Aurora boreal no céu da China central é revelada em texto de 3 mil anos
Uma pesquisa realizada por um par de pesquisadores revelou um antigo texto chinês que descreve o aparecimento de uma série de luzes brilhantes no céu noturno há cerca de 3 mil anos. A suspeita é que o documento seja o registro mais antigo que se tem notícia de uma aurora boreal.
Até então, os textos mais antigos que mencionam o fenômeno astronômico datavam do século 7 a.C, em tabuletas cuneiformes assírias, conforme apontou o Ars Technica. O estudo mais recente aponta que a data mais provável para o evento observado na China foi de 977 ou 957 a.C – ou seja, no século 10 a.C.
Esse tipo de relatório histórico é importante para a ciência, pois ajuda a entender não apenas a variabilidade das erupções solares ao longo dos milênios, bem como as mudanças do campo magnético da Terra.
Atualmente, as auroras boreais (no hemisfério Norte) e austrais (no Sul) são observadas principalmente em regiões polares. Elas são o resultado da interação entre partículas carregadas do Sol atingindo a magnetosfera da Terra e sendo direcionadas até os pólos pelas linhas dos campos magnéticos.
Quando essas tempestades de partículas solares são de grande intensidade, elas podem ser visíveis em latitudes mais baixas, como ocorreu em 1859, quando auroras foram vistas nos Estados Unidos, Europa, Japão e Austrália. Porém, auroras observadas na China é algo incomum.
O texto antigo faz parte do “Bamboo Annals”, uma crônica chinesa que abrange a era do Imperador Amarelo até o chamado período dos Reinos Combatentes, entre os séculos 5 e 221 a.C. O texto original foi enterrado junto ao rei Xiang de Wei, que morreu em 296 a.C, sendo descoberto apenas em 281 d.C.
O show de luzes no céu deve ter ocorrido no final do reinado do rei Zhao, da dinastia Zhou, que abrangia uma grande área central da China. De acordo com os pesquisadores, a observação de auroras nessa latitude tão baixa pode ser explicada pelo fato de que o polo magnético norte da Terra poderia estar 15 graus mais próximo da China do que ele é hoje.
A alteração no ângulo do campo magnético do planeta ocorre de forma gradual e natural, podendo, inclusive podendo ocorrer uma inversão total — como se acredita ter ocorrido há cerca de 42 mil anos.
O estudo foi publicado em abril na revista Advances in Space Research. Inicialmente, o fenômeno no texto foi traduzido como sendo um “cometa”, porém, uma nova análise realizada por Marinus Anthony van der Sluijs e Hisashi Hayakawa, da Universidade de Nagoia, no Japão, identificou que a “luz de cinco cores” descrita seria melhor explicada por uma aurora boreal – geralmente formada por faixas brilhantes com tons de verde, roxo, azul e amarelo.
Entretanto, os próprios pesquisadores reconhecem que o “Bamboo Annals” tem atraído pouco interesse científico, principalmente porque ele pode conter controvérsias para identificar a física e cronologia desse fenômeno celeste. Por enquanto, a explicação de uma aurora no texto chinês ainda é classificada como “não confirmada”.