Ainda poderemos ver o buraco na camada de ozônio se fechar, diz relatório da ONU
Quando o mundo todo se junta para cooperar, dá para resolver grandes problemas. O caso em questão é o buraco na camada de ozônio: se tudo sair como planejado, ele pode estar curado na década de 2060, de acordo com um novo relatório da Organização das Nações Unidas.
Segundo um documento, isso aconteceu graças a um tratado internacional firmado há décadas para banir compostos químicos que destroem o ozônio. Com isso, “uma destruição muito mais severa da camada de ozônio nas regiões polares foi evitada”. Ainda há trabalho a ser feito, mas isso, definitivamente, é uma boa notícia.
“Estamos em um ponto de virada”, diz Paul Newman, cientista que colabora com o Observatório da Camada de Ozônio da NASA e chefiou o relatório da ONU.
Esta é a quinta edição do relatório, que é publicado a cada quatro anos. Ele monitora um problema ambiental da década de 1980, cujos efeitos ainda são sentidos hoje. O buraco na camada de ozônio é causado por uma série de produtos químicos que eram comumente encontrados em latas de aerossol, aparelhos de ar-condicionado e refrigeradores, chamados clorofluorcarbonos e hidroclorofluorocarbonos.
Esses produtos químicos liberam cloro na estratosfera, que, por sua vez, pode desintegrar as moléculas de ozônio. Quando isso acontece, mais luz ultravioleta do sol chega à superfície da Terra, aumentando o risco de coisas ruins, como câncer de pele. O problema foi particularmente notável na Antártida, onde um buraco começou a se formar a cada primavera.
Os cientistas identificaram as substâncias químicas problemáticas, e os legisladores agiram de verdade em relação a esse assunto. O Protocolo de Montreal foi assinado em 1987. Após 30 anos, o buraco na camada de ozônio ainda é uma ocorrência anual. Mas o novo relatório se junta a um estudo de 2016 que mostra que o buraco vem se recuperando desde 2000. Se tudo correr conforme o planejado, os níveis de ozônio na região poderão retornar às condições pré-buraco dentro de 40 anos.
Em outras regiões, onde a destruição do ozônio tem sido menos severa, o retorno à normalidade pode vir ainda mais cedo. O Ártico e as latitudes médias do hemisfério norte poderiam chegar lá até a década de 2030, e as latitudes médias do hemisfério sul poderiam atingir os níveis de ozônio na década de 1980 em meados deste século.
Para cumprir essa linha do tempo de recuperação do ozônio, o mundo terá que continuar trabalhando para reduzir outros produtos químicos que empobrecem a camada e tomar cuidado para não atrapalhar o processo de recuperação. Há alguns sinais de alerta que vem sendo observados pelos cientistas.
O primeiro é um misterioso aumento no CFC-11, um produto químico que foi proibido pelo Protocolo de Montreal. Embora banido, uma pesquisa publicada no início deste ano mostrou que ele está aumentando desde 2012. A maioria dos sinais aponta para a China como a culpada pelas emissões ilícitas, e ela terá que ser parada se quisermos manter a recuperação nos trilhos.
Outro fator acontece na luta para conter o aquecimento global. O buraco na camada de ozônio e as alterações climáticas são, em geral, problemas separados, mas se sobrepõem um pouco. O efeito de aquecimento na baixa atmosfera associado ao aumento dos gases do efeito estufa também leva ao resfriamento na estratosfera, que fica a cerca de 10 a 20 quilômetros acima da superfície do planeta. Isso pode retardar o processo de destruição da camada de ozônio, o que poderia acelerar a recuperação em alguns locais.
Ao mesmo tempo, o relatório observa que o aumento do aquecimento devido aos gases do efeito estufa altera a circulação planetária na atmosfera. Isso pode levar a termos menos ozônio nos trópicos e mais no Ártico e nas latitudes médias. Então, reduzir as emissões de gases do efeito estufa — incluindo as produzidas por substitutos dos produtos químicos que destroem a camada de ozônio — ainda é, provavelmente, uma boa idéia.
A última questão talvez seja a mais perturbadora de todas, porque sabemos muito pouco sobre ela. O relatório levanta preocupações sobre o que aconteceria se o mundo ou mesmo um Estado vilão decidissem resfriar o planeta enviando pequenas partículas para a estratosfera. O processo, conhecido como geoengenharia, é cheio de potenciais consequências aqui embaixo e provavelmente também na estratosfera.
“O problema é que nosso nível de conhecimento dos níveis naturais de partículas na estratosfera não é tão alto”, disse Newman. “A geoengenharia representa um desafio pois desequilibraria os níveis naturais de partículas na estratosfera além de ter impacto sobre o ozônio.”
Portanto, é melhor nem começar com essa ideia. Em vez disso, vamos tentar remendar o buraco na camada de ozônio e tentar resolver o problema do aquecimento global daqui de baixo mesmo.