Bicicleta com roda quadrada ou triangular: qual funciona melhor segundo a física
A roda existe há pelo menos 5 mil anos, mas o ser humano sempre se questionou se poderiam existir outras formas de ir mais longe. Apesar da inegável efetividade da roda redonda, muitos já se questionaram se opções quadradas ou triangulares não poderiam cumprir o mesmo papel.
A última tentativa foi do canal do YouTube norte-americano “The Q”, produzido por um grupo para lá de criativo. Entre abril e maio, eles criaram duas bicicletas: uma com rodas quadradas e outra com rodas triangulares, que deram o que falar na web.
Mas a criatividade não pára aí. O grupo também desenvolveu uma bicicleta com uma roda partida ao meio, outra com serras redondas para andar no gelo e, a última, com bolas de tênis no lugar dos pneus.
Sim, as ideias mirabolantes são infinitas. Mas será que funciona na vida real? Tem chance dessas bicicletas aparecerem à venda no mercado qualquer dia desses?
Para esclarecer essas dúvidas, o Giz Brasil entrevistou o professor Cláudio Furukawa, físico dos Laboratórios Didáticos do Instituto de Física da USP (Universidade de São Paulo).
Qual é mais efetiva: triangular ou quadrada?
Como físico, Furukawa apontou mais praticidade na roda triangular. Isso porque, no caso do vídeo, a roda até pode ser o formato triangular, mas os lados não são retos e sim arcos circunferência, como é possível identificar no vídeo abaixo.
Isso significa que, ao construir o “triângulo”, a distância de um vértice e outro foi o mesmo. Dessa forma, a distância da roda entre a estrutura da bicicleta e o chão é sempre constante, quase como se fosse redonda.
“O eixo se movimenta, mas a distância da pessoa até o chão continua invariável”, explicou ele. Já o eixo que prende as rodas a bicicleta é móvel, visto que a distância até o chão muda. Assim, enquanto um raio constante dá toda a volta, um triângulo precisa ter um eixo móvel para mudar o ponto central à medida que o veículo avança.
É possível entender com a explicação ilustrativa do professor Furukawa no vídeo a seguir. Perceba que as rodas triangulares mantêm o mesmo nível da reta apesar do movimento.
“Esse modelo não dá solavancos em superfícies lisas porque a maneira como essa roda foi construída partiu de arcos de circunferência”, disse Furukawa. “Isso faz com que tenha sempre a mesma distância entre o raio e a circunferência da roda, o que possibilita o movimento”.
E a roda quadrada?
Com a roda quadrada é diferente. Na verdade, não se trata de uma estrutura que roda efetivamente, mas sim um pneu fixo movido por esteiras rolantes. Nesse caso, a bicicleta de rodas quadradas não passa de um objeto curioso.
“Não é nada efetivo”, afirmou o físico. “Inclusive, se você virar o guidão, vai precisar de muito mais força de arrasto porque é muito difícil manobrar uma bicicleta dessa”.
O professor explica que o equilíbrio necessário para andar de bicicleta requer uma mudança constante do centro de apoio em relação ao centro de massa. Ou seja, o ponto imaginário de equilíbrio passa de forma vertical do condutor para o veículo.
Agora, com uma roda quadrada, acertar o centro de massa se torna mais difícil por causa da força do arrasto, uma vez que a superfície em contato com o solo é muito grande e bem maior que uma roda redonda, por exemplo.
Além disso, uma roda-esteira torna impossível subir uma escadaria. Se cair em um buraco, então, já era: só desmontando da bike e erguendo nos braços para sair dali. Isso já é bem diferente de uma bicicleta com rodas redondas ou triangulares, que permite subir escadas e contornar buracos.
“Quanto maior o aro, o diâmetro do roda, maior a possibilidade de passar por um buraco sem solavancos ou quedas. Além disso, rodas com diâmetro maior são melhores para essas atividades. Por isso se usa bicicletas maiores em atividades como mountain bike, por exemplo”, disse o pesquisador.
Isso vai funcionar um dia?
Revolução de 3.500 a.C., parece que nada vai bater a boa e velha roda redonda. “Essas bicicletas funcionam pela curiosidade, mas não é nada efetivo. Não existe nada como a roda normal”, riu Furukawa.
A chance de entrar no mercado também é pequena – pelo menos pela efetividade, disse o físico. “A não ser que alguém só queira andar em superfícies planas, mesmo assim não é eficiente. A roda redonda ainda é a melhor opção, caso contrário já teríamos outros modelos para vender – e não vejo isso acontecendo tão cedo”.