Marte tem tremores mais frequentes do que pensávamos, mostram pesquisas

Cientistas publicaram uma série de novas pesquisas sobre o primeiro ano da sonda InSight em Marte, mostrando o quão ativo o planeta vermelho realmente é.
O conceito artístico da sonda InSight em Marte
O conceito artístico da sonda InSight em Marte. Ilustração: IPGP/Nicolas Sarter

Cientistas publicaram uma série de novas pesquisas sobre o primeiro ano da sonda InSight em Marte, mostrando o quão ativo o planeta vermelho realmente é.

A InSight tocou a Elysium Planitia, a segunda região vulcânica mais extensa de Marte, em novembro de 2018. A sonda tem uma coleção impressionante de instrumentos, incluindo câmeras, sensores de clima, sensores de campo magnético, sonda térmica e um sismômetro projetado para medir terremotos.

Nesta terça-feira (25), cientistas publicaram uma série de resultados que revelam que mesmo sem placas tectônicas, o planeta está constantemente “balançando” com tremores parecidos com os que acontecem na Terra ou na Lua. Os novos dados também apontam para estranhezas sobre a atmosfera e campo magnético do planeta.

A maior parte dos novos resultados são resultado do Seismic Experiment for Interior Structure (Experimento Sísmico para Estrutura Interior, em tradução livre), ou Experimento SEIS. A sonda terminou de implementá-lo em fevereiro de 2019, e dessa data até 30 de setembro de 2019, foram registrados 174 tremores, incluindo 150 eventos de alta e baixa magnitude que se propagaram por meio da crosta marciana, bem como 24 eventos mais profundos e de maior magnitude.

Os eventos de alta frequência pareciam semelhantes aos que a missão Apollo mediu na Lua, enquanto que os eventos de baixa frequência vieram com eventos de compressão e secundários, chamados ondas P e S, assim como os terremotos que vemos na Terra, de acordo com um artigo publicado na Nature Geoscience.

“Podemos começar a usar técnicas que desenvolvemos na Terra para aprender sobre a estrutura interna de Marte”, disse Vedran Lekic, professor associado da Universidade de Maryland, que trabalhou em algumas das novas pesquisas, ao Gizmodo. “Isso me animou, cientificamente falando.”

Agora que os pesquisadores sabem que podem usar métodos utilizados na Terra para estudar os tremores, eles podem conseguir responder mais perguntas sobre o tamanho do núcleo do planeta e sua composição. Mas, na verdade, estudar o núcleo exigirá alguns eventos mais fortes, e os cientistas ainda não mediram um tremor com magnitude maior que 4.

Lekic explicou que Marte não tem placas tectônicas ou forças de maré de um planeta próximo para agir em sua superfície, como acontece com a Terra e a Lua, respectivamente. Por isso é difícil apontar exatamente o que causa os eventos.

No entanto, os pesquisadores determinaram que dois dos maiores terremotos tiveram origem no sistema de fraturas de Cerberus Fossae, que poderiam se comportar como as falhas da Terra. À medida que o planeta esfria, ele se contrai, introduzindo tensões que podem produzir falhas e, por sua vez, tremores.

Os pesquisadores também conseguiram usar o instrumento SEIS em combinação com o Heat Flow and Physical Properties Package (uma sonda de fluxo de calor auto-penetrante) para estudar a crosta do planeta, de acordo com outro artigo publicado na Nature Geoscience.

O planeta era sismicamente silencioso à noite, mas a atividade aumentava durante o dia à medida que o calor se movia na atmosfera. Essa análise também sugere indiretamente que a porção mais alta da crosta do planeta provavelmente tem muitas fraturas e é relativamente baixa em seus elementos voláteis (aqueles com pontos de ebulição baixos como nitrogênio, amônia e dióxido de carbono).

Em outro experimento, o pacote de sensores destinado a estudar as fontes de ruído externo nas medições do Experimento SEIS, também forneceu um conjunto de informações para os pesquisadores, de acordo com um terceiro artigo da Nature Geoscience.

O magnetômetro revelou que o campo magnético da crosta parece ser 10 vezes mais forte do que o que a nave mediu a partir da órbita marciana – talvez existam rochas magnetizadas perto do local de pouso do InSight, registrando que o planeta já teve um campo magnético de efeito dínamo. Esses campos magnéticos também variam ao longo do dia, à medida que as partículas carregadas se movem através da atmosfera marciana, e os pesquisadores esperam usar esses campos magnéticos variáveis para estudar as propriedades elétricas sob a superfície.

A InSight também observou uma atmosfera mais ativa do que o esperado, medindo uma tempestade de poeira local e usando suas câmeras para medir a velocidade do vento. A experiência revelou turbulência na atmosfera fina semelhante à turbulência na Terra, bem como um leve brilho no ar, talvez por reações entre partículas na atmosfera e a luz solar. O experimento também detectou redemoinhos de poeira, embora ainda não tenha realmente fotografado um. (A sonda Opportunity, no entanto, tirou uma foto de um redemoinho de poeira próximo).

Os pesquisadores esperam continuar monitorando os vários processos do planeta ao longo do ano e observar como eles mudam. Uma experiência de rádio no InSight, o Rotation and Interior Structure Experiment (RISE), oferecerá mais dados sobre a natureza do interior marciana, como por exemplo se o planeta tem um núcleo sólido ou líquido.

E os cientistas ainda estão tentando descobrir como inserir a Heat Probe no planeta. É frustrante que essa experiência não tenha sido bem sucedida até agora, mas pelo menos a InSight tem muitos outros instrumentos com os quais pode reunir dados.

Uma coisa é certa: Marte vai continuar a surpreender os cientistas a cada nova missão.

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