O New York Times publicou ontem uma matéria preocupante. O texto afirma que o presidente Trump usa iPhones comuns, diretamente das lojas, sem nenhum tipo de proteção, para conversar com amigos. Por isso, tanto espiões russos quanto chineses estão ouvindo seus telefonemas para descobrir como manipulá-lo. Mas a China gostaria que o presidente americano soubesse que, se ele está preocupado com a segurança, ele sempre pode mudar para a Huawei.
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“Se eles estão muito preocupados com os iPhones sendo usados, eles podem usar a Huawei”, disse a porta-voz da China, Hua Chunying, segundo um pesquisador do Washington Post.
O comentário talvez seja a trollada mais magistral da era da Nova Guerra Fria, especialmente considerando os muitos alertas do Congresso dos EUA de que os dispositivos da Huawei não são seguros e que a empresa é manipulada pelo governo chinês. A varejista Best Buy parou de vender aparelhos da marca, já que muitos na comunidade de inteligência dos EUA consideram a fabricante uma ameaça à segurança nacional.
As autoridades chinesas negaram que o país esteja espionando os telefones de Trump e até usaram a frase favorita do presidente, chamando as alegações de “fake news“.
A falta de proteção às informações do presidente se tornou um grande problema, e a matéria de ontem no Times ilustra como a China está usando amigos de amigos dele para manipular suas políticas. Ao ouvir seus telefonemas, os espiões chineses são capazes de determinar que tipo de métodos de persuasão funcionam ou não com o presidente.
As autoridades disseram que também descobriram que a China está tentando usar o que está aprendendo com as ligações – como pensa Trump, que argumentos tendem a influenciá-lo e a quem ele está inclinado a ouvir – para evitar que a guerra comercial com os Estados Unidos escale ainda mais. No que equivale a um casamento entre lobby e espionagem, os chineses reuniram uma lista das pessoas com quem o Sr. Trump fala regularmente na esperança de usá-las para influenciar o presidente, disseram os oficiais.
Entre os que constam da lista estão Stephen A. Schwarzman, executivo-chefe do Blackstone Group, que financiou um programa de mestrado na Universidade de Tsinghua, em Pequim, e Steve Wynn, ex-magnata de cassinos de Las Vegas, que possuía uma lucrativa propriedade em Macau.
O presidente até perdeu seu telefone no campo de golfe, segundo o New York Times.
No ano passado, o celular de Trump foi deixado para trás em um carrinho de golfe em seu clube em Bedminster, N.J., causando uma corrida para localizá-lo, de acordo com duas pessoas familiarizadas com o que aconteceu.
O Sr. Trump deveria trocar seus dois telefones oficiais a cada 30 dias por novos, mas raramente o faz, irritando-se com o inconveniente.
Trump, como era esperado, negou as informações da matéria no Twitter de um jeito bem Trump.
The so-called experts on Trump over at the New York Times wrote a long and boring article on my cellphone usage that is so incorrect I do not have time here to correct it. I only use Government Phones, and have only one seldom used government cell phone. Story is soooo wrong!
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) 25 de outubro de 2018
Tradução: Os chamados especialistas em Trump do New York Times escreveram um artigo longo e chato sobre meu uso de celular que é tão incorreto que não tenho tempo aqui para corrigi-lo. Eu só uso telefones do governo, e tenho apenas um, que raramente é usado. A história é muuuuito errada!
Em outro tuíte, ele diz usar raramente o celular. O post foi escrito no app do Twitter para iPhone.
Screenshot: Gizmodo
O então candidato Trump criticava frequentemente Hillary Clinton por sua falta de cuidado com a segurança durante a eleição presidencial de 2016. E até hoje seus comícios incluem cantos de “lock her up” (prendam-na) para os crimes não especificados de Clinton. Então, a notícia de que ele está literalmente esquecendo o celular no campo de golfe é particularmente irônica.
Enquanto a Nova Guerra Fria se agita, podemos esperar mais brincadeiras sarcásticas entre empresas americanas e chinesas. E também podemos esperar que o presidente Trump continue praticando operações terríveis. Um cão velho não aprende novos truques, especialmente quando esse cão nasceu cheio da grana e nunca ouve a palavra “não”.
O presidente não está na votação nas eleições de novembro de 2018, que elegem novos representantes para o Congresso, mas, sem dúvida, elas servirão para sinalizar um apoio (ou não) às atuais políticas de Trump.
Imagem do topo: Getty