Sacheen Littlefeather, ativista e atriz indígena americana que foi vaiada em 1973 ao recusar um Oscar em nome de Marlon Brando, morreu aos 75 anos. Segundo a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, que distribui o Oscar, informou neste domingo (2), ela estava na cidade de Novato, no norte da Califórnia, cercada de parentes.
A atriz sofria de um câncer de pulmão desde a década de 1990, quando foi diagnosticada com câncer de cólon. Em 2018, ela desenvolveu câncer de mama em estágio 4, uma recorrência do câncer de mama diagnosticado pela primeira vez em 2012. O câncer metastatizou nos últimos anos, levando à doença terminal.
“Quando eu me for, sempre lembrem que cada vez que você defende sua verdade, você manterá minha voz e as vozes de nossas nações e povos”, recordou a Academia uma frase de Littlefeather ao anunciar a morte via Twitter. Veja a publicação:
Sacheen Littlefeather, Native American civil rights activist who famously declined Marlon Brando’s 1973 Best Actor Academy Award, dies at 75. pic.twitter.com/OlpsoItlCw
— The Academy (@TheAcademy) October 3, 2022
Littlefeather, que era indígena apache, foi vaiada numa cerimônia do Oscar em 1973, na primeira transmissão ao vivo para todo o mundo. Ela explicou que Brando, a quem ela representava na cerimônia, recusava o Oscar de melhor ator por “O Poderoso Chefão” devido ao “tratamento reservado aos nativos americanos pela indústria cinematográfica”.
Na ocasião, Littlefeather leu uma mensagem de Brando na qual criticava dos estereótipos nativos americanos reproduzidos pela indústria do entretenimento. “Quando vocês nos estereotipam, vocês nos desumanizam”, ela disse, sob uma mistura de vaias e aplausos.
Foi o primeiro discurso político num Oscar — e a única vez que o troféu foi recusado por seu vencedor. A decisão causou indignação e foi considerado uma brincadeira de mau gosto. Durante muito tempo, o feito foi reduzido a uma pegadinha de Marlon Brando, reforçado pelo fato de Sacheen Littlefeather ser uma atriz.
Sacheen Littlefeather atuou em “O Julgamento de Billy Jack” e “A Volta dos Bravos”. Mas, após seu discurso histórico, ela perdeu o registro do sindicato e precisou abandonar a profissão.
No último dia 17 de setembro, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas realizou uma cerimônia no novo museu em Los Angeles, para homenagear Littlefeather. Nela, pediu desculpas publicamente pelo tratamento dado à atriz há quase 50 anos.
“Os maus-tratos que sofreu por causa dessa declaração foram gratuitos e injustificados”, diz a carta de desculpas enviada em junho a Sacheen pelo então presidente da Academia, David Rubin. “A carga emocional que viveu e o custo da sua carreira na nossa indústria são irreparáveis”.
Durante a homenagem, a atriz afirmou que naquela ocasião ela subiu no palco “como uma mulher indígena orgulhosa, com dignidade, com coragem, com graça e com humildade”. “Eu sabia que tinha que dizer a verdade. Algumas pessoas podiam aceitar. E outras não”, disse. Ela também afirmou que o astro John Wayne teve que ser contido para não agredi-la fisicamente quando deixava o palco.
Relembre o discurso de Sacheen Littlefeather no Oscar: