Todas as coisas boas chegam ao fim – as coisas ruins também. O bitcoin teve um crescimento gigantesco no ano passado, mas parece que tudo isso acabou: 60% do seu valor de mercado sumiu desde o mês passado. O entusiasmo com o mercado de criptomoedas caiu agora que o bitcoin sofre uma queda e chegou a menos de US$ 8.000 (R$ 25.000 nas casas de câmbio brasileiras) pela primeira vez desde novembro.
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De acordo com o popular aplicativo de criptomoedas Coinbase, o preço do bitcoin caiu para US$ 7.540 na manhã desta sexta-feira, e voltou a subir para US$ 9.000 depois do meio-dia. Aquele crescimento exponencial que vimos no ano passado nunca seria sustentável e até mesmo os seguidores mais fieis da revolução da criptomoeda não acreditavam que a alta de US$ 20.000 duraria por muito tempo.
Mas o senso comum dentro da comunidade era de que US$ 10.000 seria o valor mínimo para a moeda. Uma exuberância irracional atrai correções de forma inevitável, mas parece que estamos presenciando um massacre.
Em questão de 24 horas, cerca de US$ 30 bilhões desapareceram do mercado de Bitcoin. Uma olhada nos gráficos do CoinMarketCap mostra que cinco das 100 principais criptomoedas estão em queda, a maioria a dois dígitos. Dito isso, o Bitcoin já perdeu US$ 177 bilhões desde a sua maior alta em dezembro.
Não é difícil apontar o porquê de tudo isso estar acontecendo. Mesmo que você acredite que a tecnologia blockchain seja o futuro e uma moeda descentralizada uma hora ou outra encontrará o seu caminho, é impossível ignorar o fato que não temos visto nada além de más notícias dentro dessa esfera.
O desenvolvimento de intenções de regulamentação governamentais sobre as criptomoedas pode ser um grande problema para os investidores. Como disse o analista financeiro Nouriel Roubini, da Roubini Macro Associates, à Bloomberg: “praticamente todos os políticos do G20 estão falando sobre uma repressão”.
Nesta semana, por exemplo, autoridades da Índia indicaram que irão anunciar regulamentações para eliminar completamente pagamentos feitos com criptomoedas no país, além de terem tornado oficial que Índia não reconhece o Bitcoin como moeda corrente.
O Secretário do Tesouro dos Estados Unidos Steven Mnuchin também disse nesta semana que gostaria que os países do G20 discutissem as regulamentações sobre criptomoedas durante a conferência anual que acontecerá em março. Os Estados Unidos não têm colocado a mão na massa e parecem ter decidido esperar para ver o que acontecerá. Mas a Receita Federal já quer a sua fatia do bolo e investidores estão tendo o gostinho de dividir com o Tim Sam um pouquinho dessa grana.
Enquanto empresas como o Facebook estão tentando minimizar golpes relacionados a bitcoins, outras companhias como a Kodak tentam a sorte para atrair investidores ao incluir o blockchain seus planos. A empresa tentou ser oportunista: eles iriam lançar uma Oferta Inicial de Moedas (ICO, na sigla em inglês) nesta quarta-feira (31), porém conforme mais informações sobre o plano da empresa foram revelados pelo New York Times, eles disseram que precisariam de mais tempo para avaliar potenciais investidores. A maior parte dos ganhos obtidos pelas ações da Kodak após o anúncio do uso da tecnologia do blockchain já desapareceram.
Outra empresa que tentou capitalizar utilizando o blockchain como apoio foi a Long Island Iced Tea Corp, que alterou o nome para Long Island Blockchain e viram as ações dispararem. Eles anunciaram um plano de compra de mil estações de mineração de criptomoedas, mas já desistiram.
O economista Robert Shiller, ganhador de um Prêmio Nobel, insiste que o Bitcoin uma hora terá um “colapso total”, mesmo que leve 100 anos. No momento, parece que a moeda chegará a esse colapso em menos tempo.
O pessoal que defende a tecnologia do blockchain e diz que o Bitcoin é uma farsa ainda tem suas esperanças. O blockchain é, sem dúvidas, uma tecnologia única, e muitas pessoas estão trabalhando em aplicações interessantes para ela. O problema é que as duas coisas andam quase de mãos dadas. Talvez consigam sair desse relacionamento co-dependente, mas pode ser complicado e levar um bom tempo.
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