of London, ele pode ser expulso de lá a qualquer momento.
Assange está escondido na embaixada desde 2012, quando começaram a aparecer as primeiras investigações sobre estupro na Suécia — desde então, o processo foi arquivado. Ele também buscava proteção para um provável pedido de extradição por parte dos EUA, por vazar informações confidenciais.
Fontes ouvidas pelo Times na quinta-feira reportam que o presidente do Equador, Lenín Moreno, disse em Madri que ninguém deveria ficar em asilo “por tanto tempo” e que as negociações com o governo britânico podem ter resultado em um acordo para que ele não seja condenado à morte.
O Times of London também diz que indivíduos próximos do caso acreditam que a estadia de Assange vai terminar muito em breve, apesar de ninguém saber exatamente quando.
Um membro da equipe de Assange disse que a crise disparou planos de contingência para ele sair em “horas, dias ou semanas”. O assistente criticou Moreno, dizendo que ele deveria ter “mais coragem”.
Uma fonte com conhecimento detalhado do caso disse: “Eu acho que [Assange] deve perder seu status de asilo iminentemente. Isto significa que ele será expulso da embaixada. É impossível dizer quando isso vai acontecer.”
Moreno vê a situação de Assange como um problema deixado pelo seu antecessor, Rafael Correa. A pressão para resolver o caso vem crescendo há algum tempo.
Em março, a embaixada cortou o acesso de Assange à internet, dizendo que ele havia violado um acordo para não interferir nas relações internacionais do Equador.
Possivelmente, isso tem a ver ele não sair do Twitter, às tentativas de garantir a bondade de Donald Trump Jr., ao apoio ao movimento de independência da Catalunha, ao alinhamento cada vez maior com uma série de figuras controversas da extrema-direita, como nacionalistas europeus.
Depois, Moreno confirmou que Assange poderia ficar, desde que ele causasse menos dor de cabeça. Mesmo assim, a situação continuou piorando. Relatos dão conta de que o governo equatoriano gastou milhões na segurança do fundador do Wikileaks, incluindo com o monitoramento de seus convidados.
Como a CNN nota, acusações feitas pelo conselheiro especial Robert Mueller deixam claro que o governo norte-americano acredita que o Wikileaks foi usado como um front da inteligência russa para vazar e-mails do Partido Democrata durante a eleição de 2016, como parte de uma suposta campanha de propaganda e desinformação.
Estes documentos também indicam que os EUA têm evidências de que Assange conspirou com suas fontes para que os vazamentos fossem feitos em momentos certos para causar o dano máximo aos Democratas.
Não se sabe se Muller formalizou acusações secretas sobre outros assuntos. No entanto, já é claro há algum tempo que autoridades provavelmente estão planejando processá-lo por divulgar milhares de documentos militares confidenciais. Entregues a ele por Chelsea Manning em 2010, estas informações revelaram crimes de guerra cometidos pelos EUA.
O procurador-geral Jeff Sessions falou abertamente sobre sua intenção de indiciar Assange por isso, uma posição também reforçada por Mike Pompeo, secretário de Estado.
É bastante curioso que Assange deva cair, em última análise, por expor massacres de civis e outras atrocidades, mas também revela sobre o tanto que a comunidade de inteligência dos Estados Unidos quer pegá-lo.
Jennifer Robinson, integrante da equipe jurídica de Assange, disse à CNN que o Wikileaks continua negando qualquer conhecimento de que fontes estatais russas estavam repassando a eles os e-mails.
“Para nós, protegê-lo da extradição para os EUA é primordial, e os princípios fundamentais devem ser respeitados”, diz Robinson a CNN. “Uma situação em que um editor seja mandado para os EUA por sua atividade não deveria existir. Nós vamos, se necessário, lutar contra sua extradição na justiça britânica.”
Como nota a CNN, as autoridades do Reino Unido também estão bastante atentas à situação. O Ministro das Relações Exteriores, Alan Duncan, disse que sua “primeira prioridade” é resguardar a saúde de Assange, “que nós achamos que vem se deteriorando”. De acordo com o Times of London, a médica de Assange, Sondra Crosby, disse ter dúvidas se o fundador do Wikileaks conseguiria suportar uma onda de calor no verão europeu.
O governo britânico confirmou à CNN que discussões diplomáticas para garantir a segurança de Assange estão “em curso”. Entretanto, não se sabe que tipo de concessões ele poderia receber, nem o que os oficiais do Reino Unido estão chamando de segurança.
Por exemplo, a confirmação de que ele não será condenado à morte ou torturado não conta muito, já que era improvável que alguma dessas duas coisas acontecesse em caso de extradição para os EUA.
Outra discussão complicada é a da cidadania equatoriana, que foi dada a ele em uma tentativa infrutífera de que ele pudesse sair da embaixada sem impedimentos.
É possível que os rumores da saída iminente do fundador do Wikileaks sejam parte de uma campanha de vários interessados em determinar o que acontecerá com ele depois de uma saída forçada da embaixada. Dito isso, também é que ele seja chutado de lá a qualquer momento, com ou sem um acordo selado.
[CNN e Times of London via Engadget]
Imagem do topo: Carl Court (Getty Images)