Astrônomos conseguem “ver de perto” os restos de um cometa

O cometa ATLAS se desfez em abril do ano passado, mas seus fragmentos ainda oferecem oportunidades de aprendizado.
Imagem: NASA/ESA/STScI/D. Jewitt (UCLA)

Quando o cometa 2019 Y4 ATLAS se fragmentou em abril de 2020, muitos ficaram consternados com a perda do que teria sido o cometa mais brilhante desde a passagem de Hale-Bopp, em 1997. Contudo, a NASA e o Solar Orbiter da Agência Espacial Europeia (ESA) voaram perto do que restou do ATLAS, dando aos cientistas uma rara visão do que acontece com a cauda de um cometa quando ele não está mais seguindo nada.

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Observado pela primeira vez em dezembro de 2019, o ATLAS esteve nos radares das agências espaciais por um tempo e teria sido visível a olho nu em maio de 2020, mas ficou rapidamente mais brilhante no mês anterior e se desfez antes que isso pudesse acontecer. A ruptura do cometa foi capturada pelo Telescópio Espacial Hubble, que revelou um brilho fantasmagórico dos pedaços do cometa quando eles ainda estavam a mais de 146 milhões de quilômetros da Terra. Os pedaços têm aproximadamente o tamanho de uma casa cada, e juntos eles se parecem com os faróis de um submarino no fundo do mar.

Embora a desintegração do cometa tenha sido uma decepção em alguns aspectos, a cauda do cometa ficou presa e, portanto, o Solar Orbiter foi escalado para verificar o que restou. A equipe de pesquisa conseguiu fazer medições do ATLAS usando todos os instrumentos in-situ —  que irão confirmar o bom funcionamento — do Solar Orbiter: detector de partículas energéticas, magnetômetro, experimento de ondas de rádio e plasma e analisador de vento solar. Descrições completas da carga útil do Solar Orbiter estão disponíveis no site  da ESA.

Imagem: GEORGE SHELTON / AFP (Getty Images)

Os cometas são mais conhecidos por sua icônica cauda de poeira, que sai do núcleo. Mas os corpos também têm caudas de íons, que são tipicamente mais fracas e vêm da interação do gás do cometa com o vento solar. O magnetômetro do Solar Orbiter foi essencial para as observações da equipe, pois faz medições dos campos magnéticos locais, permitindo que os astrônomos pudessem ver como o campo magnético da cauda do cometa interagia com o campo magnético transportado pelo sistema solar pelo vento solar.

O modelo que os cientistas desenvolveram a partir de todos esses dados indicou que o campo magnético interplanetário se curva ao redor do cometa, e sua cauda central tem um campo magnético mais fraco do que aquele que o rodeia. De acordo com um comunicado à imprensa da Royal Astronomical Society, a combinação do campo magnético e dos íons produzidos pelo núcleo derretido do cometa é o que forma a cauda de íons do cometa.

“Este é um evento único e uma oportunidade empolgante para estudarmos a composição e a estrutura das caudas dos cometas em detalhes, como nunca antes”, disse Lorenzo Matteini, físico solar do Imperial College de Londres e líder do trabalho recente, no mesmo comunicado. “Esperançosamente, com a Parker Solar Probe e a Solar Orbiter orbitando o Sol mais perto do que nunca, esses eventos podem se tornar muito mais comuns no futuro!”

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Astrônomos amadores certamente perderam o que teria sido uma vista espetacular no ano passado. Mas a perda deles foi um ganho dos físicos, pois eles puderam entender melhor esses estranhos fenômenos.

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