Ciência

Cápsulas de papelão com sementes de árvores nativas podem auxiliar na restauração ecológica do Cerrado

A taxa de germinação do baru com a cápsula se aproximou de 100%, enquanto na semeadura direta foi de apenas 15%

Texto: Agência Bori

Highlights

  • Pesquisa das universidades federais de Jataí e de Rondonópolis comparou o uso de cápsulas biodegradáveis com a semeadura direta do baru, do angico-branco e do tamboril
  • Para o baru, a taxa de germinação com a cápsula foi de 100%, contra apenas 15% na semeadura direta
  • A efetividade da cápsula para germinação ocorre pela retenção da umidade e pela proteção das sementes contra os herbívoros

O uso de cápsulas biodegradáveis, feitas a partir de papelão, aumenta as chances de germinação das sementes de três espécies de árvores típicas do Cerrado: baru, angico-branco e tamboril. Esse resultado, publicado em artigo da revista “Ciência Rural” nesta sexta (18) por pesquisadores das universidades federais de Jataí (UFJ), em Goiás, e de Rondonópolis (UFR), no Mato Grosso, pode trazer avanços para programas de restauração de áreas degradadas.

As espécies têm importância cultural, alimentar e ecológica no Cerrado. O baru produz a oleaginosa conhecida como castanha de baru, rica em nutrientes, e o angico-branco e o tamboril têm partes utilizadas em preparos terapêuticos, como infusões.

Os experimentos foram conduzidos ao longo de quatro meses em uma estufa do Centro Universitário de Mineiros, em Goiânia, com o objetivo de verificar as diferenças entre o uso de cápsulas e a semeadura direta. Em cada amostra, a equipe depositou duas sementes de cada espécie. No caso do baru, por exemplo, a taxa de germinação com a cápsula se aproximou de 100%, enquanto na semeadura direta foi de apenas 15%. O mesmo ocorreu com o angico-branco, cuja taxa com a proteção foi de 42% em comparação aos 21% da semeadura direta, e com o tamboril, que registrou taxa de 12% versus 8%.

O artigo explica que a cápsula, desenvolvida a partir de papelão utilizado como embalagem de ovos, garante proteção das sementes no solo contra animais herbívoros. A cápsula também aumenta a retenção de umidade, garantindo conforto térmico às sementes. A semeadura direta só pode ser bem-sucedida quando diferentes fatores, como o uso de tecnologias e práticas agrícolas adequadas, melhoram a germinação das sementes, explica Karine Lopes, doutora em Geografia pela UFJ e uma das autoras do artigo.

Segundo a autora, a tecnologia descrita pelo artigo é de baixo custo e sustentável, com potencial impactar significativamente os esforços para a restauração de áreas degradadas. “Essa inovação pode influenciar políticas públicas de conservação e contribuir para a produção de conhecimento científico”, conta Lopes.

A pesquisa também traz novidade ao integrar o uso de cápsulas biodegradáveis com a tecnologia de drones para monitoramento da recuperação ambiental, de acordo com Lopes. “Atualmente, não existe nenhum material equivalente disponível, o que coloca essa pesquisa na vanguarda das soluções sustentáveis para restauração ecológica”, aponta a pesquisadora.

Como próximos passos, os pesquisadores pretendem avaliar o crescimento e a sobrevivência das plantas recém-germinadas em campo, além de realizar uma análise detalhada dos custos financeiros envolvidos. Eles também pretendem implementar a metodologia em áreas de difícil acesso para monitorar o crescimento das plantas e avaliar a eficácia do processo em outras condições ambientais. De acordo com Lopes, isso será essencial para ajustar e aprimorar a aplicação da tecnologia em diferentes cenários.

DOI: https://doi.org/10.1590/0103-8478cr20220664

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