O lançamento do foguete Tianlong-2, em abril, marcou a história espacial da China: foi a primeira espaçonave movida a querosene produzido a partir do carvão.
De modo geral, os foguetes usam um combustível específico e querosene tradicional. Os dois só podem ser refinados a partir de petróleo de alta qualidade em um complexo processo de extração. Mas, no caso do Tianlong-2, a extração do querosene veio da liquefação do carvão.
A solução é interessante para a China. O país tem reservas limitadas de petróleo e a dificuldade de acesso à matéria-prima desacelera a produção de combustível espacial. Ao mesmo tempo, é o maior produtor de carvão do mundo.
Por isso, Pequim apoiou anos de estudo e experimentos em agências estatais e privadas para o desenvolvimento do querosene de carvão. Durante o processo, os cientistas identificaram que o produto tem propriedades parecidas com o querosene de aviação que deriva do petróleo.
“Devido à composição especial e às propriedades físicas e químicas do querosene aeroespacial derivado do petróleo, não encontramos uma fonte de petróleo adequada por muito tempo”, disse Du Zonggang, um dos pesquisadores, ao jornal South China Morning Post.
O foguete Tianlong-2 subiu à órbita da Terra em 2 de abril de 2023. A bordo, levou um pequeno satélite para uma órbita sincronizada com o Sol, onde testará suas capacidades de sensoriamento remoto. Foi desenvolvido pela startup chinesa Space Pioneer. Imagem: Space Pioneer/Divulgação
China autossuficiente
A descoberta e o sucesso no lançamento do foguete movido a carvão abrem caminho para um salto na indústria espacial da China. O 165º Instituto de Pesquisa da CASC (agência estatal espacial chinesa) já anunciou uma linha de produção do querosene à base de carvão.
Segundo Fu Quanjun, vice-diretor do órgão, a China deve aumentar a produção anual de 5 mil para 30 mil toneladas até 2025. Na comparação, 5 mil toneladas do querosene de carvão fornecem energia a 30 voos.
“O sucesso desta pesquisa amplia a fonte de abastecimento de combustível para a indústria aeroespacial da China, garante a segurança energética nacional e estabelece uma base sólida para o lançamento da nova geração de foguetes porta-aviões da China”, disse o China Space News, site oficial da CASC, na terça-feira (23).
O foguete Tianlong-2 tem motor YF-102, desenvolvido pela 6ª Academia de Ciência e Tecnologia Aeroespacial da China. Outras espaçonaves, como o Long March 5, Long March 6 e Long March 7, também usam motores desta série, o que significa que o querosene à base de carvão funciona igualmente nesses veículos.