Caça por marfim provoca o nascimento de elefantes sem presa
Elefantes africanos estão evoluindo para nascer sem presas como forma de fugir da caça furtiva.
Em um novo estudo publicado na revista científica Science, pesquisadores destacaram que a matança seletiva de espécies que carregam características anatômicas, como presas e chifres é a base de um multibilionário comércio de vida selvagem ilícito. E isso que representa uma ameaça imediata para a sobrevivência de uma megafauna ecologicamente importante para o mundo.
De acordo com os cientistas, a Guerra Civil de Moçambique, que durou de 1977 a 1992, serviu como o principal estímulo desta nova tendência evolutiva entre os elefantes africanos. O interesse no marfim para financiar seus armamentos de guerra, resultou no declínio das populações de elefantes. No Parque Nacional da Gorongosa, em Moçambique, a população de elefantes foi reduzida em cerca de 90%, segundo a pesquisa.
O grupo analisou pesquisas de campo históricas e realizou modelagem populacional. Eles conseguiram ligar a caça intensa à falta de presas em elefantes africanos fêmeas da região. Durante o período de 28 anos estudado (incluindo os 15 anos de Guerra Civil), a proporção de fêmeas sem presas aumentou cerca de 30%. O artigo também apontou que a proporção de elefantes sem presa tem diminuído desde o fim da guerra.
Como a pesquisa apontou para o sexo dos animais, os cientistas realizaram testes genéticos para encontrar a ligação exata na mutação. O resultado mostrou que a mutação em um gene específico, AMELX, pode determinar a perda das presas.
Como Shane Campbell-Staton, pesquisador da Universidade de Princeton e um dos autores do estudo, explicou em entrevista à New Scientist, as fêmeas carregam duas cópias do cromossomo X. Portanto, se uma das cópias não sofrer mutação, os genes que ela possui ainda funcionarão normalmente e o elefante continuará saudável. Já os machos têm apenas um cromossomo X. Então, essa mutação é letal para qualquer macho que a herde.
Além do motivo infortúnio da evolução, Campbell-Staton explica que isso pode ter impacto direto em como os elefantes vivem. “As presas são basicamente um canivete suíço para elefantes africanos”. Elas podem ser usadas para arrancar as cascas das árvores, cavar buracos para água subterrânea ou minerais e assim por diante.
Logo, essa perda pode poupar as fêmeas dos caçadores furtivos, mas torna mais difícil para que elas sobrevivam de outras maneiras. E mais do que isso, a biodiversidade também depende dessas presas. O pesquisador diz que muitos outros animais dependem indiretamente de elefantes com presas para, por exemplo, obter água de buracos cavados. “Existem todas essas consequências em cascata, que podem resultar de nossas ações, que são bastante surpreendentes.”