Ciência

Cientista quer congelar tecido do ovário para atrasar menopausa

Segundo Kutluk Oktay, especialista que conduz o estudo, é possível adiar menopausa ao retirar, congelar e reimplantar tecido do ovário; entenda
Imagem: Sora Shimazaki/ Pexels/ Reprodução

Pela primeira vez na história médica, pesquisadores acreditam que podem adiar e até mesmo evitar completamente a menopausa. E, para isso, eles combinaram procedimentos de congelamento de tecido do ovário, reimplantação dessas células e modelos matemáticos.

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Embora promissora, a ideia ainda é recente e necessita de maior embasamento científico. Além disso, também levanta controvérsias entre pesquisadores.

Congelamento do tecido ovariano

O procedimento para transplantar tecido de ovário congelado de volta a uma paciente foi criado e executado pela primeira vez pelo médico Kutluk Oktay, em 1999.

Desde então, a técnica é usada com sucesso em pacientes com câncer, a fim de preservar sua fertilidade, uma vez que os tratamentos da doença podem danificar permanentemente a reserva de óvulos de uma mulher. 

Em geral, o procedimento inclui três etapas. A primeira é a de retirada do tecido do ovário, que acontece laparoscopicamente, ou seja, que não exige grandes cortes em cirurgia. Nesta etapa um cirurgião remove camadas da porção externa do ovário. 

Ali, estão centenas de milhares de óvulos dormentes e imaturos, também conhecidos como folículos primordiais. Na segunda etapa, esse material é armazenado em recipientes selados e, então, congelados. 

Para isso, há um processo específico, em que o tecido é mantido a até -160°C. Dessa forma, ele se preserva e pode ser usado posteriormente. Por fim, a terceira e última etapa consiste no momento em que o cirurgião reimplanta o tecido descongelado na paciente. 

Em média, o tecido leva de três a dez dias após o procedimento para retomar as conexões com os vasos sanguíneos do ovário. Além disso, sua função se restaura em cerca de três meses.

Entenda a nova pesquisa

Para calcular a efetividade do método em frear a menopausa, Oktay e outros pesquisadores analisaram dados de centenas de procedimentos de congelamento, de transplantes de ovário anteriores e de estudos moleculares sobre os óvulos.

A partir disso, eles construíram um novo modelo matemático, publicado no American Journal of Obstetrics & Gynecology. O modelo consegue analisar quatro aspectos. O primeiro é a previsão de quando tempo a cirurgia poderia potencialmente adiar a menopausa de uma mulher.

O modelo também oferece insights sobre a quantidade ideal de tecido ovariano a ser coletada. Isso é importante porque quanto mais tecido um cirurgião remove, por mais tempo a menopausa pode ser adiada.

Ainda assim, é preciso cuidado, pois retirar tecido demais pode levar à menopausa precoce. Em complemento, o modelo matemático também leva em consideração o processo de cicatrização, durante o qual alguns folículos são perdidos.

Além disso, o modelo matemático também pode demonstrar que há uma maneira de adiar ainda mais a menopausa com o mesmo método. As análises indicaram que fazer o transplante do tecido de volta ao ovário em porção atrasa mais a menopausa que retornar todo o tecido por meio de uma única cirurgia.

Dessa forma, Oktay prevê que o congelamento de tecido do ovário pode adiar substancialmente a menopausa da maioria das mulheres com menos de 40 anos. No caso daquelas com menos de 30, o procedimento poderia e evitar a menopausa por completo.

Por que adiar a menopausa?

Alguns estudos mostram que, após a menopausa, as mulheres tendem a ter risco aumentado para doenças cardiovasculares, demência, doenças da retina, depressão e perda óssea. 

Dessa forma, os pesquisadores do novo método alegam que atrasar esse momento pode fazer uma mulher viver mais. Contudo, o procedimento é novo e pesquisas adicionais são necessárias para determinar os benefícios e riscos a longo prazo.

Também há mulheres que optam pelo congelamento de tecido do ovário para preservar a possibilidade de engravidar no futuro.

Contudo, há também cientistas que defendem que a menopausa é uma fase da vida impulsionada biologicamente, ou seja, natural. Dessa forma, acreditam que ela não deve ser tratada como uma doença, na tentativa de ser “curada”.

Bárbara Giovani

Bárbara Giovani

Jornalista de ciência que também ama música e cinema. Já publicou na Agência Bori e participa do podcast Prato de Ciência.

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