Ciência

Caatinga pode perder mais de 90% das espécies de mamíferos até 2060

Estudo identificou que mudanças climáticas afetarão biodiversidade da Caatinga, especialmente espécies de mamíferos pequeno porte
Imagem: Wikimedia Commons/ Reprodução

Um novo estudo brasileiro publicado na revista Global Change Biology estimou que mais de 90% das espécies de mamíferos da Caatinga podem ser extintas como efeito das mudanças climáticas. As projeções se referem a um período até 2060, em cenários otimistas e pessimistas.

Entenda a pesquisa

Para compreender o efeito das mudanças climáticas na vida dos animais da Caatinga, pesquisadores da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), da UFPB (Universidade Federal da Paraíba) e da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) utilizaram modelos estatísticos.

Eles se basearam em projeções do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) sobre o aumento de temperatura no bioma durante os próximos anos. Atualmente, o painel projeta que até 2060 haverá um aumento de 2,7 °C nas regiões secas da América do Sul.

Assim, a estação seca se prolongará por até 21 dias consecutivos. Então, os cientistas cruzaram esses dados com informações de ocorrência de mamíferos terrestres na Caatinga. Embora eles já estejam adaptados a climas quentes e secos, a mudança irá ultrapassar a tolerância fisiológica das espécies ao clima.

Isso porque os animais levam milhares de anos para se adaptar a modificações tão fortes como essa. 

Ainda que os mamíferos consigam mudar seu comportamento rapidamente em busca de temperaturas mais amenas e água, a emergência de várias espécies em conjunto também aumenta a competição por esses recursos, o que afeta a sobrevivência.

Em geral, os modelos indicam que o clima no futuro será adequado apenas para algumas espécies. Por exemplo, tatus, cutias e veados – que são todos mamíferos de grande porte.

Os mais afetados

Em contrapartida, aproximadamente 12% dos animais perderão completamente seus habitats até 2060. Especialmente aqueles de porte pequeno, ou seja, que pesam menos de um quilo quando adultos.

De acordo com os pesquisadores, esse número foi projetado em um cenário otimista. 

“Este é o cenário mais otimista, que assume que a humanidade mantenha as promessas feitas no Acordo de Paris, reduza as emissões de gases de efeito estufa e diminua o ritmo do aquecimento global previsto para as décadas futuras”, disse Mário Ribeiro de Moura, autor do estudo.

Já em um cenário pessimista, aproximadamente 30% das espécies da Caatinga vão perder seus habitats até 2100. 

No total, 54%Pequenas espécies cujos adultos pesam menos de 1 kg, compreendendo 54% dos mamíferos da Caatinga, serão as mais afetadas. Doze espécies, ou 12,8% do total, perderão completamente seus habitats até 2060 no cenário mais otimista e 28 (30%) até 2100 no cenário mais pessimista.

De acordo com o estudo, os animais mais afetados serão o gambá Gracilinanus agilis e os ratos Rhipidomys mastacalis e Trinomys albispinus. Em geral, a região mais afetada pelas mudanças climáticas será zona de transição entre a Caatinga e a Mata Atlântica. 

Isso porque lá é a área onde há maior número de espécies vivendo, uma vez que tem níveis mais altos de umidade.

Perda de biodiversidade

Além da extinção de algumas espécies, as mudanças climáticas também podem afetar a biodiversidade por meio da homogeneização biótica. Ele consiste em um fenômeno em que animais anteriormente distintos se tornam progressivamente mais semelhantes.

De acordo com o estudo, isso acontecerá com cerca de 70% dos conjuntos de mamíferos. Na prática, a mudança ocasiona outras perdas, como por exemplo a dificuldade de dispersar sementes no bioma.

Dessa forma, o ecossistema como um todo se tornará menos resiliente. Por isso, os autores do estudo destacam a importância de implementar políticas socioambientais que contenham o avanço das mudanças climáticas e que fomentem a conservação das espécies.

Bárbara Giovani

Bárbara Giovani

Jornalista de ciência que também ama música e cinema. Já publicou na Agência Bori e participa do podcast Prato de Ciência.

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