Seis meses depois do surgimento do buraco do Chile, a mineradora Ojos de Salgado já trabalha para tapar o sumidouro na região do Atacama, ao norte do país. Em seu site oficial, a empresa detalha, dia após dia, a medição e o processo de recuperação do buraco.
Nesta terça-feira (7), por exemplo, a abertura chega a 50 metros de diâmetro na parte mais deteriorada do solo. Na superfície, o buraco é de 42 metros de diâmetro, com profundidade de quase 200 metros abaixo da terra.
Em termos de comparação, ali dentro caberia uma estátua em tamanho real do Cristo Redentor (38m) e um Arco do Triunfo (50m) juntos, ou o prédio mais alto do Brasil, localizado em Balneário Camboriú (SC).
No final de janeiro, executivos da Lundin – empresa canadense responsável pela Ojos de Salgado – se encontraram com a ministra de Minas do Chile, Marcela Hernando, para informar sobre o andamento da obra.
A empresa divulgou o PIMA (Plano Integral da Mina de Alcaparrosa) em novembro, onde detalhou os seis pilares que vão ajudar na recuperação do buraco. São eles:
- enchimento do sumidouro
- vedação de infiltrações
- restituição de água
- reabertura da mina
- proteção das fontes de trabalho
- melhoria do ambiente social
No site, a companhia diz que começou a trabalhar ainda em setembro para conter a infiltração de água embaixo do buraco. Segundo a mineradora, a alta incidência de água subterrânea foi uma das principais responsáveis pela abertura.
Mas a fase atual é de estudos. A Alcaparrosa segue fechada e as demais já retornam à operação gradualmente. “A viabilidade de continuidade operacional no restante está sendo analisada”, diz a Ojos de Salgado. A empresa estima a conclusão da obra em 18 meses – ou seja, até a metade de 2024.
Como preencher o buraco do Chile
Em janeiro, o jornal chileno AS noticiou que o plano é encher o buraco de 36 metros de diâmetro com “as mesmas características do leito do rio” – o que se imagina ser água e terra.
Segundo o jornal, ali deverão ficar mais de 1,3 milhão de metros cúbicos de água que vêm do Rio Copiapó. A manta aquática está entre os mais afetados pelo excesso de extração mineral.
Em outubro, autoridades chilenas afirmaram que a mineradora modificou o sistema de drenagem das jazidas com a incorporação de piscinas subterrâneas para aumentar a extração. O excesso de água inundou outras minas e causou “danos irreparáveis” ao aquífero.
Briga na Justiça
Até hoje, as razões para o surgimento do buraco do Chile não foram esclarecidas. O sumidouro fica em Tierra Amarilla, município de 13 mil habitantes onde estão diversas jazidas de cobre.
O prefeito, Cristóbal Zuñiga, já disse que o buraco é uma consequência da exploração desenfreada no local. Enquanto isso, a investigação oficial das causas continua – e o embate não passou despercebido pela Justiça.
O governo do Chile multou a mineradora Ojos de Salgado pelo buraco e por danos ambientais na região. Segundo o ministério de Obras Públicas, a mineração danificou o Rio Copiapó, o que rendeu à empresa 120 milhões de pesos chilenos em indenização (quase R$ 700 mil no câmbio atual). Essa é a penalidade máxima do Código de Águas do país.
Além disso, as autoridades determinaram que a mineradora deverá apresentar um plano de monitoramento da quantidade e qualidade das águas do aquífero, além do plano para recuperar o buraco.
Outro processo acusa a mineradora na Suprema Corte do Chile. O INDH (Instituto Nacional de Direitos Humanos) pediu que os moradores da região recebessem informações sobre a ação judicial. Isso porque milhares de pessoas moram a apenas 500 metros do sumidouro.