Por que atualizações rápidas do Android não importam tanto quanto antes
Desde os dias do HTC G1, primeiro smartphone com Android, as atualizações do sistema são vistas como o Santo Graal de novas funcionalidades e melhorias de software. Mas talvez seja a hora para deixar de lado a obsessão com uma nova iteração 0.1 do robozinho.
Nos últimos dois anos, após o Android 4.1 – com Google Now e Project Butter – vimos atualizações pequenas saírem do Google, que manteve o sistema na versão 4.x. Há boas razões para isso, como discutiremos abaixo. Talvez valha a pena desejar muito uma futura versão Android 5.0, mas se preocupar com iterações menores é desnecessário para a maioria. Eis os motivos.
Novos recursos não dependem de atualizar o Android
Atualmente, as atualizações do Android funcionam um pouco diferente das iterações de outros sistemas operacionais. No Windows, OS X, iOS, distribuições do Linux ou qualquer outro, uma atualização traz novas funcionalidades centrais (e talvez até uma nova interface).
Isto vale um pouco para o Android, porém o Google vem cada vez mais usando o Play Services para implementar novas funcionalidades em todo o sistema. Além disso, a empresa traz novas funcionalidades atualizando apps individuais, ao invés de reuni-los numa outra versão do sistema.
Nos tempos antigos do Android, para receber novos recursos, quase sempre era preciso conseguir a versão mais recente do sistema operacional. No entanto, ao longo do último ano, vários apps e recursos foram adicionados ou melhorados sem uma atualização do Android. Eis uma lista não exaustiva:
- Gmail
- Calendário
- Mensagens (Hangouts)
- Mapas
- Keep
- Drive
- Google Now
- Chrome
- Play Store
- Play Games
- Notificações sincronizadas
- Geofencing
- Reconhecimento de atividade (o app sabe se você está andando, dirigindo etc.)
Para comparação, eis algumas das funcionalidades que as novas versões do Android lançadas em 2013 (4.3 e 4.4) trouxeram para os usuários:
- Perfis restritos em tablets
- Melhorias no discador
- Integração de impressão na nuvem
- App Downloads atualizado
As funções acima podem ser importantes, mas não são algo que todos clamariam para ter. Mesmo assim, ainda haveria alguma razão para se desejar atualizações do Android o mais rápido possível – isto pode não ser relevante para todos os usuários, mas é para alguns. No entanto, existem desvantagens em receber atualizações tão rápido.
Atualizações do Android às vezes trazem grandes bugs
As novas versões do Android nem sempre chegam sem problemas. Para quem quer atualizações rápidas do sistema por até 18 meses, a recomendação é obter um dispositivo Nexus. No entanto, eis alguns dos bugs conhecidos que vieram com as novas versões do Android ou em um novo Nexus:
- o suporte a e-mail Exchange esteve “gravemente quebrado” para usuários do Android 4.4 por algum tempo;
- o Google Now não estava funcionando para alguns usuários do Nexus 5, e potencialmente para outros também;
- o Android 4.3 fez alguns Nexus 4 perderem completamente a conexão à rede celular;
- alguns Nexus 7 2013 tiveram problemas no multitoque da tela, bem como problemas no desempenho do GPS;
- uma atualização posterior para o Nexus 7 não resolveu os problemas da touchscreen, e em alguns casos até piorou a situação;
- o Android 4.3 faz alguns dispositivos travarem se você pressionar o botão Power enquanto está vendo algo no Netflix. O Google designou “funcionários superiores” para resolver este problema.
Isso sem mencionar os apps que, por algum tempo, ficam incompatíveis com novas versões do Android. O HBO Go, por exemplo, ficou dois meses sem funcionar na versão 4.3.
Vale notar que nem sempre todos são afetados por bugs em uma nova versão do Android (e alguns deles estão limitados a hardware Nexus). No entanto, receber atualizações o mais rápido possível significa que você provavelmente estará exposto a mais bugs do que o normal.
Para os early adopters, os entusiastas, isso é aceitável: para eles, bugs fazem parte do pacote. No entanto, para quem não está interessado em ser beta tester – e especialmente para os usuários comuns – ser o primeiro da fila pode não ser tão bom assim.
Novos recursos do Android aparecem em versões anteriores do sistema
Há alguns novos recursos do Android que podem ser usados imediatamente. No entanto, muitos outros demoram um longo tempo até serem adotados por desenvolvedores: minhas notificações ainda não sincronizam através de dispositivos na maioria dos apps. Outras nem mesmo chegam à maioria do hardware devido à personalização das fabricantes.
Eis alguns dos novos recursos do Android que ou acabaram chegando às versões anteriores do OS, ou não interessariam muito para os early adopters:
- Google Now é integrado à tela inicial: esse recurso já estava disponível não-oficialmente quase de imediato para dispositivos com Android 4.1 ou superior.
- Hangouts ganha suporte a SMS, GIFs animados e compartilhamento de localização: isto chegou a todos os usuários com Android 4.x uma semana após o anúncio do KitKat.
- Teclado do Google ganhou emoji: alguns dos emoji foram colocados no teclado disponível na Play Store (embora outros emoji estejam disponíveis apenas no 4.4).
- Modo imersivo permite que apps preencham a tela inteira: uma das muitas funções que requerem o apoio dos desenvolvedores, e muitos não têm incentivo para implementá-lo até que o OS seja distribuído amplamente.
- Melhorias no desempenho e consumo de memória: isso é bacana, mas para dispositivos high-end, a maior parte das melhorias não serão perceptíveis, e muitos dispositivos low-end – que poderiam se beneficiar com isso – nem devem ser atualizados.
- Tela de bloqueio traz capa do álbum quando você ouve música: esse recurso provavelmente não vai aparecer em um dispositivos Android com skin da HTC , Samsung ou LG.
Como você pode ver, a maioria dos recursos mais novos do Android ou não afeta o telefone moderno que você comprou para garantir atualizações rápidas, ou são coisas que você pode obter imediatamente de outra forma.
E, listadas no site oficial do Google, há várias coisas que já existiam para os usuários de versões anteriores, como o QuickOffice gratuito, o Android Device Manager e suporte ao Chromecast. Eis uma lista de alguns dos novos recursos do Android que são verdadeiramente úteis, realmente diferentes de versões mais antigas, e só disponíveis para quem tem a versão mais recente do Android:
- Um novo discador inteligente: isso é bem bacana, e até mesmo versões não-oficiais requerem o KitKat para os recursos inteligentes funcionarem.
- O app de downloads e seletor de arquivos foi renovado: ele ficou um pouco mais fácil de usar, e reúne armazenamento local e na nuvem em um só lugar.
- Agora você pode imprimir a partir do Android: caso você precise imprimir do seu smartphone ou tablet.
Esta não é uma lista abrangente de tudo que foi adicionado ao Android na versão 4.4, mas demonstra um ponto: quando se trata de novos recursos, é meio improvável que surja algo realmente importante para você – a menos que suporte a Bluetooth MAP seja a coisa mais importante do mundo para você.
Atualizações ainda vão demorar uma eternidade (mas tudo bem)
Mesmo com tudo o que listamos acima, talvez você ainda queira a mais nova versão do Android agora mesmo. E ainda ficaremos incomodados por quase nunca estarmos na versão mais recente, pelo menos até o Google parar de lançar novas versões a cada seis meses.
No mês passado, a HTC mostrou como funciona o processo de atualizar o Android – clique aqui para ver o infográfico. Eis a versão resumida: é algo muito longo, muito complexo, e exige que várias empresas diferentes trabalhem em conjunto muito rapidamente. Dito de outra forma, é uma bagunça – mas você já sabia disso.
Embora o Google ofereça um Kit de Desenvolvimento de Plataforma (PDK) para os fabricantes antes de novos lançamentos, na esperança de acelerar o processo, isso não adianta muito. Quando a HTC ou a Samsung terminam seus próprios ajustes para uma atualização, eles passam tudo para as operadoras, que precisam realizar seus próprios testes. Quando tudo está pronto, o Google já se prepara – ou já lançou! – uma nova versão.
No entanto, à medida que mais e mais peças críticas do ecossistema do Google foram separadas do Android e levadas para o Play Services ou para a Play Store, diminui a importância de estar na versão mais recente do Android.
Se você quiser fazer parte desse grupo seleto que pode se gabar de sempre ter atualizações, você tem o Nexus ou as Google Play Editions disponíveis para você – ou, caso o Google interrompa as atualizações, há ROMs personalizadas. Não é o seu caso? Então fique de olho na Play Store: é lá que você vai encontrar apps novos e gratuitos para deixar seu smartphone ou tablet ainda mais incrível do que já é.