Ciência

Cientista chinês que revelou genoma da Covid-19 é expulso de laboratório

Veja as versões da polêmica com Zhang Yongzhen, virologista que revelou genoma da Covid-19 e que até dormiu na porta do trabalho na China
Imagem: Wikimedia Commons/ Reprodução

Nas últimas semanas, fotos do virologista chinês Zhang Yongzhen dormindo ao lado de fora do seu laboratório de pesquisa foram divulgadas nas redes sociais. As imagens chocaram porque ele foi a primeira pessoa a divulgar publicamente a sequência do genoma do SARS-CoV-2, vírus que causa a Covid-19.

Para isso, publicou seu estudo com o pesquisador em um fórum de discussão chamado Virological. Esse movimento dos cientistas permitiu o rápido desenvolvimento de vacinas contra a doença. 

Por todo seu trabalho, Yongzhen ficou famoso e foi reconhecido internacionalmente. Em 2020, entrou como destaque na lista Nature’s 10. Já em 2022, ele recebeu o Prêmio Mohammed bin Rashid Al Maktoum para o Conhecimento, com uma bolsa de estudos de US$1 milhão (aproximadamente R$5,1 milhões, em conversão direta).

Dessa forma, ao vê-lo acampando do lado de fora de seu laboratório, no SPHCC (Centro Clínico de Saúde Pública de Xangai, na sigla em inglês), uma polêmica se iniciou. De acordo com o pesquisador, ele foi expulso de seu local de trabalho pela Universidade Fudan, onde fica o centro.

Entenda o caso do virologista

Yongzhen é um virologista que pesquisa patógenos, ou seja, aqueles vírus que são capazes de causar doenças. Dessa forma, trabalha em laboratório de biossegurança de nível 3, que contém equipamentos e exige cuidados específicos para que os microrganismos estudados não prejudiquem os pesquisadores e nem extrapolem o ambiente laboratorial.

Segundo o cientista disse à Nature, o SPHCC deu a ele e sua equipe apenas dois dias para deixar o laboratório. O centro declarou que o local precisava de reforma e que ofereceu aos pesquisadores um espaço alternativo.

Contudo, Yongzhen afirma que o SPHCC não especificou inicialmente para onde eles deveriam se mudar. Apenas depois designaram um laboratório – que não tinha condições para abrigar uma pesquisa que exige biossegurança de nível 3.

Enquanto a situação não se resolvia, Yongzhen dormiu ao relento, sob sol ou chuva, em frente ao laboratório onde estavam os vírus que estudava. Agora, uma outra pesquisadora de sua equipe, Chen Yanmei, afirmou à Nature que os experimentos feitos no local são “impossíveis de salvar”.

Ainda não se sabe ao certo o motivo da confusão. Enquanto o SPHCC alega a reforma, há outras duas possibilidades. A primeira, apresentada por Edward Holmes, co-autor do estudo que desvendou o genoma do SARS-CoV-2, diz que o ocorrido é uma retaliação da instituição ao fato de Yongzhen ter compartilhado dados não autorizados.

A segunda, apresentada por um médico que chefia o SPHCC, diz que o contrato de Yongzhen havia expirado, mas ele se recusou a sair do laboratório. Sobre isso, o cientista respondeu em suas redes sociais que, embora seu próprio contrato com o SPHCC tenha formalmente expirado em 2023, membros de sua equipe renovaram seus contratos com o hospital. Além disso, o laboratório ainda receberia financiamento para a pesquisa.

Desfecho para cientista que revelou genoma da Covid-19?

Nos últimos dias, a situação parece ter se normalizado. Em suas redes sociais, mas só na noite de terça-feira, Yongzhen anunciou ele e o SPHCC entraram em um acordo provisório. Devem agora retomar as pesquisas do laboratório.

Bárbara Giovani

Bárbara Giovani

Jornalista de ciência que também ama música e cinema. Já publicou na Agência Bori e participa do podcast Prato de Ciência.

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