A mera possibilidade de um “fim dos apps de banco” deu o que falar nos últimos dias. Durante um evento nos Estados Unidos, o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, frisou que, “talvez daqui a um ano e meio ou dois anos, você não terá mais um app do Itaú, do Bradesco ou do Santander”, como destacou o Valor Econômico. No lugar, os usuários contariam com um aplicativo agregador para movimentar as contas em uma única plataforma.
Ainda que ousada, a ideia é uma grande aposta do movimento Open Finance. De acordo com o BCB, trata-se de um sistema aberto que possibilita o compartilhamento de informações entre instituições financeiras. Atualmente, a plataforma é voltada, principalmente, para o acesso a extratos ou para auxiliar na liberação de crédito.
Com o seu discurso, Campos Neto aponta para o futuro da integração do sistema financeiro brasileiro. Mas como tudo isso funcionaria na prática?
O product manager de Pix e Open Finance da Efí Bank, Thiago Resende, ressaltou que a ideia implicaria no desenvolvimento de um ambiente único para visualizar e movimentar dados de todas as contas bancárias.
“Ou seja, esses aplicativos agregadores não só exibirão os ‘meus saldos’ em diversas instituições, mas também facilitarão a movimentação desses saldos, proporcionando uma experiência mais integrada para os usuários”, explicou, em entrevista ao Giz Brasil.
Emanuela Ramos, vice-presidente de Business Development na Nava Technology for Business, também destaca que o aplicativo agregador reuniria todas as informações em um único lugar tanto para acessá-las quanto para fazer transações.
“Com um único app que permita a concentração de todos os dados bancários de um ou mais bancos, você eliminaria a necessidade de ter os apps dos bancos instalados”, afirmou.
App agregador ofereceria visão global das finanças
Como o próprio presidente do Banco Central destacou, o aplicativo agregador dispensaria os demais. Os especialistas consultados pelo Giz Brasil apontam que a solução reduziria a quantidade de plataformas de bancos instalados no celular.
“Se os dados já estão compartilhados, a ideia é que as pessoas não tenham que usar dois ou mais aplicativos de bancos diferentes e que tenha tudo num único lugar”, disse a vice-presidente da Nava.
Emanuela Ramos ainda indica que a visão global poderia facilitar a gestão financeira dos brasileiros. O modelo também aumentaria “a corrida das instituições financeiras” para oferecer produtos com taxas mais atrativas aos consumidores. As ações, neste caso, teriam um foco maior na fidelização e relacionamento com seus clientes.
Thiago Resende, da Efí Bank, detalha os recursos que poderiam ser centralizados no aplicativo agregador. Entre eles, está o gerenciamento de créditos, empréstimos e gestão de cobranças.
Apesar da aposta, sistema ainda tem desafios
Pode ser que a ideia demore mais de dois anos para sair do papel. Isso acontece, em parte, devido à evolução do próprio Open Finance. Em funcionamento desde 2022, em outubro, o sistema já ultrapassou a margem de 40 milhões de consentimentos, segundo a Federação Brasileira de Bancos (Febraban). Mas é preciso ver esse avanço no formato atual que foi implementado com cuidado.
É o que aponta a vice-presidente Emanuela Ramos. Ao falar sobre a aceleração do serviço, ela destaca dois desafios. Entre elas, a insegurança do brasileiro ao consentir a liberação dos seus dados para outros bancos ou instituições financeiras.
Outro ponto a se considerar é o formato atual do Open Finance. Afinal, o sistema ainda não consegue demonstrar com facilidade ao brasileiro quais as vantagens que ele tem ao disponibilizar seus dados.
“Até para as instituições, quando ela tem o ‘consentimento do dado’, ainda há um desafio para comparar todos os produtos e oferecer com inteligência e velocidade novas soluções que sejam mais competitivas e proporcionem melhora financeira ao cliente”, pontuou.
O product manager da Efí Bank destaca que o Open Finance é capaz de revolucionar a forma como lidamos com nossas finanças. “Embora o progresso possa ser gradual, estamos caminhando na direção certa para um ecossistema financeiro mais dinâmico e acessível”, disse.
“É importante frisar que essa ‘revolução’ ainda corre em passos relativamente lentos, já que, para isso acontecer de forma plena, é necessário a colaboração de todas as instituições financeiras. É necessário que as instituições financeiras olhem para o Open Finance com uma maior atenção, para que tenhamos um ecossistema 100% operacional, sem falhas.”
Refino na segurança pode levar tempo
A segurança é um dos principais investimentos dos bancos brasileiros. Como apontou o Valor, com base em estimativas da Febraban de 2022, os bancos já desembolsaram R$ 3,5 bilhões para expandir a proteção. Esta é uma das maiores preocupações ao desenvolver aplicativos agregadores, mas também pode ser uma barreira.
“Com certeza, segurança é uma das barreiras para que tenhamos um app agregador como esse no tempo de um ano e meio, como o presidente do Banco Central comentou”, disse Emanuela Ramos.
O product manager Thiago Resende também destaca que a confiança dos consumidores no sistema dependerá diretamente da eficácia das medidas de segurança dos apps. Especialmente porque os usuários teriam acesso a informações sensíveis de várias instituições em um único local.
Por isso, é necessário oferecer garantias de que as medidas de segurança sejam robustas o suficiente para proteger contra invasões e acessos não autorizados.
“A segurança dependerá da implementação eficaz de medidas de proteção, como autenticação multifatorial, criptografia robusta e monitoramento constante de atividades suspeitas”, destacou.
Mesmo assim, o gerente indica que os aplicativos agregadores têm o potencial de oferecer mais segurança aos usuários.
“Ao centralizar as informações financeiras em um aplicativo, os consumidores podem reduzir a exposição de dados sensíveis, uma vez que não precisariam acessar vários aplicativos individuais de diferentes instituições financeiras”, destacou.