Orcas na menopausa: por que são vitais na sequência da espécie

Chamadas baleias assassinas, elas protegem seus filhotes machos em conflitos com outras baleias; isso é essencial para perpetuar seus genes
Orcas na menopausa: por que são vitais na sequência da espécie
Imagem: Nitesh Jain/ Unsplash/ Reprodução

Durante a observação de grupos de orcas do Pacífico Sul, pesquisadores da Universidade de Exeter perceberam que as orcas machos tinham mais marcas de dentes em sua pele do que as fêmeas. No entanto, algumas ainda apresentavam menos ferimentos do que outras. 

Como as orcas não têm predadores além dos humanos, as feridas geralmente são um sinal de ataques por outra baleia – seja durante uma brincadeira ou em algo mais sério. Os cientistas passaram, então, a observar os padrões de agressão nestes grupos.

Em 2012, um estudo já havia constatado que somente a presença de orcas fêmeas mais velhas já bastava para aumentar drasticamente a sobrevivência de seus filhotes machos. Mas, agora, os pesquisadores de Exeter queriam compreender de que maneira a organização social entre estas baleias influencia a questão.

Após a análise de 50 anos de registros sobre as relações das orcas dentro de cada grupo, eles encontraram um padrão. Orcas machos tinham menos marcas de dentes se suas mães estivessem vivas e no período pós-menopausa.

Enquanto isso, aqueles que eram órfãos ou que viviam com mães ainda em idade reprodutiva já apresentavam mais ferimentos. As filhotes fêmeas também não recebiam a proteção da mãe. A nova descoberta foi publicada na revista científica Current Biology

“O que foi realmente marcante foi o quão direcionado era esse apoio”, comenta Charli Grimes, principal autora do estudo. Ela revela que, se as fêmeas na menopausa não eram suas mães, as orcas machos não apresentavam menos lesões. “Isso sugere que as baleias na menopausa não estão moderando o comportamento de todo o seu grupo, mas estão direcionando comportamento protetor para seus filhos”, explica Grimes, ao Giz Brasil.

De olho na perpetuação da espécie

A descoberta pode ajudar a explicar o motivo das orcas viverem por tanto tempo após o período reprodutivo — às vezes, mais de 20 anos. Uma vida tão longa além da menopausa só é comum em humanos e algumas outras espécies de baleias.

Passar recursos de sobrevivência é um mecanismo chave pelo qual as baleias ajudam seus filhotes. Geralmente, isso é feito quando elas compartilham alimentos e ensinam onde encontrá-los.   

“Aqui, fornecemos a primeira evidência de que as orcas na menopausa também beneficiam seus descendentes masculinos ao reduzirem seus ferimentos”, explicam os pesquisadores no artigo.

E por que o apoio é direcionado aos filhos em vez das filhas? 

Quando uma orca fêmea se reproduz, o filhote é criado dentro do grupo em que ela vive, o que é custoso para o grupo local. Já quando uma orca macho se reproduz, outro grupo assume os cuidados de criar o filhote.

Ao priorizar seus filhos, uma orca pode transmitir seus genes sem sacrificar tantos os recursos de sobrevivência do seu próprio grupo.

O grupo de pesquisadores vai continuar analisando as marcas de lesões na população de orcas, mas agora quer testar o uso de drones para observar o comportamento diretamente. “80% dos comportamentos agressivos ocorrem abaixo da superfície do oceano, então essa é uma forma não invasiva de visualizar o contexto no qual essas lesões estão ocorrendo”, afirma Grimes.

A ideia é observar quem está iniciando o conflito e compreender melhor de que forma as orcas mães estão ajudando a evitar isso.

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Bárbara Giovani

Bárbara Giovani

Jornalista de ciência que também ama música e cinema. Já publicou na Agência Bori e participa do podcast Prato de Ciência.

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