Passar mais de um ano na desolação da Antártica pode mudar o seu cérebro para pior, de acordo com uma nova pesquisa realizada este mês. Ela parece mostrar que os exploradores polares que viveram por 14 meses em uma estação de pesquisa da Antártica sofreram encolhimento cerebral, provavelmente como resultado de seu isolamento e tédio. Mas os efeitos sobre sua saúde e cognição reais foram leves e provavelmente temporários.
Os autores do estudo usaram a ressonância magnética para escanear os cérebros de oito membros de uma equipe de expedição antes que eles passassem uma longa estadia na estação de pesquisa alemã Neumayer III. Durante sua missão, a equipe periodicamente fazia testes de cognição e memória e fornecia amostras de sangue que permitiam aos autores do estudo medir seus níveis de uma proteína importante para a saúde do cérebro, chamada fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF). Quando eles retornaram à civilização, eles tiveram seus cérebros escaneados novamente.
Quando comparados aos seus próprios resultados pré-expedição e a um grupo de voluntários com idade e sexo iguais, o cérebro dos exploradores parecia ter menos massa cinzenta, em média, após a viagem. O encolhimento foi mais aparente no hipocampo, uma área do cérebro essencial para a memória e a cognição. Os níveis médios de BDNF também caíram durante a viagem e não melhoraram significativamente, mesmo um mês e meio após terem retornado.
As descobertas do estudo, publicado na New England of Medicine, não são as primeiras a sugerir que longos períodos de isolamento podem mudar o cérebro. Mas praticamente todos os estudos envolveram animais, segundo os pesquisadores.
Dadas as condições severas e implacáveis da expedição, como viver e trabalhar em um único local ao lado de apenas um pequeno grupo de pessoas, é provável que a viagem tenha alterado a plasticidade do hipocampo, o que significa sua capacidade de fazer novas conexões neurais, disseram os autores. Outro culpado pelo encolhimento cerebral pode ter envolvido o que os pesquisadores chamam de “monotonia ambiental” – o tédio que surgiria de olhar para fora e não ver nada além de pura neve branca dia após dia.
Obviamente, um estudo com oito pessoas é incrivelmente pequeno, portanto qualquer uma de suas conclusões deve ser encarada com cautela. E os autores não estão afirmando que esses pesquisadores foram irrevogavelmente danificados por sua experiência. Durante a viagem, por exemplo, eles tiveram um desempenho um pouco pior nos testes de raciocínio espacial e atenção seletiva, mas não em outros aspectos de cognição.
O autor Alexander C. Stahn, agora pesquisador da Faculdade de Medicina Perelman da Universidade da Pensilvânia, disse ao Science News que os efeitos do hipocampo são provavelmente temporários, desde que os cientistas voltem a uma vida cheia de interações sociais e coisas interessantes para ver.
Ainda assim, considerando que as pessoas continuarão viajando de e para a Antártica por longos períodos de tempo, vale a pena ter em mente as descobertas e explorá-las ainda mais. Elas podem se mostrar relevantes até mesmo para as poucas pessoas que poderão viajar até Marte no futuro, talvez a única missão científica semelhante, de meses de duração, que envolveria um isolamento ainda maior.