Austrália quer que Google e Facebook compartilhem com jornais dinheiro de anúncios
O governo australiano pretende forçar o Google e o Facebook a compartilhar as receitas de publicidade com os editores de jornais e publicações do país, de acordo com a principal autoridade financeira do país, o tesoureiro Josh Frydenberg.
Os detalhes de um plano de compartilhamento de receitas de anúncios ainda precisam ser elaborados, mas se implementado com êxito, seria a primeira vez no mundo que as gigantes da tecnologia seriam obrigadas a pagar diretamente aos editores. O Google optou por retirar seu produto Google Notícias da Espanha depois que o país exigiu algo semelhante.
O tesoureiro da Austrália determinou que a principal comissão de fiscalização do consumidor do país, a ACCC (Comissão Australiana de Concorrência e Consumidores), descobrisse como os pagamentos de gigantes de tecnologia aos jornais funcionariam, o que deve ser finalizado em julho, segundo o Guardian.
A ACCC pode exigir que o Google e o Facebook compartilhem dados confidenciais sobre seus usuários e pode forçar as empresas a compartilhar uma porcentagem da receita com os editores. As duas empresas faturam cerca de US$ 4 bilhões por ano em receita na Austrália, de acordo com o Sydney Morning Herald.
“Pedimos à ACCC que se envolvesse em discussões com as partes interessadas para alcançar um código de conduta voluntário. Isso não fez progressos significativos, então agora estamos tomando a decisão de criar um código obrigatório. Queremos ser o primeiro país do mundo a garantir que esses gigantes de mídia social paguem por conteúdo”, disse Frydenberg em um vídeo publicado no Twitter.
As the technology of the digital platforms has evolved, so too has their market dominance.
By creating a mandatory code, we’re seeking to be the first country in the world that successfully requires these social media giants to pay for original news content. pic.twitter.com/vhMaQab2E4
— Josh Frydenberg (@JoshFrydenberg) April 19, 2020
Gigantes da tecnologia, como Google e Facebook, não hospedam conteúdos de notícias, mas os editores ainda veem alguns anunciantes preferindo gastar dinheiro em plataformas de mídia social, como o Facebook, e não diretamente nos sites de notícias.
“Estamos desapontados com o anúncio do governo, principalmente porque trabalhamos duro para cumprir o prazo acordado. O COVID-19 impactou todos os negócios e setores do país, incluindo publicações, e é por isso que anunciamos um novo investimento global para apoiar as organizações de notícias em um momento em que a receita de publicidade está diminuindo”, disse Will Willonon, diretor administrativo do Facebook para Austrália e Nova Zelândia, ao Gizmodo em um comunicado enviado por e-mail na manhã desta segunda-feira (20).
“Acreditamos que uma forte inovação e mais transparência em torno da distribuição de conteúdo de notícias é fundamental para a construção de um ecossistema de notícias sustentável. Investimos milhões de dólares localmente para apoiar editores australianos por meio de acordos de conteúdo, parcerias e treinamento para o setor e esperamos que o código proteja os interesses de milhões de australianos e pequenas empresas que usam nossos serviços todos os dias.”
O Google também expressou frustração com a decisão da Austrália de avançar com a criação de pagamentos de gigantes da tecnologia para publicações locais.
“Trabalhamos há muitos anos para ser um parceiro colaborativo da indústria de notícias, ajudando-os a expandir seus negócios por meio de anúncios e serviços de assinatura, e a aumentar o público-alvo, gerando tráfego valioso”, disse um porta-voz do Google ao Gizmodo por e-mail.
“Desde fevereiro, contratamos mais de 25 editores australianos para obter sua contribuição em um código voluntário e trabalhamos com o cronograma e o processos estabelecidos pela ACCC”, continuou o representante da gigante das buscas. “Procuramos trabalhar de forma construtiva com a indústria, a ACCC e o Governo para desenvolver um código de conduta, e continuaremos a fazê-lo no processo revisado estabelecido hoje pelo Governo.”
Não é surpresa que a Austrália lidere a acusação contra as gigantes da tecnologia, dado que é o país natal de Rupert Murodch, proprietário da News Corp., que é dona da Fox News nos EUA. A News Corp responde por 60% de receita dos jornais vendidos na Austrália há décadas. Murodch pressionou fortemente contra a indústria da tecnologia nos EUA e na Australia, argumentando há anos que empresas como o Facebook deveriam pagar pelo conteúdo.
A disputa por direitos de propriedade intelectual ocorre em um momento particularmente irônico para o governo australiano. Todo o gabinete do primeiro-ministro Scott Morrison passou o fim de semana sendo interrogado na TV australiana por compartilhar ilegalmente um novo livro do ex-primeiro ministro e rival político Malcolm Turnbull, cujo título é A Bigger Picture.
O livro foi supostamente distribuído pelo consultor sênior do governo Nico Louw, que enviou uma cópia eletrônica do livro para pelo menos 59 funcionários públicos. Turnbull e seu editor enviaram um pedido “cease and desist” a Louw, que poderia enfrentar uma ação legal, segundo o Guardian. Vários funcionários do governo, como a ministra da Agricultura, Marise Payne, disseram no fim de semana que, apesar de receberem o livro ilegalmente, o haviam excluído. Não está claro se Morrison recebeu uma cópia.