Até 20% das pessoas em coma têm consciência do mundo ao redor
Após anos de incertezas, estudos da Universidade de Columbia, dos EUA, apontam que 15% a 20% dos pacientes em coma têm sinais internos de consciência quando avaliados por métodos de atividade cerebral.
Muitas das técnicas que averiguam o estado mental desses pacientes surgiram recentemente. A maioria delas parte de sensores que monitoram a atividade elétrica do cérebro dos acamados.
Em artigo na revista Scientific American, os professores de neurologia de Columbia, Jan Claassen e Brian Edlow, relatam que, com os sensores, puderam identificar pacientes que ouviam e entendiam o que se passava, mas que não conseguiam responder fisicamente aos estímulos externos – condição conhecida como consciência encoberta.
Os testes e o refinamento das técnicas são essenciais. Além de aumentar a compreensão do coma e dos distúrbios de consciência, também mostram que a detecção precoce de um paciente “acordado” pode ajudá-lo a se recuperar mais rápido e totalmente.
“Detectar a prever a recuperação da consciência no início, na UTI [Unidade de Tratamento Intensivo], geralmente é uma questão de vida ou morte”, dizem os pesquisadores.
Isso porque as famílias costumam decidir sobre a continuidade ou interrupção da terapia de suporte em até 14 dias após a lesão cerebral. É neste momento que as cirurgia se torna essencial para dar suporte à alimentação e respiração a longo prazo.
O diagnóstico de consciência encoberta muda tudo: desde as decisões clínicas sobre os objetivos de tratamento até o controle da dor, comportamento à beira do leito e controle de depressão e ansiedade dos familiares.
Como saber?
Descobrir que uma pessoa está consciente durante o coma depende de tecnologia. Para a detecção, os médicos pedem que os pacientes abram ou fechem as mãos, e se imaginem andando pela casa ou nadando em alto mar.
Enquanto isso, sensores de eletroencefalograma ou ressonância magnética registram as reações cerebrais. Ou seja, o paciente não precisa mexer a mão, mas pensar que está mexendo já é suficiente para que o cérebro entre em atividade e mostre que segue interpretando informações mesmo sem poder se movimentar.
Essas técnicas já foram reproduzidas por vários pesquisadores e profissionais da saúde em todo o mundo. “Pacientes com consciência encoberta podem alterar deliberadamente seus padrões cerebrais quando solicitados a mover partes de seus corpos ou visualizar uma atividade. Mas externamente, em termos de movimentos corporais, eles não mostram sinais de seguir qualquer sugestão”, diz o artigo.
Apesar das limitações de eletroencefalogramas e ressonâncias magnéticas, há otimismo. Em 2019, um grupo de cientistas de todo o mundo lançou a campanha Curing Coma, com o objetivo de desenvolver novas terapias para promover a recuperação da consciência.
Uma das metas é desenvolver um teste único para identificar pacientes com consciência encoberta antes de precisar submetê-los aos exames.
“Mas o progresso tem sido lento porque os mecanismos estruturais e funcionais subjacentes à consciência encoberta são incertos, então os médicos não sabem exatamente o que procurar”, disseram os neurologistas.
Diagnóstico é complexo
Estudos recentes apontam que o principal fator para que as lesões cerebrais – as causas mais comuns para uma pessoa entrar em coma – façam com que humanos entrem em coma é por que desconectam o tálamo do córtex central.
O tálamo é a região do cérebro que retransmite os sinais de movimento e informações sensoriais para o corpo. Já o córtex central é o responsável pelo funcionamento cognitivo geral.
No entanto, é possível que o cérebro não passe por uma única lesão, mas por várias combinações em locais diferentes. Isso pode causar uma disfunção motora, apesar da consciência encoberta.
Quando isso acontece, os pacientes podem apresentar níveis flutuantes de consciência. As oscilações significam que uma única avaliação pode perder sinais importantes – por isso é importante que as pessoas passem por mais testes.