Ciência

Astronautas terão que levar insetos se quiserem comer em Marte

Segundo estudos, as excreções dos insetos podem fertilizar solos inóspitos, como o de Marte, viabilizando o cultivo de alimentos
Imagem: Wikimedia Commons/ Reprodução

De acordo com alguns astronautas, viajar para o espaço é quase como acampar. Isso porque eles levam comida liofilizada para sobreviver, que basicamente são alimentos desidratados em pó. Agora, uma nova companhia nas viagens espaciais para Marte pode mudar esse cenário: insetos.

De modo geral, para ficar por um tempo prolongado na superfície do planeta vermelho, os astronautas terão que cultivar alimentos e gerenciar seus resíduos. Mas um grande obstáculo para isso é o próprio solo marciano – inóspito, formado por uma mistura de rochas granulares e minerais erodidos.

Dessa forma, pesquisadores buscaram nos insetos uma maneira de tornar o solo de Marte mais receptivo ao cultivo de alimentos. Especificamente, eles estudaram a contribuição das moscas soldado negro.

O que é o frass

Primeiramente, os cientistas passaram a alimentar esses insetos. “Eles são comedores muito vorazes. E se você os alimentar bem, eles produzirão muito frass“, disse Hellen Elissen, que publicou um artigo sobre o composto recentemente. 

Frass é o nome dado ao resíduo produzido pelas moscas depois de comer (basicamente sua excreção). Ele funciona como um fertilizante para o solo, porque é rico em nitrogênio, potássio, fósforo, quitina e também bactérias.

De acordo com as descobertas de Elissen, o frass reflete o que as moscas comem. Dessa forma, quando ingerem grama, o fertilizante não é tão potente. Mas, ao comerem alimentos mais energéticos, os insetos produzem um frass de alta qualidade.

O frass no espaço

“Pensei, ‘Bem, o que me impede de usar isso como um catalisador para desenvolver meu interesse em agricultura espacial?'” disse Emmanuel Mendoza, estudante da Texas A&M University.

Então, a ideia de um sistema completo se concretizou. Para Mendoza, as larvas poderiam ser levadas ao espaço. Lá, comeriam os resíduos de alimentos dos astronautas e produziriam frass para fertilizar o solo de Marte. Assim, seria possível produzir alimentos. 

Além disso, as próprias larvas dos insetos poderiam ser moídas e utilizadas como fonte de nutrientes pelos astronautas como uma fonte de proteína. Para entender se tudo isso era possível, o pesquisador realizou testes com o uso de frass em ervilhas plantadas em solo marciano simulado.

Dessa forma, eles descobriram que tanto o uso em excesso quanto a falta do fertilizante dificultavam o desenvolvimento das plantas. Para o sistema funcionar, a quantidade ideal de frass na terra era de cerca de 10%. 

Por fim, Mendoza conseguiu que as ervilhas crescessem no solo que simula o de Marte. Os resultados de seu trabalho foram apresentados na conferência da Entomological Society of America.

O avanço na ciência

Outras pesquisas já buscaram maneiras de fertilizar o solo de outros elementos espaciais. Além do frass de insetos, um estudo recente publicado no jornal Communications Biology mostrou que três tipos de bactérias entrelaçadas ajudam as plantas a crescerem maiores e mais verdes na Lua.

Além disso, um novo conjunto de recomendações de pesquisa para a Divisão de Ciências Biológicas e Físicas da NASA abriu espaço para mais projetos como esses nos próximos 10 anos.

Contudo, a presença desses micróbios também levanta outras questões. Por exemplo, como eles podem mudar no espaço e como eles afetarão a microbiota dos astronautas.

Bárbara Giovani

Bárbara Giovani

Jornalista de ciência que também ama música e cinema. Já publicou na Agência Bori e participa do podcast Prato de Ciência.

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