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Carrapato africano resistiu 27 anos em laboratório – 8 deles sem comer

Carrapatos Argas brumpti são sobreviventes: além de ficarem sem comer por anos, fêmeas botam ovos anos após a morte dos machos. É o que prova este estudo, que analisou a espécie por 45 anos

Carrapato

Imagem: Erik Karits/Unsplash/Reprodução

Imagine ganhar um carrapato de presente. Pois é, artrópodes desse tipo estão longe de ser o sonho de consumo de qualquer pessoa — mas parecem ser uma boa pedida para quem faz ciência.

Julian Shepherd, professor da Universidade de Binghamton, nos EUA, tirou grande proveito desse presente. Em 1976, o cientista recebeu seis fêmeas adultas, quatro machos adultos e três ninfas (fase anterior à adulta) da espécie Argas brumpti.

A espécie costuma ser encontrada em áreas rochosas da África Oriental, onde se alimenta de mamíferos e lagartos. Mas Shepherd aproveitou a oportunidade para observá-la num ambiente controlado, em laboratório. 

Até 1984, Shepherd alimentou os carrapatos com coelhos, camundongos e ratos de laboratório. Mas a fonte secou e o pesquisador parou de nutrir os artrópodes. 

Passaram-se quatro anos até que todos os carrapatos machos morressem devido a falta de comida. As fêmeas foram mais resistentes e sobreviveram por mais quatro anos. Depois disso, os animais voltaram a ser alimentados – e alguns deles chegaram a viver até 2003, falecendo aos 27 anos.

Mas não foi só a longevidade e a capacidade de se adaptar à falta de alimentos que chamou a atenção de Shepherd. O último carrapato macho morreu em 1988, mas mesmo assim uma das fêmeas pôs ovos entre 1992 e 1995 e gerou descendentes. 

A reprodução assexuada é rara para a espécie. Por conta disso, o pesquisador sugere que as fêmeas foram capazes de armazenar esperma a longo prazo. O novo lote de carrapatos contava com machos e fêmeas, alguns que estão vivos até hoje. 

Shepherd acompanhou os parasitas por 45 anos, mas chegou a hora de se separar. Agora, os carrapatos sobreviventes serão enviados para estudo na África do Sul. De toda forma, as observações feitas pelo cientista americano ficarão para sempre registradas neste estudo publicado no Journal of Medical Entomology.

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