Ciência

Bactéria do grupo da sífilis já estava no Brasil antes mesmo da chegada de Cabral

Analisando cadáveres com mais de 2 mil anos, estudo identificou bactéria do grupo de treponematoses, do qual a sífilis faz parte
Imagem: Wikimedia Commons/ Reprodução

Na ciência, historiadores e especialistas de saúde debatem sobre quando, como e por que a sífilis se disseminou nas Américas. Nessa discussão, há quem questione se a tripulação de Cristóvão Colombo tenha alguma responsabilidade, uma vez que a doença se espalhou pelas cidades portuárias do continente no século 15.

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Agora, uma nova pesquisa encontrou mais evidências para responder essas perguntas. Isso porque cientistas analisaram bactérias encontradas em ossos de seres humanos que morreram há dois mil anos. Durante o estudo, os pesquisadores encontram uma variante da doença que não é transmitida sexualmente.

O estudo foi fruto de uma colaboração entre pesquisadores brasileiros, da Universidade de São Paulo, e cientistas das universidades de Zurique e da Basileia, na Suíça. Os resultados foram publicados recentemente na revista Nature.

Entenda a pesquisa

Os pesquisadores tiveram acesso aos ossos do sambaqui Jabuticabeira II, que fica no litoral de Santa Catarina. Ao analisar esse material em busca de evidências de doenças, encontraram várias que se encaixavam com treponematoses, grupo em que se encaixa a sífilis.

Então, eles passaram a investigar os ossos de quatro humanos – alguns deles com alterações visíveis que indicavam a presença de alguma doença. Quando isolaram o material genético, identificaram que todos os patógenos, ou seja, as bactérias encontradas, poderiam entrar na classificação da cepa Treponema pallidum endemicum.

Além disso, ela é responsável pelo bejel, também chamado de beijo ou sífilis endêmica, que é uma doença infecciosa, do grupo das treponematoses, mas não transmitida sexualmente. 

“O trabalho é muito importante porque demonstra o poder da paleontologia molecular, um campo de estudo interdisciplinar que visa aplicar técnicas moleculares ao material fóssil, a fim de recuperar, analisar e caracterizar moléculas como o DNA. Foi possível obter DNA com boa qualidade, o que permitiu confiar nos resultados encontrados”, escreveram os pesquisadores.

Embora não traga evidências da origem da sífilis em si, os resultados da pesquisa abrem caminhos para que sua bactéria seja melhor compreendida. Para os pesquisadores, entender a genética e a evolução dos patógenos é fundamental.

Bárbara Giovani

Bárbara Giovani

Jornalista de ciência que também ama música e cinema. Já publicou na Agência Bori e participa do podcast Prato de Ciência.

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